Como o ensino religioso é tratado no livro didático:
O Judaísmo nos Livros didáticos.
Alunos:
Joilson Bonfim[1];
Carlos Antônio[2];
Wilson Badaró[3].
Noções das abordagens religiosas nos livros didáticos de História.
Noções das abordagens religiosas nos livros didáticos de História.
INTRODUÇÃO
Neste
trabalho fizemos uma abordagem ao tratamento da religião judaica dentro do
livro didático do ensino médio, mais precisamente, partindo de análises das
coleções de História da editora Moderna dos anos 2002, 2005 e 2010. Nossa
abordagem prevê o uso do método comparativo como forma de perceber
continuidades e permanências na análise, discussão e exposição do tema aqui
proposto, que é a religião Judaica. Apoiados
também em dados quantitativos, nós calculamos que será possível além de uma
interpretação destas permanências e continuidades perceber também
transformações.
O
ideal é partir de uma teoria que se apoia nas bases interpretativas dos
conteúdos aí selecionados, em nosso caso, nas coleções de livros didáticos de
História do ensino médio. Dizemos conteúdos aí selecionados, pois, o objeto de
estudo de nosso referencial teórico, que nos remetemos para a construção de
nossa abordagem é o mesmo da autora mencionada, ou seja, o livro didático –
quanto aos conceitos, categorias e noções apresentados na obra de Circe
Bittencourt. Segundo esta autora, “uma das maiores dificuldades dos professores
de História é selecionar os conteúdos históricos apropriados para diferentes
situações escolares” (BITTENCOURT, 2009, p. 137), dando uma ideia de que as
construções dos elementos que constituem um livro didático devem, no mais das
vezes, contemplar os diferentes públicos de diferentes origens, culturas, bases
sociais, enfim, considerar a atual ideia de multiculturalismo e circularidade
cultural. É importante ressaltar tal dimensão plural da educação, pois, segundo
o professor Leandro Almeida “a adesão a uma visão de mundo não é apenas
intelectual, influenciando na organização do conhecimento, mas também é
emotiva”[1]
(2011, p. 07), e se assim o é, o conteúdo proposto deve respeitar as
diversidades destas emoções presentes em cada aluno e discutir tais vinculações
emotivas em suas bases expositivas culturais.
Apoiados
nesta necessidade de entender a edificação dos conteúdos relacionados ao
judaísmo inseridos no livro didático, tentaremos expor as inclusões e exclusões
destes conteúdos nas diferentes edições destas coleções propostas, uma vez que,
são estas transformações que se apresentarão nas seleções de conteúdos que, por
sua vez, denunciarão as permanências e as mudanças nestes livros e,
conseguintemente, suas escolhas teórico-metodológicas de ensino, assim bem
como, suas orientações e motivações políticas.
QUADRO TEÓRICO
Para melhor entender o nosso objeto
de estudo, o livro didático, escolhemos acompanhar as leituras e teorias de Circe
Bittencourt expostas em sua obra Ensino
de História que vê os livros didáticos como veículos de um sistema de valores “de ideologias de uma cultura de determinada
época e de determinada sociedade” (BITTENCOURT, 2009, p. 302).
Naturalmente,
esta é uma das formas de entender o livro didático de muitas outras propostas
pela autora onde estão apresentados os elementos constitutivos de um saber
selecionado que a posteriori
chamar-se-á conteúdos significativos que são, antes de tudo, a consciência
consensual de seus confeccionistas da “impossibilidade de se ensinar ‘toda a
história da humanidade’” atentando ainda para as novas demandas educacionais e
suas respectivas condições materiais (BITTENCOURT, 2009, p. 138). Assim,
tomaremos os assuntos e discussões encontrados nas coleções em questão como conteúdos
significativos para os autores proponentes.
Com estes dois conceitos percebemos
em nosso objeto que, nas duas coleções iniciais – 2002 e 2005 – havia uma
analogia e aproximação do judaísmo ortodoxo com o cristianismo, aparentemente,
com o intuito de facilitar ou tornar mais familiar as discussões acerca da
religião judaica uma vez que se usa como base um elemento mais presente,
teoricamente, na vida dos alunos, em nossa análise, o cristianismo católico e
protestante. Afirmamos isto com base nas passagens onde a Bíblia é projetada
como sendo também o livro sagrado oficial do judaísmo, assim bem como do
islamismo.
