terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O mundo "deseurocentrado". Contribuições históricas dos Árabes para o Brasil.


Comunicação e troca entre árabes e europeus.


Wilson Oliveira Badaró, Joilson dos Santos Bonfim, Luis Raimundo dos Santos Batista, Cássio Vinicius de Moraes Costa, Melquisedeque Tavares Xavier dos Santos, José Carlos Ribeiro da Silva.

Quando falamos em Idade Média o que você lembra? Cavaleiros? Bispos? Plebeus? Sim! Está correto! Mas, não apenas isto, não foram somente os europeus que passaram por uma Idade Média não é mesmo? Vários outros povos não só existiam, como também possuíam suas riquezas culturais e científicas muito particulares, contudo, pouco exploradas em livros didáticos. Neste caso aqui, vejamos um pouco mais sobre os árabes e sua contribuição para a História.
Através da toponímia que consiste em estudar os nomes dos lugares, e da antroponímia que por sua vez é estudo dos nomes próprios, possibilitando assim, que a História faça a investigação das influências históricas em um determinado lugar em um determinado período desejado, através do legado lingüístico destas regiões em destaque, ou a partir dos nomes próprios de lugares e pessoas por exemplo. Tal procedimento de pesquisa dentro da História é chamado de História Linguística.
 É justamente neste ponto que temos vestígios da forte presença Árabe na península ibérica através dos nomes encontrados, estes nomes estão em todo lugar nos documentos daquele período, em registros contábeis e ainda nas próprias correspondências entre citadinos. Nomes que falamos e usamos em várias situações diferentes todos os dias e não percebemos que na verdade sua origem e fundamentos têm nas raízes da língua Árabe, palavras de coisas, objetos, cargos, ofícios, medidas, alimentos etc., citando algumas como, por exemplo: alicerce, argola, âmbar, açafrão, açougue, arroba, quintal, chafariz, acepipe, acorda, açúcar, almôndega, acelga, azeite, açude, alecrim, alcachofra, alface, alfazema, algodão, laranja, limão, alfândega, armazém, atum, arsenal, xaveco, atalaia, alazão, azulejo, almoxarife e tantos outros mais.

Idade Média e atualidade, algo para refletir.

Você já viu alguém usando argola? Já reparou que muitas casas são feitas sobre alicerces? Que frango com açafrão fica uma delícia? Já mandou e-mail usando o arroba?  Provavelmente já brincou num quintal! Já ouviu falar do arsenal das forças armadas? Pois isto é apenas uma rápida idéia do quanto usamos a influência Árabe em nossas vidas, quer seja por intermédio da cultura portuguesa, quer seja pela cultura africana através dos negros malês islamizados, pois, ambos sofreram influências árabes durante o período medieval. (OLIVER, 1994, 136)

Importante!


O importante aqui é frisar o quanto a cultura Árabe está presente em nossos idioma e cultura vistos através do legado português e africano respectivamente, e seguramente, neste momento você deve estar se perguntando – e como tudo isto foi parar em Portugal? Quando tudo isto foi transmitido a Portugal? E porque tais influências também alcançaram o ponto de chegar ao Brasil? (Veja as respostas no nosso mini-histórico!)

Desafio!!!  


Você sabia que os árabes dominaram a península ibérica por mais de cinco séculos?  Tente imaginar o que eles aprenderam e ensinaram durante todo este período de convivência e troca cultural com os europeus, faça uma pesquisa e apresente ao professor (Sugestões no bloco de Curiosidades). Para clarear mais o raciocínio, aqui vão as datas do período de domínio Árabe; “A verdadeira conquista começou em 825.” (LEWIS, 1996, 133) e durou até “2 de Janeiro de 1492” (LEWIS, 1996, 143).

Curiosidades!


Saiba que os Árabes levaram e melhoraram várias técnicas e ciências para a Europa tais quais: irrigação, arquitetura, religião, estratégias militares para conquista territorial, a literatura árabe amplamente difundida, vestuário, música, organização política, artes etc.
Saiba ainda que os Árabes impulsionaram, também, dentro da própria península ibérica “várias industrias – têxteis, faiança, papel, seda e refinação de açúcar, e exploraram importantes minas de ouro, prata e outros metais.” (LEWIS, 1996, 143).
Você sabia que a técnica de fabricação do azulejo é Árabe?! Os Árabes levaram a Portugal e Espanha a pequena pedra cozida, polida e ornamentada que eles chamavam  através de uma pronuncia que se aproximava do seguinte valor fonético “azzelij[1], que em português e espanhol passou a se chamar azulejo. A origem do nome não é oriundo da palavra “azul” como se diz em muitos lugares onde se encontram azulejos, e sim da palavra Árabe azzelij!
A religião muçulmana é a religião que mais cresce no mundo, assim como os seus famosos milionários, os sheiks, que favorecidos pelo “ouro negro”, o petróleo, são personalidades importantíssimas para o equilíbrio da atual economia globalizada. Assim sendo, estes sheiks transformam a realidade econômica a partir de seus focos de investimentos.
Na organização social Árabe temos a curiosidade das mulheres que sempre usam a burca, uma espécie de véu que esconde seus rostos após o casamento as solteiras usam uma burca diferente, que protege suas cabeças, mas permite mostrar seus rostos.
O livro sagrado dos árabes é chamado de alcorão, que por sua vez foi escrito baseado nas palavras que saíram da boca do então profeta árabe Muhammad, mas, que nem por isto eram suas e sim, colocadas em sua boca, segundo contam as escrituras, por deus.[2]
Mini-histórico
Localização

Os Árabes são originários da península arábica, uma região árida, feita sobre desertos e ornada pelos oásis. Seu tamanho é de aproximadamente 3.237.490 km², ao norte o Crescente Fértil (Mesopotâmia, Síria, e Palestina); ao leste e sul Golfo Pérsico e Oceano Índico; e por fim a oeste o Mar Vermelho. É nesta região que o islamismo, uma das três religiões abraâmicas, assim como o cristianismo e o judaísmo, surge para agregar os grupos basicamente nômades dos beduínos, e dos agricultores que viviam nos oásis e que eram por sua vez, controlados pelos beduínos.

