A mumificação no Egito Antigo e sua
contribuição para a medicina.
BADARÓ, Wilson Oliveira
Palavras chave – Mumificação, Egito, Medicina Egípcia.
De quem é o real mérito do título de pai da medicina? Hipócrates ou Imhotep?
Resumo
Trazemos aqui, a apresentação da
importância da consideração dos fatos históricos que apontam para um Egito
muito mais digno e criativo, mais cientifico e culto que a observância
eurocêntrica propõe. Esmiuçamos ao máximo possível as possibilidades de relatar
com base as verdadeiras tendências científicas do Egito antigo em seu próprio
contexto histórico, sobretudo, da medicina egípcia que contrariando as
expectativas expressas anteriormente pelos intelectuais e filósofos europeus
nos legaram. Trazemos um Egito sólido e independente sociocultural e
economicamente falando, e realçando essa situação de privilégio comum a todos
os egípcios antigos para explicar a razão principal que leva esta sociedade a
um patamar tão diferenciado de desenvolvimento em relação a todas as outras
sociedades de seu tempo. Frisamos aqui o valor, relegado ao esquecimento, do Imhotep,
proposto por nós como o real pai da medicina.
Resume
We bring in this issue, the importance of
presenting and considering the historical facts which points out to a more
dignified and creative Egypt and also more scientific and intellectual one than
the Eurocentric proposal done before. We researched on the best of our
possibilities to report it in full factual fundaments the real scientific
trends of the ancient Egypt on its own historical context, above all this, the
Egyptian medicine that is contradicting and going against all odds exposed and
left previously by the intellectuals and philosophers from Europe as our
present legacy. We bring as well, a solid Egypt shown as being social, cultural
and economically independent, and enlightening this situation, brought by
ourselves on this theme, of common privilege to all ancient Egyptians to
explain the main reason taking this society to such a different level of development
in comparison to other contemporary societies. We focused on the values, forced
to be forgotten, to Imhotep, proposed by us as the real father of
medicine.
Abordagem Geral
Iniciamos a nossa abordagem crítica a atual produção historiográfica e,
consequentemente, aos livros didáticos, por serem estes, em sua maioria, um
reflexo da primeira, e, a partir de uma citação referendada na história mundial
e proferida com ênfase aos egípcios e suas técnicas, que dentro da atual
historiografia, encontra-se relegada à diminuição de sua real importância. A
frase é do grego Homero que disse o seguinte: “No Egito, os homens são mais
hábeis em medicina do que qualquer outra espécie humana.”[1]
(Homero, VIII a.C. ).
Por assim ser, partimos do princípio de que toda a cultura, arte, ciência
e arquitetura ocidental, a começar com o a Grécia, são lentamente importadas do
Oriente Próximo, e, como tal, a esta altura da história, o Egito pertence a
este bloco do mundo, o Oriente Próximo. Daí lembramos que o Egito em muitas
situações, – e até pouco tempo se
encontrava presente nos livros didáticos tal leitura – não é visto como um território pertencente à
África, mas, sim ao Oriente Próximo, o que gera outra problemática que não
aprofundaremos aqui, e naturalmente, perpassa a proposta deste enfoque, que é o
da exclusão desta sociedade de seu continente de origem. Assim sendo temos uma
confirmação inicial que manifesta uma lógica no raciocínio dedutivo, e oferece
uma explicação quase que axiomática, a princípio, para a forma organizacional
das sociedades ocidentais e suas futuras estruturas socioculturais. O que
objetivamente tem relações com o surgimento, porvir, de técnicas e
conhecimentos diretamente ligados ao surgimento da medicina como a conhecemos
hoje. Os temas que abordam Gordon Childe, Ciro Flamarion Cardoso e Roland
Oliver[2],
fortalecem esta discussão que indica a nítida presença da cultura egípcia, como
parte desta nítida revolução tecnológica e socioeconômica, nos moldes das
sociedades ocidentais através dos tempos.
