Se formos perguntados será a História uma ciência? Qual será a nossa
reação?
Uma sugestão de Ciro Flammarion Cardoso, Edward Carr, Hélia Regina Mesquita de Jesus e Wilson Badaró.
BADARÓ, Wilson Oliveira e MESQUITA , Hélia Regina de Jesus
Sim, eu respondo. Por meio de análise minuciosa de textos, pode-se afirmar que vários autores passam por vários momentos de cientificidade e preenchem todos os requisitos
necessários para que suas obras, dentro da História sejam tidas como científicas. Utilizam-se de métodos comparativos de suas fontes, usam fatos sociais que estão exteriorizados em
relação aos indivíduos, induzem através de interpretação a aproximação objetiva
da verdade cumulativa, deduzem que seus objetos tenham ocorrido de forma abrangente através da
ótica atual, sobretudo, tentam afastar as suas pré-noções de seu objeto e mais.
Levando em conta o defendido por Pierre Vilar “a História como uma ciência em construção” (CARDOSO, 1981, p. 12), vemos que, como todas as outras ciências, a História busca satisfazer as necessidades do momento histórico em suas explicações. Em sua narração atingem quase que todos os níveis de desenvolvimento da ciência passando por todas as fases do processo cientificizante, isto em termos de História.
Embebidos em fontes do período vitoriano, se quisessem, e estivessem no período positivista poderiam alguns autores esboçar um autêntico “Wie es eigentlich gewessen”[1] seguindo a risca a máxima de Ranke para garantir a cientificidade abraçada no século XIX. No entanto o que vemos na atualidade acordando com C.P. Scott sacralizando os fatos, mas, libertando seu direito e dever da opinião com seus recortes, pois, tem a consciência que os fatos regem a lógica e a verdade da História, mas, somos nós, historiadores quem os organiza. Assim disse Parsons ciência é “um sistema seletivo de orientações cognitivas para a realidade,” e é isto mesmo que fazemos.
Levando em conta o defendido por Pierre Vilar “a História como uma ciência em construção” (CARDOSO, 1981, p. 12), vemos que, como todas as outras ciências, a História busca satisfazer as necessidades do momento histórico em suas explicações. Em sua narração atingem quase que todos os níveis de desenvolvimento da ciência passando por todas as fases do processo cientificizante, isto em termos de História.
Embebidos em fontes do período vitoriano, se quisessem, e estivessem no período positivista poderiam alguns autores esboçar um autêntico “Wie es eigentlich gewessen”[1] seguindo a risca a máxima de Ranke para garantir a cientificidade abraçada no século XIX. No entanto o que vemos na atualidade acordando com C.P. Scott sacralizando os fatos, mas, libertando seu direito e dever da opinião com seus recortes, pois, tem a consciência que os fatos regem a lógica e a verdade da História, mas, somos nós, historiadores quem os organiza. Assim disse Parsons ciência é “um sistema seletivo de orientações cognitivas para a realidade,” e é isto mesmo que fazemos.
Por isto é importante que, enquanto conhecedores de nossas limitações
devemos ter em mente o quão urgente é perceber e concordar com a
impossibilidade de se chegar a uma verdade definitiva e axiomática, “aceitando-se
já o caráter falível da ciência, cujas verdades são parciais e provisórias” (CARDOSO,
1981, p. 14) sabemos que assim é a História! Como dito pelo professor Luis
Fernando Saraiva, hoje professor da Universidade Federal Fluminense, “a alegria
é saber que muito em breve minhas dissertações, teses e concepções serão
superadas e eu verei isto!” Mas as suas verdades não serão perdidas no tempo! “E
sim incorporadas às novas em virtude da parcela de verdade que contêm,” (CARDOSO,
1981, p. 17), pois, também sabemos que a História, segundo a escola de Annales via Lucien Febvre, “é filha de
seu tempo”, ou como bem disse Croce, “toda história é história contemporânea”
(CROCE apud CARR, 1982, pp. 21-22) e que o “objeto do conhecimento é infinito” (SCHAFF
apud CARDOSO, 1981, p. 17) e a constante busca da verdade, mesmo sabendo-se que
esta verdade absoluta é inatingível, hoje é assumido como a principal
característica das ciências.
