Anotações sobre as ações de Mario de Andrade e as questões patrimoniais no Brasil
Num trabalho como este, relatar
apenas o que fora solicitado pelo professor solicitante é quase um problema.
Problema este que traz boas novas pois, restringir-se ao capítulo pedido
torna-se uma tarefa árdua e dolorosa, difícil e ao mesmo tempo intrigante. Como
é sabido, falar do capítulo de outrem é deveras inconveniente, e seguramente
insensato, assim, muito dificultosamente, atemo-nos ao nosso capitulo proposto,
fazendo, obviamente, incursões destemidas pela introdução do célebre livro que
tantas revelações acerca do ideário historicamente construído da proteção
patrimonial nos trouxeram.
Os modernistas e Minas Gerais
A criação do Sphan: As iniciativas precursoras.
A institucionalização da proteção do patrimônio
O anteprojeto de Mário de Andrade e o decreto-lei nº 25
O programa de trabalho do Sphan
FONSECA,
Maria Cecília Londres. O Patrimônio em Processo: trajetória da política
federal de preservação no Brasil. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; MinC
- Iphan, 2005.
A
autora Maria Cecília de Londres Fonseca nos trará, a partir desta reedição, um
forte melhoramento - se é que é possível - que é um somatório das contribuições
em geral, e segundo a autora, o livro visa cobrir os anseios não apenas dos
pesquisadores acadêmicos, mas sobretudo, de todos aqueles que desejem obter
conhecimentos acerca do tópico abordado, desfazendo uma possível interpretação tangente
ou contingente de seus ávidos leitores que potencialmente pretendem lê-lo.
Ainda
detidos numa análise de suas considerações iniciais, a autora virá a expor o
compromisso de sua obra com as discussões que tratarão dos conceitos mais
amplos e atualizados, partindo, naturalmente, de uma perspectiva histórica, que
tratarão de abordar o valor da cultura imaterial, enquanto patrimônio, do
patrimônio natural também chamado de "paisagem cultural", da proteção
e aplicabilidade de normas a estes e ainda, das concepções propostas e
idealizadas por todos os lados do Brasil por uma série de nomes que fomentaram
e transformaram as realidades patrimoniais em nosso país como o Aloísio
Magalhães que visavam formalizar o ato de preservar através do registro como principal
veio de proteção. A autora ainda apresenta o quão emergencial é a necessidade
de políticas de proteção patrimonial no âmbito nacional e internacional e como
o decreto-lei nº 3.551/2000 marca este progresso de conscientização causal.
Dará,
a autora Fonseca, uma forte reafirmação à importância dos incentivos da
iniciativa privada com o BID através do Monumenta, que tanto favoreceu nosso Pelourinho
de Salvador, da massiva intervenção do Iphan e Resgate propiciando acesso às
fontes históricas e estruturação primária que possibilita a preservação. E por
fim, para instigar e convidar a leitura, a autora nos fará lembrar da principal
corrente historiográfica que romperá com as ideias dominantes da escola
metódica, dita positivista, a escola de Annales,
trazendo os fatos interdisciplinares e suas discussões de consideração da
realidade biológica com o CDB e a UNESCO, lembrando-nos das inúmeras perdas em
sentido cultural lato sensu.
Introdução
É
impossível começar por outro lugar, pois, aqui, nesta introdução, a autora
tratará de deixar claro como ela irá conceituar, abordar, organizar e
distribuir suas ideias, do ponto de vista organizacional. Percebe-se amplamente
seus aportes metodológicos e teóricos, sua tendência revisionista e
comparatista, ela expõe nitidamente seus objetivos, problemas, hipóteses e
justificativas, tornando assim, a compreensão mais objetiva para quem a lê.
Associando
a "constituição de patrimônios históricos e artísticos nacionais"
(FONSECA, 2005, p. 21), a autora
partirá, como supramencionado, para apresentar-nos ao que ela entende por
patrimônio histórico e como devem ser protegidos e como estes foram tratados
através dos vários processos de legitimação do processo de sua proteção. Trata
ainda de abordar e apontar, como o patrimônio histórico e sua disposição no
tempo e espaço, passa por um tratamento de interesse político e tomará uma
representatividade. A autora focará sua principal função teleológica em sua
discussão que será: fortalecer a "identidade coletiva, a educação e a
formação de cidadãos" (FONSECA, 2005, p.
21). Aqui, nos parece que o ponto de partida é a questão do valor
simbólico adquirido pelo patrimônio e sua importância de caráter utilitarista
enquanto aparelho agregador da nação, tal utilitarismo, serve como verve
política como veremos a frente.
Ainda fazendo
apresentação conteudista, Fonseca focará a tendência incontestável da
importância da difusão do valor patrimonial para os diversos fins, como é o
caso do barroco no Brasil, encontrado nos conjuntos históricos e o papel tomado
pelo Iphan nesta empresa de propagação da consciência protetora patrimonial
mais generalizada.