É notória a contribuição dos egípcios para a sedentarização das
sociedades que se valiam dos recursos naturais disponíveis, e melhoravam a
qualidade de vida dos seus membros através da produção, acumulação e
redistribuição de alimentos que, por sua vez, permitiram o aumento da população[3],
contrariando a prática nômade dita comum em sua época. Este acúmulo de gêneros
agrícolas, obviamente em menor escala, e a de animais, levam à um aumento não
apenas populacional, mas, sobretudo, comercial. Outros povos desprovidos das
mesmas técnicas, faculdades e facilidades no tocante ao desenvolvimento da
agricultura, porém, beneficiados com algum outro tipo de facilidade e
conhecimentos em obtenção de recursos naturais, que, por sua vez, se
apresentasse inexistente ou escasso para os egípcios, como: extração mineral,
pastoreio selvagem, coleta de madeiras etc. tais circunstâncias conduziram a lógica
econômica de permutas intersociais e dinamizaram não somente, como dito
anteriormente, a economia desta região, mas, sobremodo, as práticas, culturas e
conhecimentos envolvidos. Tais colocações históricas lançam a sociedade egípcia
em um patamar de interrelações, câmbios culturais e científicos tão amplos que
passam a se difundir em escala continental e levam técnicas de manuseio em
todos os segmentos a vários pontos destas sociedades que futuramente se
apropriariam de seus conhecimentos. Como afirma Childe:
E o comércio não se
limitava às matérias-primas. A segunda revolução já havia sido realizada no Egito
e na Índia; as cidades da Suméria mantinham relações comerciais com outras, no
Nilo e no Indo. As mercadorias manufaturadas pelas indústrias especializadas de
um centro urbano eram vendidas nos bazares de outro. (CHILDE, 1978, 150)
É esta expansão comercial que propicia a
difusão cultural a posteriori. A
fabricação de armas, a organização social, as técnicas agrícolas, as formas de
comércio e evidentemente, os conhecimentos da anatomia humana detida pelos
egípcios – e conseguintemente, a medicina. Gostaríamos de aqui expor algumas
das inovações técnicas e conhecimentos egípcios negligenciados pelos livros
didáticos e que sem sombra de dúvida, deveriam ser mais bem exploradas com a
finalidade de melhorar a visão dos estudantes de ensino médio e fundamental
acerca do Egito antigo e de sua primazia na descoberta e prática da medicina.
Então apresentamos tais técnicas e inovações a seguir:
ü
Criação do primeiro
calendário solar.
ü
Criação do benet (harpa em língua egípcia) um tipo
de harpa feita pelos egípcios, sendo o marco de uma grande iniciativa cultural
e preocupação com os sentidos.
ü
Precursores de
revoluções de cunho urbano, artístico e cultural.
ü
Criação da técnica de
mumificação.
ü
Revolução no modo de
produção agrícola denominado por Oliver Roland[7]
de “revolução da produção de alimentos.”
ü
Catalogação de
práticas médicas e de produções farmacológicas em tratados médicos reconhecidos
mundialmente – papiros de Ebers e Edwin Smith.
Estes são apenas alguns dos infindáveis
predicados do Egito que apontam para a sua alta propensão às inovações e
criações que nos fazem perceber o alcance de seu empreendedorismo sociocultural
e que, de certa forma, auxiliam as nossas provocações vindouras e aguçam os
nossos sentidos para a obviedade das seguintes indagações que inevitavelmente
insistem em popular as nossas mentes:
1.
Seriam mesmo estes
povos capazes de tal grandiosa empresa (a medicina), no que diz respeito à
mumificação e os seus respectivos conhecimentos anatômicos necessários para
tanto?
2.
Seriam mesmo estes
conhecimentos fundadores da medicina dita “Hipocrática” e por tanto, reais
detentores do famigerado título de “pais da medicina”?
3.
Os tratados
encontrados em papiros que apontam para toda uma preocupação destes povos em
preservar a vida não são suficientes para denotar seu compromisso principal
neste contexto, que acorda com a meta mor da medicina? –que é justamente a
manutenção da vida?