Assim sendo, voltamos a perguntar – Não é isto que fazemos a todo o
instante?! Quando perdemos horas e horas, dias e mais dias e por fim, toda as
nossas vidas debruçados sobre um sem número de fontes, dados e documentos? O
que estaremos nós historiadores fazendo? Ciência? Arte? Literatura?
Sabemos que “o conhecimento de um objeto infinito deve ser, portanto,
também infinito,” (CARDOSO, 1981, p. 17) mas, não permitimo-nos o esmorecimento
intelectual nem nos prostramos ante as acusações particulares da Física que nos
expulsa do mundo científico porque sabemos bem o que fazemos. Se o fato é
provar que os nossos objetos de estudo são reais, basta a afirmativa do tempo despendido
por nós em nossas incansáveis buscas pela verdade ainda que parcial para efeito
cumulativo de sua produção, obviamente, não gastaríamos tempo precioso para
defender e explicar o que é inexistente não é mesmo?
Que o diga Mario Bunge interpretado por Ciro Flamarion Cardoso a nosso
respeito com a seguinte afirmação; “ao se construir uma hipótese factual para
cobrir um conjunto de fatos, presume-se que tais fatos existam” (CARDOSO, 1981,
p. 20). Valendo-se do advogar marxista que demonstra que a ciência pode sim
acolher a História como mais nova componente do seu rol, porque, já que os
fatos podem se encontrar, em determinados momentos da história como repetitivos,
obviamente que não da mesma forma, mas, com os mesmos elementos que a constituem,
e assim sendo, pode-se, ainda que hipoteticamente, aplicar a mesma teoria e
método anteriormente usados para a análise e apreensão desta outra dada como
aproximada. Isto é, em se tratando de determinados tipos de sociedades, rezamos
para que seja então notado como invariantes elementos comuns sociais o como as
sociedades são historicamente construídas e como determinados elementos neste
processo de construção se repetem.
Como nos mostrou Thompson em uma de suas magníficas fontes trabalhadas,
quando traz à luz as dicotômicas sociedades industrializadas que obedecem
fielmente e inexoravelmente ao clamor da ordem do relógio nesta atual
realidade, e depara as sociedades capitalistas e sua forma de ver o tempo aos
camponeses cabilas da Argélia por exemplo que afirmam que “é inútil correr
atrás do mundo, ninguém jamais o alcançará” (THOMPSON, 1998, p 270) por
exemplo.
Em algum momento as sociedades sentirão necessidades de precisar as
divisões temporais e passarão por estágios similares, em alguma medida, experimentados
pelas sociedades industriais. Como ocorrido com Egito, Mesopotâmia e Índia em
seu processo de revolução econômica tido como a segunda revolução, pois, a
partir do contato destes povos, o intercambio cultural e comercial fez com que
se instalasse uma absorção generalizada de técnicas e conhecimentos levando todas,
de certa forma a passarem por estágios parecidos, naturalmente, em ritmos
distintos. Quanto a isto nos afirma Gordon Childe na obra A revolução urbana que “em cada região, os ferreiros trabalhavam
com as mesmas substancias químicas por processos simples e análogos,
transformando-as em ferramentas e armas que atendiam às necessidades humanas” (CHILDE,
1978, p. 145). Será que os fatos não são repetíveis na história? Será mesmo que
as transformações encaradas pelo Brasil e pela França não se equivalem em algum
ponto político, social, urbano ou cultural? Claro que as repetições não se
darão de forma absolutamente iguais, entretanto, os fatos das ciências ditas
“científicas” também não o são. Será que o átomo dividido uma vez é o mesmo
átomo que fora divido anteriormente? Será que o ambiente onde os físicos fazem
suas experiências com este átomo tem a mesmíssima composição/pressão
atmosférica? Ou ainda a parte divida será matemática e proporcionalmente igual
à primeira?