A
descrição do conceito de "poder simbólico" nos faz entender a
magnitude do alcance e forte apelo do símbolo não apenas para seus conclamantes
– intelectuais que a partir de suas impressões disciplinares farão o processo
de legitimação patrimonial – mas,
sobretudo, para o público alvo desta conclamação do patrimônio enquanto símbolo
provedor de identidade nacional. Cecília Fonseca ainda se envereda na ação de
expor os processos de transformação do objeto a ser tido como simbólico que
seguem, praticamente, um perfil predeterminado pela ótica destes intelectuais,
e demonstra como este processo é ambíguo do ponto de vista intrínseco e prático,
pois, estes refletem, as visões de mundo e expectativas destes doutos e
intelectuais e não o de uma unanimidade de fato, que possa assim, ser vista
como popular e coletiva que deveriam ser consideradas a priori.
Este
comportamento elitista de defesa patrimonial, que confere a produção de uma
política de preservação uma interpretação das elites acerca destes ditos
patrimônios, passa a ser duramente
criticado a partir da década de 70. Tal crítica parte de outra corrente
intelectual e científica, outrora alijada destas discussões e debates por uma
modelagem tradicionalista. Agora, "especialistas em ciências
físico-matemáticas e sociais, administradores, pessoas ligadas ao mundo
industrial" (FONSECA, 2005, p. 23)
irão de fato "definir novos valores e novos interesses" (Id, Ibidem)
para a apropriação da cultura enquanto fomentadora de ideologias através do
patrimônio dito "público", com vistas a se preservar e desenvolver
como representantes da cultura popular. Dito isto, vale a pena retratar o que
diz Bourdieu acerca das correntes opositoras na construção das políticas de
preservação e proteção patrimoniais:
"pressupõe um acordo entre os antagonistas sobre o que merece ser
objeto de luta"[1],
tal antagonismo se resume nos embates do Sphan e CNRC que não consentiam em
nada, contudo, perceber neste período um predomínio quase que hegemônico das
resoluções do Sphan em todas as práticas relacionadas à proteção – tombamentos,
registros et cetera – implica em algo
a se observar mais de perto.
Pelo
visto, neste período de disputas e instabilidade intelectual e a pluralidade
socioeconômica surgem como problemas e são agravados pela multiplicidade dos
contextos culturais disponíveis na realidade sociológica do país. Justamente em
virtude destas diferenças sociais, culturais, econômicas e de acesso as
práticas políticas – deve-se aqui considerar este último segmento – é que,
muito do discutido, legitimado e propagado por estes intelectuais, "sequer
faz sentido para alguns grupos da sociedade nacional" (FONSECA, 2005,
p. 24). Daqui por diante a autora trará
uma discussão bastante enriquecedora de como fora encarado o trabalho de
desenvolver/estimular/defender o interesse das classes das camadas populares
nos quesitos culturais por parte dos homens “ditos” de cultura. Apresentará a
autora, como é que a corrente de intelectuais modernistas vão contornar as
divergências em meio a um governo ditatorial e autoritário, traduzindo seus
serviços em prol da cultura, – prioritariamente intelectual – como serviço de interesse público.
Nesta
disputa de intelectuais que se antagonizam, é notório que aqueles que traziam
uma proposta muito discrepante da já normalmente conhecida fossem vistos com certa
reserva por parte dos caciques da alta esfera de poder, que neste momento
específico, – décadas de 70 e 80 – viam os abalos causados pelas novas
tendências da ideologia social e popular reestruturadas, do qual estes outros
intelectuais – que se opunham a visão tradicionalmente elitista dos processos
de preservação, proteção patrimonial e cultural – se punham como defensores e
transmissores de seu ideário. Exatamente neste ponto, a autora nos revela qual
é o principal motivo destas discussões sobre os pormenores políticos
institucionais e extrainstitucionais que, por sua vez, trazem também suas
inquietações, e objetivos explícitos ao produzir tal reflexão: ela propõe que nestas
décadas a ideia "no nível federal foi no sentido de ampliar a noção de
patrimônio e de estimular a participação social, propondo uma relação de colaboração entre Estado e sociedade."[2]
(FONSECA, 2005, p. 25)
A
autora demonstrará que se percebe, neste contexto, uma pouca ênfase política
dada às questões culturais, e que entre as diversas obras, objetos, conjuntos
arquitetônicos etc., não se encontram nenhum elemento cultural definitivamente
consensual. Estes aparecem funcionando, como já dito em outra oportunidade,
como símbolos meramente abstratos e alijados da compreensão mais ampla e,
sobretudo, da consideração da nação que deveria encontrar em pelo menos um
destes sua identidade cultural. No entanto, tais procedimentos engendram uma
imagem positiva do Brasil no exterior por sua iniciativa de preservação
patrimonial, ao menos em meios intelectuais. Naturalmente, temos correntes que
além de contrárias, como já visto também, vão se objetar, a fortiori, às proposições destes monumentos registrados e tombados
por causas antes particulares que por causas do interesse coletivo. Daí, temos
as grandes disputas que envolverão métodos pouco ortodoxos de obtenção das
concessões favoráveis as demandas de particulares, demandas estas que em geral
contrariaram e ainda contrariam os interesses do estado que, por sua vez, visa
viabilizar e legitimar, teoricamente, o interesse "público". Hoje,
sabemos que os critérios de tombamento ou registro de um determinado patrimônio
público não se baseiam ou se dão apenas em "sua antiguidade, por sua riqueza,
[ou] por sua beleza," e muito
menos cobrando veementemente "da instituição federal maior zelo na tarefa
de protegê-los." (FONSECA, 2005, p.