Processo

Após o avanço islâmico através das ilhas de Chipre, Creta e Rodes, os Árabes começam a se alastrar por toda Península Ibérica começando pela Sicília e alcançando cidades portuguesas e espanholas, “o primeiro grande centro de transmissão de cultura do islão para o cristianismo, no Ocidente, foi a cidade de Toledo, reconquistada em 1085.” (LEWIS, 1966, 146) difundindo assim, sua cultura de forma mais democrática, em relação a que aí estava previamente instalada – religião cristã onde os textos em latim eram dominados por uma minoria elitista. A flexibilidade islâmica permite aos novos convertidos acesso aos textos literários, o que contagia e faz com que estes aceitem tal doutrina mais rapidamente e consequentemente, fazem também, a grande difusão da língua e literatura Árabe a partir de traduções desta para o latim. (LEWIS, 1966, 136)
É também muito importante dizer que os europeus aprenderam muito mais com os Árabes que vice-versa, “estes contatos proveitosos para o ocidente que aprendera muito com os Árabes, poucas consequências tiveram sobre estes” (LEWIS, 1996, 185) e após a renascença, as influências Árabes começam a tomar corpo, a possuir forma. O modelo de vida baseado no comércio, acaba por se espalhar por toda europa, “a partir do século XVI é já visível um novo tipo de relação entre o Ocidente e o Islão” (LEWIS, 1996, 186) , pois suas formas de organização para a política, diplomacia, tecnologia e formas de exercício do poder mudavam gradualmente da organização feudal para a capitalista.  
Assim, a cultura portuguesa se vê entre a preservação de um ”dialeto perto do latim vulgar” (MATTOSO, 1995, 321) e sua cultura também cristã preservada, em meio as disputas, e a forte influência Árabe que dura, de forma notória, desde o século IX até o século XIII.
Em virtude de toda esta vasta exposição a diferentes influências e culturas, Portugal inicia o processo de expansão marítima trazendo consigo tais influências que serão, por sua vez, legadas a futura sociedade de sua colônia além-mar, o Brasil, e alcançar a nossa atualidade de forma tão vigorosa e perceptível.

Conclusão

Conclui-se que, valorizar e observar o comportamento de outros povos e suas características compõe uma parte da História da qual não podemos abrir mão, e muito menos deixar de conhecer. De um lado, vimos que o período chamado de medieval não é apenas composto das sociedades européias, mas também, de várias outras, como as comunidades Árabes aqui apresentadas, por outro lado, devemos estar atentos para a idéia de que se houve uma sociedade coetânea do período medieval europeu, – como várias outras em todos os lados do planeta – no caso da sociedade semítica (os Árabes), é natural pensar que esta também compõe uma parcela da História Antiga em sua totalidade, e tal visão deve assim, ser aplicada a outras sociedades como as sul americanas, orientais, africanas etc. ao longo de toda periodização da história mundial.



Glossário

Açafrão: Erva abundante na Ásia e na Europa. 2. Sua flor. 3. Pó amarelo retirado, e usado como corante, tempero e medicamento.
Alicerces: A base enterrada no chão, das paredes de uma construção; fundação. 2. Fundamento.
Antroponímia: Estudo dos nomes próprios.
Arsenal: armazéns e dependências para fabrico e guarda de munições  e petrechos de guerra.
Arroba: Antiga unidade de peso, hoje arredondado em 15 quilos. 2. O símbolo @, usado, por extenso, para separar, em endereços eletrônicos de internet ,  a identificação do usuário e a da rede em que está registrado.
Dialeto: Variedade regional de uma língua.
Faiança: Louça de barro vidrado.
Legar: Deixar como legado; transmitir.
Nômades: Diz-se de tribos ou povos que estão sempre a deslocar-se em busca de alimentos, pastagens etc. 2. Que leva vida errante.
Oásis: Região com vegetação e água em meio a um grande deserto.
Têxtil: 1. Que se pode tecer ( fibra, fio) 2. Relativo a tecelões ou à tecelagem.
Toponímia: 1. Conjunto dos topônimos de uma região ou país, ou de uma língua. 2. Estudo linguístico do nome dos lugares.



Bibliografia

OLIVER, Roland. A experiência africana. Da pré-história aos dias atuais. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editores, 1994.
LEWIS, Bernard. Os Árabes na História. Lisboa, 2ª edição, Editorial Estampa, 1996.
MATTOSO, José. Identificação de um país. Lisboa, 5ª edição, Editorial Estampa, 1995.  



[1] Com o significado original de pequena pedra polida.
[2] IBRAHIM. I. A. A brief Illustrated Guide to Understanding Islam. Publishers e Distribuidores: Londres, 2008.

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