Enfim, fato é que este paradigma das comparações trazem consigo outro
caráter cientifico para a História que pode sim fazer comparações não apenas
hipotéticas como as supra mencionadas, mas tão tangíveis como os dedos que confeccionaram
este texto.
De volta a Mario Bunge ele afirma segundo interpretação de Cardoso que “não
explicamos o comportamento de um objeto com base em nossas expectativas nem em
verdades subjetivas, e sim nas propriedades do objeto que possam ser
objetivamente averiguáveis” (CARDOSO, 1981, p. 20).
É assim que procedemos com a História, se isto não for ciência então,
precisamos saber qual é a mais nova concepção da ciência que nos expurga de seu
âmago. Não construímos nada! Apenas interpretamos como se interpreta um
fenômeno vulcânico; observado de longe, ele é apenas mais um fenômeno natural,
sem a explicação interpretativa do geólogo, onde as causas podem ser múltiplas
como as composições do solo, placas tectônicas em movimento, gases em seu
interior etc. ele é só isto! Nada mais.
Ao observarmos como os historiadores interpretam uma batalha isolada, sem
a nossa interpretação de que pode a batalha estar sendo movida por interesses
políticos, religiosos econômicos e etc. ela é só isto! Nada mais! Por isto
insistirei com Bunge no que tange as formulações cientificistas: “se as teses e
teorias científicas fossem meras construções convencionais que não tentassem
refletir a realidade, não seriam necessárias sucessivas correções de tais
teorias” (CARDOSO, 1981, p. 21).
Como na ciência tudo é relativo e depende de seu referencial, na História
o referencial dos fatos somos nós historiadores que fazemos valer as notórias
composições das diferentes faces e possibilidades contingentes dos fatos. Sem a
nossa interpretação, preocupação em manter o passado e o presente em constante
evidência desde Heródoto até a atualidade, poderíamos perceber como percebeu Edward
Carr que as sociedades não poderiam ter qualquer compreensão imaginativa dos
povos anteriores e suas peculiaridades, “a ciência factual não prova a
existência do mundo (...) mas certamente supõe tal hipótese” (CARDOSO, 1981, p.
21) assim como as formas de saber que se propõem puramente “científicas”. Se
não podemos provar, segundo acusações externas, muitas coisas com exatidão,
também não o pode, nenhuma outra ciência. Ao menos, não como muitos gostariam...
Sim Historiadores! A história “científica”, se for nestes moldes
desejados pelos atuais postulados, está mais próxima do que se imagina! Pois,
em nossas interpretações incluímos muito do requerido como para se alcançar
este patamar, relacionamos muitas vezes em nossas descrições as relações
sócio-naturais com o intuito de realizar nas mentes que vão sorver estas
informações, o panorama mais próximo do real apresentado nas fontes, cumprindo
assim o primeiro ponto fundamental da concepção científica: a ciência é o
conhecimento das leis naturais e da sociedade, tendo como finalidade
proporcionar uma representação mental o mais adequada e aproximada possível dos
processos que ocorrem objetivamente na natureza e na sociedade (CARDOSO, 1981,
p. 24). Ou então, lendo as possibilidades de cientificizar a partir do emprego
de um conjunto de formas de agir que se conhece como método científico, que
seria na verdade a metodologia. Neste trecho da cientificidade histórica
deixaremos a palavra com o professor doutor Norberto Guarinello que diz que
“teoria e modelos são mediações cruciais; são modos de encarar os objetos
pesquisados, de selecionar fatos pertinentes e pô-los em relação.” (GUARINELLO, 2003, p. 44).
