Comunicação e troca entre árabes e europeus.
Wilson Oliveira Badaró, Joilson dos Santos Bonfim, Luis Raimundo dos
Santos Batista, Cássio Vinicius de Moraes Costa, Melquisedeque Tavares Xavier
dos Santos, José Carlos Ribeiro da Silva.
Quando
falamos em Idade Média
o que você lembra? Cavaleiros? Bispos? Plebeus? Sim! Está correto! Mas, não
apenas isto, não foram somente os europeus que passaram por uma Idade Média não
é mesmo? Vários outros povos não só existiam, como também possuíam suas
riquezas culturais e científicas muito particulares, contudo, pouco exploradas
em livros didáticos. Neste caso aqui, vejamos um pouco mais sobre os árabes e
sua contribuição para a História.
Através
da toponímia que consiste em estudar os nomes dos lugares, e da antroponímia
que por sua vez é estudo dos nomes próprios, possibilitando assim, que a História
faça a investigação das influências históricas em um determinado lugar em um
determinado período desejado, através do legado lingüístico destas regiões em
destaque, ou a partir dos nomes próprios de lugares e pessoas por exemplo. Tal
procedimento de pesquisa dentro da História é chamado de História Linguística.
É justamente neste ponto que temos vestígios
da forte presença Árabe na península ibérica através dos nomes encontrados,
estes nomes estão em todo lugar nos documentos daquele período, em registros
contábeis e ainda nas próprias correspondências entre citadinos. Nomes que
falamos e usamos em várias situações diferentes todos os dias e não percebemos
que na verdade sua origem e fundamentos têm nas raízes da língua Árabe,
palavras de coisas, objetos, cargos, ofícios, medidas, alimentos etc., citando
algumas como, por exemplo: alicerce, argola, âmbar, açafrão, açougue, arroba,
quintal, chafariz, acepipe, acorda, açúcar, almôndega, acelga, azeite, açude,
alecrim, alcachofra, alface, alfazema, algodão, laranja, limão, alfândega,
armazém, atum, arsenal, xaveco, atalaia, alazão, azulejo, almoxarife e tantos
outros mais.
Idade Média e atualidade, algo para refletir.
Você já
viu alguém usando argola? Já reparou que muitas casas são
feitas sobre alicerces? Que frango com açafrão fica uma
delícia? Já mandou e-mail usando o arroba?
Provavelmente já brincou num quintal! Já ouviu falar do arsenal das
forças armadas? Pois isto é apenas uma rápida idéia do quanto usamos a
influência Árabe em nossas vidas, quer seja por intermédio da cultura
portuguesa, quer seja pela cultura africana através dos negros malês
islamizados, pois, ambos sofreram influências árabes durante o período medieval.
(OLIVER, 1994, 136)
Importante!
O
importante aqui é frisar o quanto a cultura Árabe está presente em nossos
idioma e cultura vistos através do legado português e africano respectivamente,
e seguramente, neste momento você deve estar se perguntando – e como tudo isto
foi parar em Portugal? Quando tudo isto foi transmitido a Portugal? E porque tais
influências também alcançaram o ponto de chegar ao Brasil? (Veja as respostas
no nosso mini-histórico!)
Desafio!!!
Você
sabia que os árabes dominaram a península ibérica por mais de cinco séculos? Tente imaginar o que eles aprenderam e
ensinaram durante todo este período de convivência e troca cultural com os
europeus, faça uma pesquisa e apresente ao professor (Sugestões no bloco de
Curiosidades). Para clarear mais o raciocínio, aqui vão as datas do período de
domínio Árabe; “A verdadeira conquista começou em 825.” (LEWIS, 1996, 133) e
durou até “2 de Janeiro de 1492”
(LEWIS, 1996, 143).
Curiosidades!
Saiba que
os Árabes levaram e melhoraram várias técnicas e ciências para a Europa tais
quais: irrigação, arquitetura, religião, estratégias militares para conquista
territorial, a literatura árabe amplamente difundida, vestuário, música,
organização política, artes etc.
Saiba
ainda que os Árabes impulsionaram, também, dentro da própria península ibérica
“várias industrias – têxteis, faiança, papel, seda e refinação de açúcar, e
exploraram importantes minas de ouro, prata e outros metais.” (LEWIS, 1996,
143).
Você
sabia que a técnica de fabricação do azulejo é Árabe?! Os Árabes levaram a
Portugal e Espanha a pequena pedra cozida, polida e ornamentada que eles
chamavam através de uma pronuncia que se
aproximava do seguinte valor fonético “azzelij”[1],
que em português e espanhol passou a se chamar azulejo. A origem do nome não é oriundo
da palavra “azul” como se diz em
muitos lugares onde se encontram azulejos, e sim da palavra Árabe azzelij!
A
religião muçulmana é a religião que mais cresce no mundo, assim como os seus
famosos milionários, os sheiks, que
favorecidos pelo “ouro negro”, o petróleo, são personalidades importantíssimas
para o equilíbrio da atual economia globalizada. Assim sendo, estes sheiks transformam a realidade econômica a partir
de seus focos de investimentos.
Na
organização social Árabe temos a curiosidade das mulheres que sempre usam a
burca, uma espécie de véu que esconde seus rostos após o casamento as solteiras
usam uma burca diferente, que protege suas cabeças, mas permite mostrar seus
rostos.