A estas indagações, convocaremos uma celebre
citação para nos fundamentar e ajudar a responder tais questões: “Comecemos
pelas operações destinadas a conservar a realidade pessoal de qualquer morto, a
mumificação. É uma prática que exige, ao mesmo tempo, capacidades técnicas,
conhecimentos ou experiência de anatomia e de química (...)” (O. Berlev, et al,
1994, 223). Ou ainda como ressaltado em revista eletrônica acerca do
desenvolvimento farmacêutico egípcio.
Uma das
revelações mais impressionantes ao estudar a herança do Antigo Egito é seu
desenvolvimento em medicina e farmacologia. Em O Legado do Antigo Egito, o
egiptólogo Warren R. Dawson, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, cita
papiros médicos datados de até mais de 40 séculos atrás retratando
procedimentos médicos e remédios usados até hoje por profissionais da área de
saúde. (Superinteressante, Karen Gimenez)
Põe-se a sociedade egípcia, a mais antiga
comprovadamente, em um permanente estágio de desenvolvimento e adiantamento
técnico-científico, em virtude de suas ações racionais e voltadas para uma
finalidade prática, em relação aos seus concorrentes ocidentais.
É muito comum que a maior parte das colocações,
quanto aos egípcios, suas manipulações de substâncias e uso da medicina per se, através das práticas médicas,
oriundas de historiadores, venham a pender única e exclusivamente para o lado
da “vaidade”, “da magia”, ou de uma arte “mortuária”,que, de certo modo, não
dignificam integralmente as proezas desta sociedade tão revolucionária. Não
estamos aqui secundarizando a importância das práticas mágicas ou de sua
simbologia dentro desta sociedade, porém, chamamos a atenção para o fato deste
tipo de abordagem não nos apresentar toda a realidade dada destas práticas se
partirmos sempre desta perspectiva. Dito de outro modo, olhar as práticas
egípcias apenas para a sua vertente mágica e simbólica é negligenciar a
magnitude das possibilidades e, sobretudo, dispensar a riqueza da complexidade
das evidências deixadas nestes papiros e seu processo de catalogação. Se
fizermos as perguntas corretas à estas fontes, teremos, seguramente, uma outra
gama de respostas que nos revelaram um outro mundo ainda não visto, ainda
inexplorado, ainda, negligenciado. Ainda hoje...
É evidente a influência tendenciosamente
eurocêntrica nestas colocações de cunho pejorativo quanto à prosperidade
científica e sociocultural do Egito.
E agora sim, o debate mais objetivo. O crédito
da “paternidade” da medicina deve sim ser questionado partindo racionalmente destas
evidências supramencionadas. Quem foi Imhotep? O que fez de relevante para
abrir instigar a presente investigação?
Figura 1: Embate entre os precursores das práticas
médicas.
Imhotep, como a maior parte dos destaques
históricos da humanidade é lembrado pelos egípcios de uma forma realmente
honrosa. Tido pelos estudiosos em geral como um homem extremamente polivalente,
ele é lembrado como arquiteto, médico, matemático, entalhador, escultor,
astrônomo, físico e detentor de vários outros conhecimentos e atributos
necessários para a execução de maior parte das tarefas que ele se propunha a
realizar. Imhotep era um incansável pesquisador, um inquieto e amante do saber.
A enciclopédia Britânica relata que a evidência
obtida por textos egípcios e gregos nos mostra que a reputação de Imhotep foi
muito respeitada em épocas antigas[8].