Fica
evidente que há aí uma “veiculação [orientada] de um
sistema de valores” que incide na projeção de uma ideologia que é mais
próxima a cultura ocidental e americana, a qual fomos historicamente
aproximados e orientados a aceitar como comum e pertencente ao nosso ambiente
cultural “natural”. É justamente por isto que faz grande sentido o segundo
conceito usado em nossa pesquisa para entender o porquê desta seleção, e,
sobretudo, o porquê desta forma de apresentação aproximada.
Utilizamo-nos
ainda da noção que entende os livros didáticos como suportes informativos que
aqui seriam discursos, enquanto produtos oriundos da indústria cultural, que
dispõem de um processo de formatação e padronização preestabelecidas por uma
fundamentação e orientação pedagógica. Segundo Bittencourt, são suportes
informativos todos aqueles que “correspondem a todo discurso produzido com a
intenção de comunicar elementos do saber das disciplinas escolares.” (BITTENCOURT,
2009, p. 296).
Também
nos ajudará a entender o livro didático a noção de documentos que são todos
os objetos de significância simbólica que a
priori não tem finalidade didática, mas, com a intermediação do professor
tornar-se-ão “conjuntos de signos,
visuais ou textuais, que são produzidos em uma perspectiva diferente dos
saberes das disciplinas escolares e posteriormente passam a ser utilizados com
finalidade didática”. (BITTENCOURT, 2009, pp. 296-297). Neste ponto
contamos com um exemplo empírico interessante de documentos utilizáveis e
inseridos na(s) obra(s) que estamos avaliando. (A bíblia, documentos
históricos, as recomendações de filmes e músicas que possam estar contidas nas
atividades dos livros etc.)
Analisamos
ainda as informações deste livro onde temos uma abordagem mais crítica ao papel
do livro didático em relação com o professor, e não tão somente em sua relação com
o aluno. As críticas de Bittencourt apontam para a ideia de um professor que
teve uma formação deficiente (não agravando a todos) e que acaba como refém da
indústria cultural através de seu produto mercadológico – o livro didático.
Depois, o livro se tornará um objeto mor de acúmulo de riquezas para as
empresas envolvidas ao mercantilizar a produção de material didático usando a
escola como receptáculo absorvedor de sua produção (BITTENCOURT, 2009, p. 298).
Estudo
de caso para exemplificação: “Para os pais de alunos, um bom professor era
aquele que, ao fim do ano, tinha concluído a tarefa de ‘dar todas as lições’ do
livro!” (BITTENCOURT, 2009, p. 309).
A apresentação anterior nos faz entender
então que há a necessidade de se entender o livro didático de outra forma.[2]
Entendê-lo como mercadoria: “produto cultural fabricado por técnicos que
determinam seus aspectos materiais, o livro didático caracteriza-se, nessa
dimensão material, por ser uma mercadoria ligada ao mundo editorial e à lógica
da indústria cultural do sistema capitalista” (BITTENCOURT, 2009, p. 301).
Tais exposições corroboram com outro
conceito tratando do livro didático como suporte de conhecimentos escolares é
inevitável à medida que temos a histórica participação do Estado (partindo do fim
da Segunda Guerra) na elaboração do livro didático e seu respectivo conteúdo “e
posteriormente estabelece critérios para avaliá-lo” (BITTENCOURT, 2009, p.
301). Ou seja, há uma forte intencionalidade política na elaboração destas
ferramentas educacionais e como bem observou Bittencourt: “não se possa negar e
omitir o papel dos valores e da ideologia nas obras didáticas, as práticas de
leitura desse material têm apontado para a importância das representações sociais na apreensão de seu conteúdo e método.”
(BITTENCOURT, 2009, p. 317).
De acordo com Bittencourt, analisando os
movimentos editoriais, “a História é uma das disciplinas que contam (SIC) com o
número mais elevado de títulos paradidáticos, e essa produção continua a
crescer, em consequência da indefinição[3] de
conteúdos propostos para o ensino fundamental e médio.” (2009, p. 308). Assim,
é justamente neste ponto que, o conceito central para a inserção de nossa
discussão entra em cena.
