sábado, 15 de dezembro de 2012


A mumificação no Egito Antigo e sua 

contribuição para a medicina.


BADARÓ, Wilson Oliveira


Palavras chave – Mumificação, Egito, Medicina Egípcia.


De quem é o real mérito do título de pai da medicina? Hipócrates ou Imhotep?


Resumo

Trazemos aqui, a apresentação da importância da consideração dos fatos históricos que apontam para um Egito muito mais digno e criativo, mais cientifico e culto que a observância eurocêntrica propõe. Esmiuçamos ao máximo possível as possibilidades de relatar com base as verdadeiras tendências científicas do Egito antigo em seu próprio contexto histórico, sobretudo, da medicina egípcia que contrariando as expectativas expressas anteriormente pelos intelectuais e filósofos europeus nos legaram. Trazemos um Egito sólido e independente sociocultural e economicamente falando, e realçando essa situação de privilégio comum a todos os egípcios antigos para explicar a razão principal que leva esta sociedade a um patamar tão diferenciado de desenvolvimento em relação a todas as outras sociedades de seu tempo. Frisamos aqui o valor, relegado ao esquecimento, do Imhotep, proposto por nós como o real pai da medicina.

Resume

We bring in this issue, the importance of presenting and considering the historical facts which points out to a more dignified and creative Egypt and also more scientific and intellectual one than the Eurocentric proposal done before. We researched on the best of our possibilities to report it in full factual fundaments the real scientific trends of the ancient Egypt on its own historical context, above all this, the Egyptian medicine that is contradicting and going against all odds exposed and left previously by the intellectuals and philosophers from Europe as our present legacy. We bring as well, a solid Egypt shown as being social, cultural and economically independent, and enlightening this situation, brought by ourselves on this theme, of common privilege to all ancient Egyptians to explain the main reason taking this society to such a different level of development in comparison to other contemporary societies. We focused on the values, forced to be forgotten, to Imhotep, proposed by us as the real father of medicine.        



Abordagem Geral

Iniciamos a nossa abordagem crítica a atual produção historiográfica e, consequentemente, aos livros didáticos, por serem estes, em sua maioria, um reflexo da primeira, e, a partir de uma citação referendada na história mundial e proferida com ênfase aos egípcios e suas técnicas, que dentro da atual historiografia, encontra-se relegada à diminuição de sua real importância. A frase é do grego Homero que disse o seguinte: “No Egito, os homens são mais hábeis em medicina do que qualquer outra espécie humana.”[1] (Homero, VIII a.C. ).

Por assim ser, partimos do princípio de que toda a cultura, arte, ciência e arquitetura ocidental, a começar com o a Grécia, são lentamente importadas do Oriente Próximo, e, como tal, a esta altura da história, o Egito pertence a este bloco do mundo, o Oriente Próximo. Daí lembramos que o Egito em muitas situações, –  e até pouco tempo se encontrava presente nos livros didáticos tal leitura –  não é visto como um território pertencente à África, mas, sim ao Oriente Próximo, o que gera outra problemática que não aprofundaremos aqui, e naturalmente, perpassa a proposta deste enfoque, que é o da exclusão desta sociedade de seu continente de origem. Assim sendo temos uma confirmação inicial que manifesta uma lógica no raciocínio dedutivo, e oferece uma explicação quase que axiomática, a princípio, para a forma organizacional das sociedades ocidentais e suas futuras estruturas socioculturais. O que objetivamente tem relações com o surgimento, porvir, de técnicas e conhecimentos diretamente ligados ao surgimento da medicina como a conhecemos hoje. Os temas que abordam Gordon Childe, Ciro Flamarion Cardoso e Roland Oliver[2], fortalecem esta discussão que indica a nítida presença da cultura egípcia, como parte desta nítida revolução tecnológica e socioeconômica, nos moldes das sociedades ocidentais através dos tempos.