A este ícone do povo egípcio são atribuídas uma série de obras e
empreendimentos arquitetônicos como a Pirâmide de Djoser (também conhecida como
a pirâmide escalonada ou dos degraus) ou pirâmide de Sakkara[9]
(a primeira supostamente construída no Egito) sendo que esta serviu de exemplo
para a construção das outras pirâmides tidas como perfeitas, e de várias
edificações daquele período que foram feitas de material similar. Neste
fragmento biográfico do gênio inovador de Imhotep podemos dizer que
Imhotep es el
primer arquitecto y médico conocido en la historia. También es considerado el
primer genio conocido del mundo. Fue visir del faraón Djoser, y diseñó la
conocida como «Pirámide de Djoser» en Saqqara alrededor de 2630-2611 a.c.,
durante la 3ª dinastía. Fue elegido para ser un hijo de Ptah y reverenciado
como genio. Su lista completa de títulos es: Canciller del rey, primero del
bajo y después del alto Egipto, administrador del Gran Palacio, Alto noble,
Sumo Sacerdote de Heliopolis, Constructor, Escultor y Fabricante Jefe. Imhotep
esta considerado como el fundador de la medicina egipcia, y autor del «Papiro
Edwin Smith» sobre curaciones, dolencias y observaciones anatómicas. El Papiro
Edwin Smith fue escrito probablemente alrededor de 1700 a.c.[10]
Imhotep é o
primeiro arquiteto conhecido na história. Também é considerado o primeiro gênio
conhecido do mundo. Foi vizir do faraó Djoser e desenhou a conhecida como “Pirâmide de
Djoser” em Saqqara por volta de 2630-2611 a.C, durante a 3ª dinastia. Foi
escolhido para ser um filho de Ptah e reverenciado como gênio. Sua lista
completa de títulos é: Chanceler do rei, primeiro do baixo e depois do alto
Egito, administrador do Grande Palácio, Alto nobre, Sumo Sacerdote de
Heliópolis, Construtor, Escultor-mor e fabricante chefe. Imhotep está
considerado como o fundador da medicina egípcia, e autor do “Papiro Edwin Smith”
sobre curas, doenças, e observações anatômicas. O papiro Edwin Smith foi
escrito provavelmente por volta de 1700 a.C.[11]
Este é o perfil desta personalidade histórica
egípcia. Imhotep é herdeiro de uma sociedade empreendedora em termos de ciência
e cultura, e contemporâneo da era egípcia denominada “a era de ouro, do
empreendimento e do saber”[12]
sob influencia do faraó Djoser. Assim, Imhotep explora as necessidades daqueles
enfermos que de seu cuidado necessitavam, embora se diga corriqueiramente que
Imhotep era exclusivamente médico de Djoser, há uma lista de enfermos por ele
tratados: São num total de 200 doenças, 15 doenças do abdômen, 11 da bexiga, 10
do reto, 29 dos olhos, e 18 da pele, do cabelo, e das doenças venéreas.
Tais relatos podem ser verificados através de
papiros médicos que relatavam os processos, causas, efeitos e também através de
vestígios arqueológicos como nos conta uma passagem de uma difundida revista brasileira
que comenta sobre o assunto assim: “Ao escavar vinte tumbas de um cemitério ao
sul do Cairo, o arqueólogo Zahi Hawas encontrou vestígios de que os
trabalhadores das pirâmides recebiam tratamento médico. Alguns eram, inclusive,
submetidos a sofisticadas cirurgias para os padrões da época.” (Veja, Eduardo Junqueira) que também
confirmam que a medicina egípcia e, principalmente, a referida atuação de
Imhotep não se destinavam exclusivamente ou simplesmente a membros da realeza.
Outro fator é o do uso de seus utensílios e
aparatos cirúrgicos que nos remetem a crença de precisão necessária para
alcançar os resultados positivos esperados. Seguramente, a maior parte destes
instrumentos usados para as cirurgias eram de autoria do próprio Imhotep, pois,
sendo ele conhecedor de vários outros
campos do saber, e um pesquisador constante, ele bem sabia as necessidades que
estariam por vir em suas intervenções médicas, e dentre elas, as práticas
conhecidas com invasivas. E, diante de tais conhecimentos e natural que se
deduza que os instrumentos necessários seguramente forma elaborados sistematicamente
e cuidadosamente pelo Imhotep, pois, ele, obviamente, detinha conhecimentos
suficientes para elaborá-los. Os demais utensílios já eram seguramente
conhecidos dos egípcios que já faziam circuncisão desde 4.500 a.C. como se pode
perceber na figura 2 apresentada na próxima página aqui exposta. Por tais
evidências manteremos a discussão no campo da necessidade de se revisar as
atuais abordagens às práticas médicas e também, por que não, farmacológicas
desenvolvidas pelos egípcios a partir de seus conhecimentos práticos e suas
catalogação legadas para a posteridade já que contamos com os papiros de Ebers
e Edwin Smith como provas e fontes.