26)
Segundo
Cecília Fonseca, esta prática é "pesada e muda" (FONSECA, 2005,
p. 27) por uma série de fatores que
oneraram e ainda oneram os cofres do estado "para as mentes mais
pragmáticas" (Id, Ibidem), e para além da discussão material e financeira
que serve de peso temos a mudez destes mesmos patrimônios que, per se, nada expressam para uma boa
parte daqueles a quem ele acaba se direcionando. Então, justo a partir desta
visão extremamente abstrata da realidade patrimonial elitista, que divaga
laconicamente no ideário popular é que surgem as emendas de 1994 visando à
ampliação conceitual da ideia de patrimônio, que irá considerar elementos mais
tangíveis do ponto de vista geral e tentando diminuir este abismo gerado por
uma política que se dizia igualitária, mas, que apenas legitimava a visão de
mundo das classes mais cultas, deixando de lado os valores das representações coletivas[3]que
englobam identidades, pluralidade cultural, e memória nacional. Tais medidas
são tomadas visando ampliar o interesse público nestes quesitos e
aproximar-lhes destes novos paradigmas.
Finalmente
Fonseca vai apresentar o diferencial de sua obra, em sua concepção, das outras
obras já produzidas que tratem do mesmo assunto. Os aspectos distintivos são
três no total, sendo o primeiro para ela: "(...) objeto de pesquisa é o
processo de construção do patrimônio histórico e artístico no Brasil,
considerado enquanto uma prática social produtiva, criadora de valor em
diferentes direções, como observa Antônio Augusto Arantes" (FONSECA, 2005,
p. 27):
(...)
de valor econômico que pode ser aumentado ou diminuído, dependendo do
tratamento que se dê aos bens preservados; de valor simbólico, constitutivo da
memória, da territorialidade e da identidade nacional, além de outras
identidades mais específicas e locais; de valor político, levando ao aspecto da
hegemonia e ao dos direitos culturais. (FONSECA, apud ARANTES, 1988, P. 16)
Então,
partindo da investigação da construção do patrimônio histórico e artístico
nacional, inspirada nas teorias socializantes de Antônio Arantes, Fonseca segue
para o segundo aspecto distintivo de sua obra:
(...)
considero os discursos oficiais produzidos sobre o patrimônio como um aspecto
dessa prática, por meio da qual diferentes atores, em diferentes momentos,
tentam resolver nesse campo
específico algumas das grandes questões sociológicas: a tensão entre o
universal e o particular, entre o público e o privado, entre tradição e
modernidade, entre cultura e política, entre Estado e sociedade. (FONSECA,
2005, p. 28)
Sendo
assim, ela faz uma ampla distinção entre sua meta com esta obra e as
proposições visivelmente unilaterais que foram construídas a posteriori sobre o assunto. Ela buscará atender as visões mais abrangentes
das discussões por observar as relações de poder entre as diferentes instancias
reguladoras das políticas patrimoniais, e ainda buscará adequar seu discurso às
necessidades de conhecimento das realidades de como diríamos na História: da
História vista de baixo... Assim, Cecília Fonseca nos brindará com seu terceiro
aspecto diferenciador: "(...) procuro me situar criticamente em relação às
análises sobre os dois períodos em questão" (Id, Ibidem) considerando os
problemas e instabilidades tanto das décadas de 30 a 40 como das décadas de 70
a 80 como "frutos de um anacronismo, no sentido de que analisam problemas
de uma época a partir de questões e critérios formulados em outra." (Id,
Ibidem)
Com
isto, Fonseca intenciona alcançar a compreensão da ótica que geriu os dois
diferentes momentos da política patrimonial brasileira, sendo este, mais um
objetivo constitutivo deste presente trabalho que resenhamos.
Deixará
claro, que, sua postura diante da representatividade do patrimônio histórico e
artístico nacional desenvolvida pelo estado, será o mais neutro possível,
apenas focando nas construções enquanto intervenções ideológicas particulares
de intensidades democráticas variáveis e questionáveis. Por isto, sua
construção de cunho histórico-narrativa prioriza todas as discussões aqui
propostas, partindo de fontes, teoria e metodologias muito bem definidas, que
ela citará ao longo de sua obra, tomando como base, a própria história contada
pelas instituições, e seus gestores que, direcionaram seus esforços
intelectuais no sentido de alcançar suas metas dentro destas instituições, e,
por conseguinte, chegar ao objetivo de, junto à suas metas, alavancarem também
as instituições que representaram partindo de suas teorias num sentido amplo.
Discutirá ainda conceitos, para ela, fundamentais, de política pública e
política privada e, por fim, o de patrimônio histórico artístico nacional e o
que ela entende por estes três distintos campos de observação teóricos dentro
de sua discussão, coisa que veremos como é tratada mais adiante nesta resenha.