Este conceito seria o de cultura
escolar que, é entendido por Bittencourt como todas as múltiplas
possibilidades no campo das relações sociais e interação do ser – professores,
alunos, frequentadores casuais, pais etc. – com os espaços pedagógicos e suas
respectivas adjacências no sentido de apresentar um potencial cultural próprio para
cada instituição de ensino. Ou seja, a forma como os frequentadores deste
espaço se comportam ao se relacionar com ele em específico – considerando suas
peculiaridades –, e como o espaço influencia no comportamento de todos os seus
frequentadores de forma singular, quer sejam assíduos frequentadores ou não.
E neste momento, inserimos um dos mais
emblemáticos símbolos e itens constitutivos deste panorama social – o livro
didático – sem o qual, hoje, seria difícil imaginar este espaço pedagógico
constituído ou uma cultura escolar formada. Por todas as evidências teóricas
aqui apresentadas e pelos seus indícios que apontam o livro didático como parte
elementar do cenário educacional sem o qual seria difícil pensar uma educação
sólida vamos apresentar os resultados da pesquisa que o evolve.
CONCLUSÃO
Assim,
acordando com os dados quantitativos oriundos das comparações entre as
coleções, percebemos que há uma base consensual do que seja indispensável
constar como conteúdos significativos nas três diferentes coleções.
Percebemos uma persistência no tratar destes assuntos e que ao longo de oito
anos de transformações eles se mantiveram presentes e pertinentes, para todos
os autores envolvidos como dignos de constituírem o saber que deveria estar
presente nos suportes informativos e suportes de conhecimentos escolares,
ou seja, o livro didático. Contudo, como também nos mostra as bases
comparativas e quantitativas, a quantidade de itens relacionados à religião
Judaica e os pontos exclusivos para cada coleção são de uma discrepância que se
faz notória entre as coleções de 2002 e 2005 em um bloco e no outro bloco a
coleção de 2010. Sendo esta última, notoriamente, detentora de maior quantidade
de informações sobre a religião.
Nossa
hipótese incide em observar que houve uma mudança na autoria do livro didático
direcionado para esta faixa escolar, o ensino médio, e, eventualmente, as
possibilidades desta mudança funcionar como a principal razão das
transformações na forma, seleção, apresentação e distribuição das informações
são grandes. Obviamente, compreender que, a rigor, o autor não é sozinho o
responsável pela produção, e não seria ele, pela pluralidade de influências na
produção do livro didático, capaz de provocar tal revolução.
Isto
nos faz ponderar a sua influência e considerar o nosso atual contexto histórico
onde novas demandas surgem com força como é o caso do multiculturalismo que
urge atenção. Levando em conta o aspecto do livro enquanto mercadoria, devemos mais
uma vez lembrar que ele está sob a influência de fatores econômicos, políticos,
ideológicos, culturais – a partir de uma indústria – etc. que são também
indicadores concretos dos direcionamentos das novas tendências mercadológicas para
a produção do livro didático.
Desta
forma, concluímos que a razão da brusca mudança entre uma série de livros e
outra, se deve a múltiplos fatores que complexificam as razões de suas mudanças
e permitem ao historiador mais atento à leitura das demandas sociais e das
efervescências do contexto histórico onde o livro didático em questão fora
produzido. Em outras palavras, a partir desta experiência, compreendemos como o
livro didático pode servir como fonte para o historiador, ponto de leitura das
aspirações de uma determinada sociedade e os assuntos que foram privilegiados
ou silenciados em determinado contexto.
Por
assim ser, diversa e variada a realidade que envolve o tratamento do livro
didático, enquanto fonte de pesquisa histórica, e a partir desta consciência,
saber utilizar o próprio livro didático como base para o ensino de História é
que entendemos a sua inserção no amplo campo da muito discutida e considerada
hoje, cultura escolar.
Acordando
com os números discrepantes entre o bloco das coleções de 2002 e 2005 diante do
bloco formado pela coleção de 2010, notamos que os assuntos da religião judaica
são tratados de forma mais aprofundada e sistematizada na coleção de 2010. Não
deixamos de perceber, contudo, que no bloco de 2002 e 2005 temos quatorze
elementos em comum com o bloco de 2010, elementos estes que são fundamentais
para uma discussão básica sobre judaísmo. No entanto, não se deve desprezar, o
total montante de 39 itens da religião da coleção de 2010, que representam um
salto diferencial significativo em relação às outras duas obras.
O
mesmo diferencial se faz presente no número de páginas disponibilizadas para o
tratamento do assunto, uso de documentos
para o reforço na ênfase da discussão e a aparição do elemento central para a
compreensão da religião dos judeus, o Templo de Jerusalém.