Justíssimo! Cada um de nós contribui harmonicamente para a conclusão da
cientificidade da História de forma linear e objetiva e completando este
quesito “método científico” e ainda porvir cientificidade da Historia
continuarei com Guarinello confirmando o almejado de “História científica é,
assim, um jogo interpretativo entre certos modelos e teorias e certos
documentos com base em generalizações ou contextos – as formas” (GUARINELLO, 2003, p. 45) por
isto é que vamos confirmar para que o mundo inteiro saiba que, os historiadores
também dispõem de métodos para a sua ciência em fase conclusiva.
Usamos livremente para os fins didáticos a ideologia ”Carriana” que
imbuída de pura gana do saber lançando a máxima imperativa que reza pela
“validade do conhecimento depende da validade do propósito” (CARR, 1982, p. 27)
ora então estamos no rumo certo! Se concordarmos que “a ciência é histórica é
portanto, falível; não pretende acumular verdades eternas, imutáveis e
absolutas, mas tende a um conhecimento completo pela acumulação de verdades parciais”
(CARDOSO, 1981, p. 25) então eis senhores historiadores a nossa redenção! Desde
Voltaire que não estamos mais presos ao particular político-econômico! Como bem
observa Ciro Flamarion Cadoso já dispomos de outros objetos e ciências
auxiliares e irmãs que nos fazem prontos pra vencer mais este obstáculo no
caminho da História. Honremos a época dourada dos nossos antecessores do século
XVIII que alumbraram a História com seus feitos! Os marxistas nos deram o
impulso que faltava com a visão da História “como um desenvolvimento
autodinâmico e autodeterminado” (CARDOSO, 1981, p. 35) que como disse Flamarion
“expulsa do âmbito explicativo quaisquer entidades ou enteléquias metafísicas
externas ao processo histórico” (CARDOSO, 1981, p. 35) sendo então a história
natural e social filhas de um mesmo pai. Já faz tempo que seguindo os Annales
problematizamos a História. Tornamo-la mais crítica de si mesma e da realidade
que a rodeia.
Se o maior empecilho para o cientificismo da História é como propõe Ciro
Flamarion a questão do particular aqui postulo nossa objeção à ótica centrada
de Flamarion à construção de uma urgente lei de generalização para a história.
Newton descobriu a gravidade espontaneamente em um momento de reflexão
intrínseca onde tudo se pôs em seu caminho por puro devir. Entretanto, deve-se
calcular o quão restrita é a Física em relação à História. Grandes gênios não
descobrem o que querem exatamente como querem e quando querem.
Se ainda não encontramos esta lei geral para a História é porque ainda
não necessitamos, pois, as conseqüências de tal descoberta podem ter efeitos de
natureza radical que exija toda uma revolução na História. É fato que precisamos
desta generalização? Acho que não. Não vamos deixar as tradicionais formas de
estudo em nome de um objeto ainda desconhecido aos nossos anseios, creio não
ser a melhor forma de fazer a História, seguindo um modelo singular e uniforme.
Parece muito atraente ainda a liberdade de lançar mão de qualquer aporte
teórico que se faça cabível ao meu propósito, qualquer método que esteja a
altura de minhas ambições explicativas. Fazendo o que sempre fizemos com as
novas técnicas e conhecimentos disponíveis causaremos sem duvidas um
afunilamento no objeto da História que nos levará as portas de sua lei geral,
sem, no entanto, nos desprendermos numa busca furtiva e possivelmente insólita.
[1]
Clássica frase de Leopold von Ranke que atestava a supremacia das fontes sobre
o historiador e que significa “apenas mostrar como realmente se passou”. Para
Maiores detalhes sobre tais discussões veja CARR, Edward Hallet. Que é
história? Rio de Janeiro, Paz e Terra, 3ª ed. 1982.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe o seu comentário contribuição, sugestão crítica e dúvidas. Agradecemos antecipadamente pela participação e auxílio na construção do saber que é de todos!