Do
ponto de vista da problematização, elemento fundamental em qualquer projeto de
pesquisa, pois, serve de fio condutor da mesma, a Cecília Fonseca vai nos
mostrar quais foram as perguntas fundamentais que ela direcionou ao seu objeto
de pesquisa, ajudando assim, a iluminar em definitivo o caminho a ser por ela
seguido. Tais inquietações traduzidas em frase soaram na obra como:
Qual
a relação, no Brasil, entre as múltiplas memórias coletivas e uma memória
nacional? E como é conduzida a apropriação da pluralidade cultural, enraizada
em práticas sociais diferenciadas, por uma prática estatal de produção de um
patrimônio nacional e vice-versa? (FONSECA, 2005, p. 30)
Após
fazer o recorte espaço-temporal em seu objeto, e delimitá-lo às suas intenções,
ela nos apresenta em definitivo a art
finale, a distribuição capitular de sua obra. Dito isto, conheçamos de fato
o capítulo que nos cabe. A fase heróica.
A
fase heróica
Segundo
interpretação de Cecília Fonseca, dá-se início real às questões de importância
patrimonial de forma mais aguda somente a partir da década de 1920, é quando se
tem um tratamento mais sério em relação ás políticas de proteção patrimonial no
Congresso, tudo isto fruto das intervenções e observâncias dos intelectuais
coetâneos deste momento. Justamente, em virtude de uma primazia
intervencionista por parte dos grupos da elite é que, segundo crença de Rodrigo
Melo Franco de Andrade, a presença hegemônica destes se fez notória em todos os
momentos da história patrimonial brasileira, "pois, foram esses
intelectuais modernistas que assumiram, a partir de 1936, a implantação de um serviço
destinado a proteger obras de arte e de história no país." (FONSECA, 2005,
p. 81)
O
grande exemplar da assertória acima proposta é o Sphan de "Dr.
Rodrigo", que segundo alguns, viu sua fase dourada sob gestão deste
precursor. Aqui, Fonseca nos dará as dimensões de seus objetivos específicos
com a apresentação deste subcapítulo, são eles: primeiro, investigar as
características contingentes da instituição – Sphan – e perceber a problemática contextual que
motiva a sua fundação e segundo, juntar fontes suficientemente plausíveis para
uma abordagem mais aprofundada ao formato quase imutável desta instituição que
tanto fora criticado nas décadas de 70 e 80 e, partindo daí para entender as
relações políticas, de fato, patrimoniais daí surgidas entre os homens de
intelecção e o Estado.
O contexto cultural
Neste
ponto, Fonseca tratará de apresentar mais detida e dinamicamente o contexto
histórico-cultural e suas implicações para os feitos relacionados à temática
patrimonial. São características constantes da realidade sociocultural da época
o movimento modernista e o fenomênico Estado Novo. Naturalmente, aqui
perceberemos um Sphan, altamente condicionado em função de um governo
autoritário, oriundo do advento do Estado novo, e o coercitivo movimento
modernista com tendências "arqueofóbicas",
não agravando a todos, mas prezando prioritariamente o novo. Lembrando que este
movimento era composto majoritariamente por intelectuais influentes. Assim
temos dois grandes blocos de intelectuais, os modernistas, de orientação básica
liberalista, e os conservadores mais voltados para as tradições católicas e
antianarquistas que devem ser levados em conta. Eis a apresentação da formação
dos partidos políticos por parte da autora, que vai enxertar o contexto daquele
período histórico e nortear muito das discussões e disputas em vários segmentos
da macropolítica nacional. A semana de 22 serviu como uma prévia destes
sentimentos políticos efervescentes e antagônicos.
A
autora vem nos apresentar, nesta altura, um dos nomes mais presentes neste
capítulo, que, para todos os efeitos, vai revolucionar a interpretação e
concepção de preservação, proteção e criação de políticas patrimoniais e
artísticas no país. Ela falar-nos-á de Mário de Andrade. Neste ponto teremos um
detalhamento da trajetória da personalidade que foi Mário de Andrade, que,
apesar de sua orientação e formação visivelmente tradicional, não se ateve aos
pressupostos de seu berço e se enveredou pelos gostos mais voltados para o
público e para o nacional. Em suas produções ele focou os traços e as
tendências voltadas para a nossa cultura, procurando sempre respaldar-se na
afirmativa de uma interpretação de suas obras de uma ótica não totalizante ou
generalizante, mas, ainda assim, enfática e nacional primitiva. Segundo a
autora, Andrade desejava sim ver uma identidade nacional cristalizada, no
entanto, não engessada. Desejava uma identidade nacional que de fato refletisse
a ideologia e reverberações de nossas raízes, baseada numa verdadeira produção
cientificista e não numa construção arbitrária e aristo-oligárquica.
As
fortes influências da Europa nas artes, ciências e ideologias do Brasil levaram
a um movimento contra-hegemônico no sentido de destituir de razão o gosto
burguês então predominante, pondo em xeque-mate estes ditos hegemônicos da
velha república, por também incitar favoravelmente – ao modernismo – a opinião pública.
Somente
após a revolução de 1930 é que, segundo a autora, os modernistas tomarão mais
parte na administração do Estado, e somente a partir deste ponto é que veremos
mudanças significativas no tocante à atuação do Estado, como por exemplo: sua
atitude diante dos interesses da nação, o Estado se colocará como o defensor e
representante legal dos interesses da sociedade contrariando a ordem outrora
instaurada. É aqui, neste ambiente favorável à projeção de novos paradigmas que
os intelectuais vão se assumir enquanto agentes transformadores e interventores
prol "interesse público". É nesta nova ordem que todo o clima se põe
como favorável a difusão de novas formas e modelos políticos, ideias e
propostas, ao menos em tese...