Assim sendo, nota-se
permanências reveladoras em todas as obras e mudanças significativas ao longo
dos anos em termos quantitativos e qualitativos, mostrando que o livro didático
é, também, um espaço de disputas e concretização da ideia de poder.
[1]
ALMEIDA, L. A. VISÃO RELIGIOSA DE MUNDO
E ENSINO DE HISTÓRIA. In: XXVI Simpósio Nacional de História, 2011,
São Paulo. Anais do XXVI simpósio nacional da ANPUH - Associação Nacional de
História. São Paulo: ANPUH, 2011. v. 1. p. 1-12. O artigo do referido professor
encontra-se disponível em: http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1312324345_ARQUIVO_ReligiaoAulaHistoria-r.pdf
e foi acessado em: 29 de Novembro de 2012.
[2]
Atentar para a multiplicidade de influências na produção dos livros didáticos
que estão para além dos usos pedagógicos e didáticos per se ou sejam, intenções políticas, econômicas, culturais,
ideológicas etc. caso que vimos parcialmente na minissérie apresentada pelo
professor Leandro Almeida em sal de aula.
[3]
Grifo nosso. Aqui, abrimos margem para acreditar que as inovações apresentadas
pelo autor de 2010 possa ser uma incorporação de elementos oriundos de
materiais paradidáticos, produzidos colateralmente pela própria indústria
cultural, e que tenham sido sugeridos por ela mesma com o intuito de preencher
lacunas da antiga coleção.
[1]
Graduando em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
[2]
Graduando em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
[3]
Graduando em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
Referências Bibliográficas
MOTA, Miriam Becho,
BRAICK, Patrícia Ramos. História: das cavernas ao terceiro Milênio – 2ª
Ed. – São Paulo: Moderna, 2002. Coleção 2002. (Volume Único).
MOTA, Miriam Becho,
BRAICK, Patrícia Ramos. História: das cavernas ao terceiro Milênio – 1ª
Ed. – São Paulo: Moderna, 2005. Coleção 2005. (Volumes 1 e 3)
ALVES, Alexandre.
OLIVEIRA, Letícia Fagundes de. Conexões com a História: Das origens do
homem à conquista do Novo Mundo. – 1ª ed. – São Paulo: Moderna. 2010.
Coleção 2010. (Volumes 1 e 3).
BITTENCOURT, Circe
Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. – 3. ed. –
São Paulo: Cortez, 2009.
O Judaísmo nos Livros didáticos.
Anexo
Demonstrações dos dados colhidos, comparados e quantificados entre as coleções de 2002, 2005 e 2010. Estes dados são de extrema utilidade para a compreensão da conclusão do artigo supraescrito. Segue então as tabelas que apresentam uma ideia linear das nossas comparações em números e os gráficos para enfatizar as disparidades no sentido quantitativo:
Problematizações levantadas:
- Página 180-181 Edição de 2010 vol. 3 Por que a inserção de uma discussão sobre Israel e os pontos religiosos dos judeus no meio do assunto da guerra fria?
- Na página 55 da edição de 2002 volume único consta que a Bíblia é um livro sagrado para judeus, cristãos e muçulmanos. (Repete-se no volume 1 de 2005)
- A partir dos Dez mandamentos deu-se origem a um total de 613 mandamentos contidos na Torá.
- Na edição de 2002 na pagina 55 faltou comentar as leis da Torá que serviram de orientação para os juízes nos seus governos.
- Nas paginas 54 e 55 da edição de 2002 é citado o livro de Gênesis o qual narra à fixação do povo hebreu na Palestina. Anacronismo: em vez de Palestina o lugar na verdade chamava-se na época Canaã. Já na edição de 2010 cita corretamente Canaã.
- Faltou mencionar que dentro da organização social dos judeus a tribo de Levi é quem estava responsável pelo sacerdócio e sobretudo, pela transcrição das leis.
- Código de Hamurabi e relações com as leis judaicas. (olho por olho dente por dente). O autor não relaciona as similitudes.
- Na página 61 do volume 1 de 2005, por que a Bíblia e intitulada como livro cristão dentro de uma discussão judaica e não referido como livro judeu?
- Porque a palavra “decálogo” para descrever um documento e fato da história hebreia?
- Nas edições de 2002 e 2005 é citado que o rei Salomão morreu em 935 a. C., já na edição de 2010 é citado que Salomão morreu em 924 a. C.
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