O livro
sagrado dos árabes é chamado de alcorão, que por sua vez foi escrito baseado
nas palavras que saíram da boca do então profeta árabe Muhammad, mas, que nem
por isto eram suas e sim, colocadas em sua boca, segundo contam as escrituras,
por deus.[2]
Mini-histórico
Localização
Os Árabes
são originários da península arábica, uma região árida, feita sobre desertos e
ornada pelos oásis. Seu tamanho é de aproximadamente 3.237.490 km², ao norte o
Crescente Fértil (Mesopotâmia, Síria, e Palestina); ao leste e sul Golfo
Pérsico e Oceano Índico; e por fim a oeste o Mar Vermelho. É nesta região que o
islamismo, uma das três religiões abraâmicas, assim como o cristianismo e o
judaísmo, surge para agregar os grupos basicamente nômades dos beduínos, e dos
agricultores que viviam nos oásis e que eram por sua vez, controlados pelos
beduínos.
Processo
Após o
avanço islâmico através das ilhas de Chipre, Creta e Rodes, os Árabes começam a
se alastrar por toda Península Ibérica começando pela Sicília e alcançando
cidades portuguesas e espanholas, “o primeiro grande centro de transmissão de
cultura do islão para o cristianismo, no Ocidente, foi a cidade de Toledo,
reconquistada em 1085.”
(LEWIS, 1966, 146) difundindo assim, sua cultura de forma mais democrática, em
relação a que aí estava previamente instalada – religião cristã onde os textos
em latim eram dominados por uma minoria elitista. A flexibilidade islâmica
permite aos novos convertidos acesso aos textos literários, o que contagia e
faz com que estes aceitem tal doutrina mais rapidamente e consequentemente,
fazem também, a grande difusão da língua e literatura Árabe a partir de
traduções desta para o latim. (LEWIS, 1966, 136)
É também
muito importante dizer que os europeus aprenderam muito mais com os Árabes que
vice-versa, “estes contatos proveitosos para o ocidente que aprendera muito com
os Árabes, poucas consequências tiveram sobre estes” (LEWIS, 1996, 185) e após
a renascença, as influências Árabes começam a tomar corpo, a possuir forma. O
modelo de vida baseado no comércio, acaba por se espalhar por toda europa, “a
partir do século XVI é já visível um novo tipo de relação entre o Ocidente e o
Islão” (LEWIS, 1996, 186) , pois suas formas de organização para a política,
diplomacia, tecnologia e formas de exercício do poder mudavam gradualmente da
organização feudal para a capitalista.
Assim, a
cultura portuguesa se vê entre a preservação de um ”dialeto perto do latim
vulgar” (MATTOSO, 1995, 321) e sua cultura também cristã preservada, em meio as
disputas, e a forte influência Árabe que dura, de forma notória, desde o século
IX até o século XIII.
Em
virtude de toda esta vasta exposição a diferentes influências e culturas,
Portugal inicia o processo de expansão marítima trazendo consigo tais
influências que serão, por sua vez, legadas a futura sociedade de sua colônia
além-mar, o Brasil, e alcançar a nossa atualidade de forma tão vigorosa e
perceptível.
Conclusão
Conclui-se
que, valorizar e observar o comportamento de outros povos e suas
características compõe uma parte da História da qual não podemos abrir mão, e
muito menos deixar de conhecer. De um lado, vimos que o período chamado de
medieval não é apenas composto das sociedades européias, mas também, de várias
outras, como as comunidades Árabes aqui apresentadas, por outro lado, devemos
estar atentos para a idéia de que se houve uma sociedade coetânea do período medieval
europeu, – como várias outras em todos os lados do planeta – no caso da
sociedade semítica (os Árabes), é natural pensar que esta também compõe uma
parcela da História Antiga em sua totalidade, e tal visão deve assim, ser
aplicada a outras sociedades como as sul americanas, orientais, africanas etc.
ao longo de toda periodização da história mundial.
Glossário
Açafrão: Erva abundante na Ásia e
na Europa. 2. Sua flor. 3. Pó amarelo retirado, e usado como corante, tempero e
medicamento.
Alicerces: A base enterrada no chão,
das paredes de uma construção; fundação. 2. Fundamento.
Antroponímia: Estudo dos nomes
próprios.
Arsenal: armazéns e dependências
para fabrico e guarda de munições e
petrechos de guerra.
Arroba: Antiga unidade de peso,
hoje arredondado em 15 quilos. 2. O símbolo @, usado, por extenso, para
separar, em endereços eletrônicos de internet , a identificação do usuário e a da rede em que
está registrado.
Dialeto: Variedade regional de uma
língua.
Faiança: Louça de barro vidrado.
Legar: Deixar como legado;
transmitir.
Nômades: Diz-se de tribos ou povos
que estão sempre a deslocar-se em busca de alimentos, pastagens etc. 2. Que
leva vida errante.
Oásis: Região com vegetação e água
em meio a um grande deserto.
Têxtil: 1. Que se pode tecer (
fibra, fio) 2. Relativo a tecelões ou à tecelagem.
Toponímia: 1. Conjunto dos topônimos
de uma região ou país, ou de uma língua. 2. Estudo linguístico do nome dos
lugares.
Bibliografia
OLIVER, Roland. A experiência africana. Da pré-história aos dias atuais. Rio de
Janeiro, Jorge Zahar Editores, 1994.
LEWIS, Bernard. Os Árabes na História. Lisboa, 2ª edição, Editorial Estampa, 1996.
MATTOSO, José. Identificação
de um país. Lisboa, 5ª edição, Editorial Estampa, 1995.
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