Assim,
neste ambiente propenso, os apelos ao patriotismo, a educação moral e civismo
tomarão os discursos políticos e as políticas governamentais, uma vez que, a
intenção é revestir o governo Vargas de credibilidade e legitimidade, por isto,
o processo alienante toma corpo nas medidas educacionais como por exemplo: a
instituição das disciplinas E.M.C (Educação, Moral e Cívica), O.S.P.B
(Organização Social e Política do Brasil), em substituição da Geografia e da
História, ou seja, dos estudos sociais. Estas novas disciplinas apenas se tornaram
obrigatórias em 1969, mas foram usadas desde os primeiros momentos do golpe de
estado como processo de afirmação política. Tal processo de instauração apenas
tardou em virtude dos movimentos opositores dos escolanovistas. É também neste
contexto que vários institutos serão criados, rádio e cinema fortaleceram o
projeto de difusão ideológico governamental, também temos neste período a
criação dos cursos de nível superior em São Paulo - USP, UFRGS - Rio Grande do
Sul e UDF - Distrito Federal.
Liderados pela
orientação partida da escola metódica, dita “Positivista”, que em conformidade
com ideais de um confesso positivista, Èmile Durkheim, que ao final de uma de
suas obras – As formas elementares de
vida religiosa – irá
retratar o caráter tradicionalista, nostálgico e sobretudo romântico de sua
abordagem científica. Exatamente o que teremos no Brasil com alguns grandes
nomes apresentados por Fonseca. Assim, vemos a parceria do estado, com uma
intencionalidade explicita em seus investimentos nos intelectuais e em sua
formação, todavia, partindo das interpretações fundadas no contexto, tal
proximidade se dá com um objetivo que visava a ampliação das ideias de
aplicação dos conhecimentos para melhoria do quadro político enquanto política
de interesse público. Fonseca também destacará destas observações, dois
aspectos importantes para a compreensão do vínculo do modernismo e o
patrimônio: qual o pano de fundo que leva estes intelectuais a romperem com as
máximas ortodoxas do movimento e o papel de Minas Gerais como tema gerador
tendo os mineiros como elementos ativos neste contexto. (FONSECA, 2005,
p. 87)
O sentido de ruptura no
modernismo brasileiro.
A
questão da ruptura está ligada à idéia de que o movimento fosse meramente
artístico, mas, seu amplo alcance fora provado em outros segmentos, mostrando
assim, as várias facetas do movimento modernista, que irá se afastar da
"literatura satisfeita, sem angústia formal, sem rebelião nem
abismos". (FONSECA, 2005, p. 89)
Seguindo esta tendência plurilateral do movimento, a literatura desempenha
papel importantíssimo como difusora desta nova leitura do movimento no Brasil.
Tal leitura remonta a partir da ampliação do conceito definitivo literatura, no
tocante a produzir uma memória via res
gestae, que trará os debates causais da problemática temporal em relação à
difusão de idéias no Brasil Colônia e Império. É justamente devido a uma baixa
escolarização/alfabetização, que a literatura teve neste período um
limitadíssimo alcance, daí, a formação de um mecenato do aparelho do Estado. O
estado vai, praticamente, dominar as produções literárias - no sentido amplo -
impedindo a sua chamada "função social"[4] e
penalizar qualquer um que não se encaixasse nesta lógica sistemicamente elaborada.
Esta
ruptura expõe uma interessante leitura das ambições destes modernistas
diferenciados, que tentaram traçar os marcos da "criação literária e a
militância política" (Id.
Ibidem)objetivando melhorar o alcance da arte em todos os segmentos sociais. Estas
reflexões modernistas trazem consigo uma consciência de ruptura necessária com
tradições e ideologias consuetudinárias que farão profundas transformações em
um contexto porvir, como diria Eduardo Jardim de Moraes dando ao movimento
características nacionalizantes bem definidas.
A
partir deste ponto, a autora nos traz uma grande revelação do ponto de vista
crítico. Perceberemos que as idéias de Moderno X Antigo, se limitam a países
onde a "tradição nacional internalizada" (FONSECA, 2005, p. 90) já era existente, entendemos como tal
tradição, um grande somatório cultural que envolve todos os segmentos da
cultura coletivamente concebida. Assim sendo, no caso do Brasil, uma jovem
nação, tal cultura seria inexistente ou ao pouco difundida, por estar ainda em
passo de formação. Diante desta sua jovialidade existencial, estas idéias,
pitorescas das nações mais antigas, seriam anacrônicas se projetadas ao Brasil.
Forçosamente, uma aplicação de tais critérios e pressupostos modernistas
europeus ao Brasil, descaracterizaria sua essência mais genuína. Por isto, o
modernismo brasileiro, também, deveria ter características próprias, tendências
próprias, objetos próprios! Sua própria característica tropical outrora
presente em muitas crônicas européias do século XVI ao XIX, servirão de ponto
de partida, de musas inspiradoras para a produção nacionalmente construída.