Figura 2: Circuncisão de 4.500 anos:
primeiro registro pictórico de uma cirurgia egípcia.
Figura 3: Foto da reveladora inscrição em hieróglifos com
o nome de Imhotep em destaque.
Temos uma retratação desta passagem que exprime
uma visão sempre mágica e, consequentemente, “divinificadora” de Imhotep, como
comenta o site “biografias e vidas”:
De Imhotep han llegado diferentes estatuas de diversos
materiales -la mayoría de bronce; en ellas aparece representado como sacerdote
(con la cabeza rapada, vestido talar y rollo de papiro) y médico divino. En
algunos templos de Egipto y de Nubia subsisten representaciones murales de
Imhotep como divinidad, portando el cetro was y el símbolo ankh.[13]
Do Imhotep
chegaram estátuas de diversos materiais – a maioria de bronze; nelas aparece
representado como (um) sacerdote (com a cabeça raspada, trajado à talar e (um)
rolo de papiro) e médico divino. Em alguns templos do Egito e da Núbia
subsistem representações em pedra talhada do Imhotep como (uma) divindade, portando
o cetro “Was” e o símbolo da cruz egípcia.[14]
É justo este tipo de
visão reducionista e simplificadora de um passado mais complexo que se quer
aqui problematizar, é contra tais abordagens tradicionalistas que queremos nos
levantar. Favorecendo a “história problema” e criticando proveitosamente a história
tradicionalmente “pragmática”. São estes os motores desta pesquisa que quer
apresentar um passado mais próximo da realidade material do que da realidade ideologicamente
intencional.
Contudo, não se pensa ou, ao menos, não se quer,
muito provavelmente, pensar que tal designação divinal deste sábio esteja
meramente fadada à ótica popular coetânea, ou seja, assim colocada apenas por
seus contemporâneos. As possibilidades são infindáveis. E se Imhotep não se
sentisse um mago? E se suas atitudes, conhecimentos e capacidades fossem o
estopim que levara a população egípcia antiga a lhe render tal honraria, e não
exatamente fosse este o seu desejo ou objetivo?
É muito natural que pessoas até os dias de hoje
chamem médicos que salvam suas vidas de “anjos”, de “santos”, e até alguns mais
exaltados os tratam por “filhos abençoados de deus” como era visto o próprio
Imhotep “o filho de Ptah” em seu tempo não apenas pelo povo, mas, também pela
realeza. É neste ponto que queremos chamar a atenção. Na idéia de um Imhotep
forçosamente divinizado. E, consequentemente, se uma personalidade com esta
influência em sua sociedade é relacionada unicamente às práticas mágicas,
eventualmente, toda asua sociedade seguirá o mesmo destino. Antevendo esta
projeção, do micro – a biografia de Imhotep – para o macro – toda a dimensão da
sociedade egípcia – é que propomos e recomendamos mais cuidado ao se tratar da
história da medicina, práticas médicas e produções farmacológicas no Egito
antigo.
Menciona-se que em sua descendência Imhotep
legou, a partir de exemplos de práticas, condutas e empreendedorismo, uma série
de grandes arquitetos cujos nomes figuram em uma inscrição do “Udai Hammamat”[15],
aí figuram como arquitetos, mas não como
magos. E se muitos dos documentos históricos atribuem a divindade de Imhotep como
no caso da construção da pirâmide de Djoser e seus feitos em geral, por que
outros nomes da história egípcia tão relevantes em práticas médicas também não o
obtiveram? Creio ser apenas uma questão de percepção, pois, é ridículo que
tantas evidências sejam refutadas do meio do ensino geral e acadêmico.
Informações como as do arqueólogo Hawass que afirmam que “eram pessoas
comuns que se curaram e voltaram ao trabalho (...) alguns corpos apresentavam
marcas de fraturas consolidadas, membros amputados e até cirurgias cerebrais.” [16]que
enaltece o que disse e afirma uma visão popular e real de um Imhotep como
deidade.