Interessante
ainda explicitar como a autora tratará dos debates artísticos e suas
implicações. Sobre a emergência do neoclassismo na pessoa de Lúcio Costa e sua
crítica ferrenha ao modernismo imperativo, seguindo ele, um caminho inverso dos
seus colegas culminando em uma integração passado-presente; moderno-clássico
posteriormente. A autora fará aqui considerações acerca das colaborações de
Antônio Cândido Eduardo Jardim de Moraes e suas visões de mundo relacionadas ao
modernismo e suas abordagens ora integrando-se, ora alijando-se do
tradicionalismo, sendo que a posteriori, a convergência seria inevitável. Por
fim, é emergencial que esta cultura tão ricamente discutida devesse surgir como
elemento agregador da nação, sendo que não tinha de ser, necessariamente, uma
abordagem ufanista, e alcançasse todos os níveis da sociedade.
Os modernistas e Minas Gerais
A
autora neste subcapítulo tratará da relevância da participação dos mineiros na
criação do que viria a ser o órgão mais importante na empresa da proteção do
patrimônio e cultura brasileira nas décadas de 20 e 30. A razão mor pela qual
os mineiros e as cidades mineiras são tão projetadas neste estudo parece ser
movida, inicialmente, pelo legado barroco aí situado e o despertar para a essência desta arte na vida colonial. Recuo
necessário para se resgatar a imagem simbólica tão discutida no seio do passado
da nação. Desta forma Minas é apresentada com uma aparência mais próxima do
nacional. Grandes nomes em suas viagens acabam visitando e reconhecendo o valor
patrimonial do estado e assim projetando-o. Este "estilo puro",
mencionado por Marisa Santos, é que motivará a formação de uma elite mineira
onde prevalecia os sentidos de "vocação do espírito público" também
do "rigor, a sobriedade, a honestidade intelectual e moral, e sobretudo o
senso do dever". (FONSECA, 2005, p.
93) Este seleto grupo de intelectuais se arvorava de sua resistência às
influências totalitárias. Iluminados pela simpatia de sua audaciosa postura
diante do governo Vargas, os modernistas serão incluídos no MES onde Capanema
será seu grande porta voz. Assim, as artes passam a ter um fundo completamente
voltado para as possíveis transformações revolucionárias que os feitos do grupo
modernista podiam instigar.
A criação do Sphan: As iniciativas precursoras.
Aqui
teremos a apresentação de uma série de eventos que compactuarão e definirão o
contexto de fundação do Sphan. Esta apresentação onde as revistas surgem para
esboçar as orientações das diferentes correntes intelectuais inclui também a
descrição de mais atores do que se imagina, movendo as transformações e os
museus que começam, conjuntamente, buscando regimentar as políticas de proteção
patrimonial que por fim esbarraram nas leis já vigentes de propriedade e
questões de desapropriação. Teremos o relatar de uma Inspetoria dos Monumentos
Nacionais que teve curta vida em função da aplicabilidade ampliada e
funcionalidade do Sphan. É neste momento histórico que Ouro Preto é elevada a
condição de monumento nacional.
Lembra-se
ainda que várias outra propostas de uma legislação nacional do patrimônio,
foram recusadas por seu caráter contraditório em relação á lei de propriedades
em vigor na constituição de 1891. Fonseca ainda tratará de realçar o quão
relevante foi a participação ativa de Capanema para a definição da corrente
modernista como predominante dentro do governo de Vargas.
A institucionalização da proteção do patrimônio
Chegamos
ao ponto onde a efetivação de uma sólida e tangível política de proteção
patrimonial é definitivamente definida. A partir da iniciativa do Estado
através de Capanema, temos uns procedimentos tomados que nos são completamente
familiares hoje como o registro, inventariação de obras de arte na cidade do
Rio de Janeiro, e para tornar os métodos e procedimentos mais legíveis, Mário
de Andrade é convocado e apresenta o seu anteprojeto que dispunha de muitas
similaridades com os de Rodrigo de Andrade no tocante a ampliação do
entendimento de patrimônio e firmarem uma única instituição para legislar o
patrimônio. Aqui, temos os dados fundamentais do Sphan sendo lançados e gerido
por uma lei que o inclui no MES junto ao Conselho Consultivo. A autora nos
apresenta ainda neste quesito as subdivisões do Sphan e seus consecutivos
membros, que através de uma prática constante vinculada aos serviços deste
ofício acabam se especializando. Este Sphan, estava completamente afinado com
as ideologias do modernismo.
O anteprojeto de Mário de Andrade e o decreto-lei nº 25
A
interpretação da participação popular neste crescente ponto de proteção as
manifestações e compreensões do ideário cultural, alija não somente as atenções
políticas, mas, sobretudo, populares. Tal fenômeno se dá, segundo colocações da
autora, em virtude de uma predileção,
por parte da própria instituição, ao anteprojeto do Mário de Andrade em
detrimento do artigo lei, mas, era o que o contexto político requeria e o
próprio Mário de Andrade irá reconhecer a maior viabilidade do projeto que
corria no Congresso Nacional, ainda que contraditório aos seus propósitos
principais. Então, Mario irá elaborar uma idéia mais ampla e avançada de
patrimônio "(...) que em alguns pontos antecipa, inclusive, os preceitos da
carta de Veneza, de 1964." (FONSECA, 2005, p. 99)
A
predominância da abordagem histórica em Mário de Andrade aponta para a
principal característica que o leva a ter esta característica inovadora no
tocante aos métodos e teorias formuladas para a prática da proteção
patrimonial. Notadamente temos uma forte presença positivista em sua
metodologia e teoria que visa quantificar e registrar tudo o que seja possível
nos livros de tombos, ampliando assim as noções de arte e história, que seriam
os critérios primordiais para a descrição do que deveria ser protegido e
preservado. Tomamos como exemplo os museus dos ciclos econômicos como prova da
importância da retratação e consideração histórica como agente cultural e
simbólico da realidade patrimonial. Para além das discussões nacionais, ele
ainda visa uma institucionalização museológica municipal que referendará
elementos próprios destes locais, que sejam facilmente identificáveis pelos
indivíduos daí oriundo, refletindo sua realidade histórica e que tal tivesse
apenas significado para estes. Sendo que, este fator constante em Mário de
Andrade - o popular - acaba por se tornar sua marca registrada. Mario desde o
princípio intencionava tornar a concepção de arte algo tão difuso e claro que
afirma Fonseca que após tantas provocações por parte do Mário de Andrade, será
a "arqueologia e a etnografia que vão legitimar sua inclusão nos Livros do
tombo." (FONSECA, 2005, p. 101)
Umas
das principais proposições da autora acerca das contribuições e visão de mundo
de Mário de Andrade é que sua forte preocupação com a educação é seu norteador,
e assim também parece ser para nós. Sua crença constante na propagação da arte
em todas as instâncias que geraria um ambiente favorável de convergência
cultural que induziria as camadas populares para o usufruto das artes em geral.
Assim, suas atitudes sempre voltadas para a coletividade no entendimento do que
é arte e patrimônio foram por vezes criticadas e ele percebe o quão utópico seu
anteprojeto pode ser frente aos interesses mais particulares...
Adiante
a autora fará alusão às aventuras de Mário de Andrade servindo "dois
senhores" cumprindo uma tendência natural das emanações ditatoriais do
sistema governamental que exige produções que compatibilizem com os seus
ideais. A autora dará alguns detalhes dos empecilhos encarados pelos projetos
em relação á situação das propriedades para se chegar ao tombamento de
importantes elementos e objetos constitutivos do acervo patrimonial brasileiro.
Fato apenas possibilitado numa escala mais significativa apenas a partir da
constituição de 1934 que definiu novos limites as questões de propriedades. A
legitimação das atuações em favor do patrimônio estava no âmbito do jurídico,
na prática, ainda faltavam certas concretizações. Um processo de aumento da
credibilidade na instituição se fez sentir também. Após devidas medidas tomadas
para o aumento da credibilidade da instituição como desvinculada de possíveis
interesses políticos. A autora dará seu desfecho diferenciando os dois
Andrades, sendo a diferença meramente voltada para a interpretação das ações
culturais como passíveis de refletirem e se traduzirem eficazmente como ação
política. (FONSECA, 2005, p. 106)
O programa de trabalho do Sphan
Segundo
interpretação de Cecília Fonseca, dá-se início real às questões de importância
patrimonial de forma mais aguda somente a partir da década de 1920.
Depois
de esmiuçar o trabalho desenvolvido pelo Sphan desde sua criação e destacar as
oposições entre o anteprojeto de Mário de Andrade e o decreto de lei 25, de
30.11.37 Fonseca vai considerar as prioridades e os limites do trabalho do
Sphan. A autora argumenta através de textos e publicações como a revista do
SHAN que as prioridades da instituição eram os remanescentes da arte colonial
brasileira no aspecto dos tombamentos, o cotidiano das populações das cidades
históricas, a preocupação com o saque e a comercialização de bens móveis e
nesta fase iniciava-se a descoberta do barroco pelos modernistas mostrando
dessa forma o sentido abrangente da atividade que o órgão estava disposto a
desenvolver.
Demonstra-nos
também que a cultura brasileira era, no principio, uma cultura com presença
portuguesa que aos poucos foi sendo substituída pela cultura francesa e inglesa
e que entre as classes mais altas da sociedade brasileira a forma mais prática que
o Brasil dispunha de alcançar o "ser um país civilizado" era imitando
os modelos europeu e americano.
No
Brasil, esses bens eram identificados pelas classes médias afluentes (em que se
incluíam os imigrantes que enriqueciam com a industrialização) com um passado
arcaico, primitivo, e com presença portuguesa, cuja influencia cultural fora
substituída pela francesa, pela inglesa,
e já então pela norte-americana.
(FONSECA, pg. 107)
O
Sphan na década de quarenta, não se baseava somente numa noção de valor
histórico, e no valor artístico dos bens, mais no seu valor nacional, na sua
excepcionalidade e no seu valor cultural conceitos justificados pela
historiografia da época. Na prática, porém, existiam outros valores de ordem
ideológica e política. Fonseca destaca a
prioridade dada aos bens de arquitetura religiosa e expõe as justificativas
para que esses monumentos arquitetônicos fossem preservados, contestando porém
a falta de critério nos parâmetros adotados. “Os critérios adotados pelo Sphan
eram sustentados não tanto por estudos e pesquisas, pouco accessíveis à opinião
pública, mas pela autoridade dos agentes e da instituição que respondia pelos
tombamentos.” (FONSECA, pg. 109)
E acrescenta que o grande problema do Sphan era a preocupação
excessiva com a questão dos tombamentos em prejuízo a outras atividades,
deixando de atender aos interesses da população, e favorecendo um grupo restrito de pessoas,
uma vez que a sociedade ainda não tinha alcançado a compreensão desses valores.