Lembramos ainda que a chamada, discriminadamente,
“África branca” preservou e legou Imhotep para a posteridade de forma muito
interessante. Sua possível história biográfica conta com um nascimento
simplório, em comunidade humilde de Memphis
e outras proposições autorais mencionam sua origem à uma vila de Gebelein. Por fim, sua genialidade lhe
garante uma ascensão através das classes sociais vigentes em seu período.
Conclusão
Com tais confirmações vemos agora o elevado
grau de comprometimento de Imhotep com a medicina, e assim sendo, o de sua
sociedade contemporânea e não somente dele em específico. Seguindo com a conclusão
de nossas impressões sobre Imhotep e sua relevante contribuição para a medicina
e também para a história da humanidade acreditamos que novas pesquisas surjam e aumentem o nosso
conhecimento acerca desta temática. Esperamos que nossa contribuição possa
estimular não apenas o aprofundamento na história africana, egípcia e médica,
mas, apoiar a inclusão de assuntos interessantes como o exposto para toda a
rede do ensino médio, que carece de discussões mais polemizadas e abrangentes
gerando assim, novos conhecimentos para a posteridade. Esperamos ainda que
estas provocações ajudem na confecção da construção do livro didático, trazendo
um livro mais crítico e muito mais próximo do meio acadêmico, e as novidades
que aí surgem. Expor uma crítica tal como fizemos, requer o árduo desejo de
incitar o conhecimento e globalizar as possibilidades ao seu extremo, exaltando
por consequência o bom saber.
Bibliografia
OLIVER,
Roland. The African Experience: From Olduvai Gorge to the 21st Century, 1991,
Revised 1999;
KI-ZERBO, Joseph. História geral
da África. São Paulo/Paris, Ática/UNESCO, 1980.
COSTA E SILVA, Alberto da. A
enxada e a lança. A África antes dos portugueses. Rio de Janeiro, Nova
Fronteira, 2006.
Sites consultados para
a pesquisa contendo os assuntos e temas
aqui tratados disponíveis em:
Acesso em: 23/11/10
[1]Citação
Homérica encontrada em sua suposta obra, Odisséia, que é de fato resultado
direto das correntes artísticas e filosóficas de seu tempo, como rapsodos
(poesia oral ou recital de poesias).
[2]Estes
três historiadores colaboraram com obras que enaltecem a evolução, e da
migração cultural de sociedades orientais para o ocidente. Ver “A Experiência
Africana” cap. 5; “O Homem Egípcio” cap. IX.
[3]Cf.
Gordon Childe “A revolução cultural do Homem” cap. 7 A revolução urbana.
[4]Id.
IBID.
[5]Ver
Cardoso “O Egito Antigo” pag. 22.
[6]Ver
Site da revista Superinteressante.
[7]Ver
Roland Oliver em “A experiência africana” pag. 65
[8]Texto
integral disponível no site da
Enciclopédia Britânica Online tratando
especificamente da personalidade de Imhotep disponível em: http://www.britannica.com/EBchecked/topic/283435/Imhotep
Acesso em: 23 de novembro de 2010.
[9]Famosa
por ser também a primeira edificação funerária com estas características no
Egito antigo. Ver Revista eletrônica disponível em: http://www.biografica.info/biografia-de-imhotep-1225,
acesso em: 23 de novembro de 2010.
[10]Texto
integral disponível em: http://www.arquitectuba.com.ar/arquitectos/imhotep-biografia-y-obras/,
acesso em: 23 de novembro de 2010.
[11]Tradução
nossa.
[13] Disponível em: www.biografiasyvidas.com, acesso
em: 23 de novembro de 2010.
[14]Tradução
nossa.
[15]Uadi
Hammamat em árabe significa: vale dos banhos numerosos. É uma região
mineira, situada no deserto oriental do Egito que vai desde o Qift na beira do
Nilo à Qusayr na costa do Mar Vermelho.
[16]Assunto
tratado em artigo apresentado na revista eletrônica da editora Abril por GIMENEZ,
Karen apud HAWASS in: A fantástica ciência do
Antigo Egito. O artigo está disponível
em: http://super.abril.com.br/superarquivo/2003/conteudo_292892.shtml,
acesso em: 23 de novembro de 2010.
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