No entanto a autora esclarece que através da analise do conjunto de bens
tombados no período entre 1940 e 1960,
as propostas do Sphan foram se modificando e deixou de se pautarem
exclusivamente em sua representatividade histórica e passaram a se basear numa outra perspectiva,
a determinada pelos arquitetos modernistas, baseada numa versão da história da
arquitetura no Brasil.
No
principio o Sphan desenvolveu a maior parte das suas pesquisas orientadas para
a arquitetura religiosa, formulando seus critérios seguros para as decisões
sobre tombamento e sobre os trabalhos de restauração. A professora Maria Cecília
no subtítulo “construção de um saber verdadeiro” procura demonstrar que os
funcionários do Sphan buscavam justificar os tombamentos através de estudos que
iam desde inventários a produção de pesquisas e que esse trabalhos visavam à
justificação da ideologia do Estado. No entanto defende que a importância
dessas pesquisas no campo da produção de conhecimento sobre história da arte no
Brasil. (Santos, 1992)
No
subtítulo “Um retrato em pedra e cal” a autora do Patrimônio em Processo busca
mostrar de forma detalhada a falta de critério nos tombamentos analisando
sistematicamente dois tipos de dados: de um lado, as classes de bens tombados;
de outro, as inscrições nos Livros do Tombo. (FONSECA, Pg. 113). Chegando a
conclusão que o Sphan na fase Heróica adotara os seguintes parâmetros: (pg.
116)
·O
principal instrumento de legitimação das escolhas realizadas era a autoridade
dos técnicos, sendo desnecessário formular justificativas mais elaboradas.
·Prevaleceu
nitidamente uma apreciação de caráter estético, baseada nos cânones da
arquitetura modernista.
·A
consideração do valor histórico dos bens não era objeto de maior atenção, a não
ser relativamente à autenticidade das fontes.
·Na
verdade, a prioridade era assegurar a proteção legal dos bens através de sua
inscrição nos Livros do Tombo, ficando em segundo plano a questão do critério
nas inscrições.
A
seguir trata de expor com clareza de detalhes a forma como o Sphan atuava e
qual eram as posições do Conselho Consultivo em relação às decisões do órgão,
concluindo de maneira precisa que o Conselho estava a serviço do Sphan para
legitimar as decisões dos técnicos. Descreve como funcionava o Conselho e qual
era a sua função:
A
não ser por raras declarações de voto, as decisões do Conselho costumavam ser
tomadas por unanimidade, ratificando as propostas e pareceres técnicos
encaminhados pelo Sphan. Aliás, a relação entre o Sphan e seu Conselho
Consultivo era curiosa: de um lado, desde o inicio era afirmada a autonomia de
um em relação ao outro, apresentando-se sempre como duas entidades distintas e
autônomas; de outro, percebe-se uma evidente sintonia de ambos na defesa dos
mesmos princípios e critérios, e ,
sobretudo, do decreto de lei nº 25, de 30.11.37. (FONSECA, pg. 118)
Fonseca
deduz que nesse período o Sphan “se unia contra inimigos externos” pois haviam
muitos conflitos em relação aos limites entre o público e o privado que se
davam em diferentes esferas do poder público. (FONSECA, pg. 119) A autora se
baseia nos relatos de Rodrigo M. F. de Andrade, então Diretor do Sphan para
concluir que o objetivo da instituição, era se defender das criticas e de principalmente desenvolver um trabalho
moderno, com base nos países civilizados e de caráter apolítico, fato esse
aceito sem discordâncias pela maioria dos funcionários do Sphan na época.
(FONSECA, pg. 120)
Fonseca
finaliza observando as relações entre o Estado Novo e os intelectuais
brasileiros, citando autores como Daniel Pécault, Mário de Andrade do
Presidente Getúlio Vargas para embasar seu argumento de que o Sphan era um
órgão que gozava um alto grau de
autonomia, dentro de um Estado centralizador e autoritário e que isso contribuiu
para o sucesso e o prestigio que o órgão teve na defesa do patrimônio em sua
fase Heróica.
Bibliografia:
[1]
BOURDIEU, 1980 apud FONSECA, Maria Cecília Londres. O patrimônio em processo: trajetória da política federal de
preservação no Brasil. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; MinC - Iphan,
2005. p. 24.
[2]
Grifo nosso.
[3]
Conceito aqui empregado que pode ser entendido do ponto de vista Durkheimiano,
sem diferir do assunto aqui tratado uma vez que Durkheim entende por
representações coletivas todo o conjunto de tradições, conhecimentos, modo de
agir, falar, pensar, festejar e comportar-se transmitidos através das gerações,
que por sua vez, mais adiante nesta obra, será tratado como patrimônio
cultural.
[4]
Que segundo a autora deveria basear-se numa descrição mais comprometida com as
realidades e não com as necessidades do Estado. FONSECA, Maria Cecília Londres.
O patrimônio em processo: trajetória
da política federal de preservação no Brasil. 2ª Edição. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ; MinC - Iphan, 2005. p. 89.
desse eu lembro, kkkk
ResponderExcluirÉ amigo Pedrão, eu também... Eu também. Não foi nada fácil não é mesmo?
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