É notória a contribuição dos egípcios para a sedentarização das sociedades que se valiam dos recursos naturais disponíveis, e melhoravam a qualidade de vida dos seus membros através da produção, acumulação e redistribuição de alimentos que, por sua vez, permitiram o aumento da população[3], contrariando a prática nômade dita comum em sua época. Este acúmulo de gêneros agrícolas, obviamente em menor escala, e a de animais, levam à um aumento não apenas populacional, mas, sobretudo, comercial. Outros povos desprovidos das mesmas técnicas, faculdades e facilidades no tocante ao desenvolvimento da agricultura, porém, beneficiados com algum outro tipo de facilidade e conhecimentos em obtenção de recursos naturais, que, por sua vez, se apresentasse inexistente ou escasso para os egípcios, como: extração mineral, pastoreio selvagem, coleta de madeiras etc. tais circunstâncias conduziram a lógica econômica de permutas intersociais e dinamizaram não somente, como dito anteriormente, a economia desta região, mas, sobremodo, as práticas, culturas e conhecimentos envolvidos. Tais colocações históricas lançam a sociedade egípcia em um patamar de interrelações, câmbios culturais e científicos tão amplos que passam a se difundir em escala continental e levam técnicas de manuseio em todos os segmentos a vários pontos destas sociedades que futuramente se apropriariam de seus conhecimentos. Como afirma Childe:

E o comércio não se limitava às matérias-primas. A segunda revolução já havia sido realizada no Egito e na Índia; as cidades da Suméria mantinham relações comerciais com outras, no Nilo e no Indo. As mercadorias manufaturadas pelas indústrias especializadas de um centro urbano eram vendidas nos bazares de outro. (CHILDE, 1978, 150)
  
É esta expansão comercial que propicia a difusão cultural a posteriori. A fabricação de armas, a organização social, as técnicas agrícolas, as formas de comércio e evidentemente, os conhecimentos da anatomia humana detida pelos egípcios – e conseguintemente, a medicina. Gostaríamos de aqui expor algumas das inovações técnicas e conhecimentos egípcios negligenciados pelos livros didáticos e que sem sombra de dúvida, deveriam ser mais bem exploradas com a finalidade de melhorar a visão dos estudantes de ensino médio e fundamental acerca do Egito antigo e de sua primazia na descoberta e prática da medicina. Então apresentamos tais técnicas e inovações a seguir:

ü  A descoberta do vidro e das faianças.[4]
ü  Criação do primeiro calendário solar.
ü  Criação do benet (harpa em língua egípcia) um tipo de harpa feita pelos egípcios, sendo o marco de uma grande iniciativa cultural e preocupação com os sentidos.
ü  Simplificação e melhoramento no sistema hidráulico de irrigação por tanques.[5]
ü  Precursores de revoluções de cunho urbano, artístico e cultural.
ü  Criação da técnica de mumificação.
ü  Criação da cerveja.[6]
ü  Revolução no modo de produção agrícola denominado por Oliver Roland[7] de “revolução da produção de alimentos.”
ü  Catalogação de práticas médicas e de produções farmacológicas em tratados médicos reconhecidos mundialmente – papiros de Ebers e Edwin Smith.

Estes são apenas alguns dos infindáveis predicados do Egito que apontam para a sua alta propensão às inovações e criações que nos fazem perceber o alcance de seu empreendedorismo sociocultural e que, de certa forma, auxiliam as nossas provocações vindouras e aguçam os nossos sentidos para a obviedade das seguintes indagações que inevitavelmente insistem em popular as nossas mentes:
1.      Seriam mesmo estes povos capazes de tal grandiosa empresa (a medicina), no que diz respeito à mumificação e os seus respectivos conhecimentos anatômicos necessários para tanto?
2.      Seriam mesmo estes conhecimentos fundadores da medicina dita “Hipocrática” e por tanto, reais detentores do famigerado título de “pais da medicina”?
3.      Os tratados encontrados em papiros que apontam para toda uma preocupação destes povos em preservar a vida não são suficientes para denotar seu compromisso principal neste contexto, que acorda com a meta mor da medicina? –que é justamente a manutenção da vida?
A estas indagações, convocaremos uma celebre citação para nos fundamentar e ajudar a responder tais questões: “Comecemos pelas operações destinadas a conservar a realidade pessoal de qualquer morto, a mumificação. É uma prática que exige, ao mesmo tempo, capacidades técnicas, conhecimentos ou experiência de anatomia e de química (...)” (O. Berlev, et al, 1994, 223). Ou ainda como ressaltado em revista eletrônica acerca do desenvolvimento farmacêutico egípcio.

Uma das revelações mais impressionantes ao estudar a herança do Antigo Egito é seu desenvolvimento em medicina e farmacologia. Em O Legado do Antigo Egito, o egiptólogo Warren R. Dawson, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, cita papiros médicos datados de até mais de 40 séculos atrás retratando procedimentos médicos e remédios usados até hoje por profissionais da área de saúde. (Superinteressante, Karen Gimenez)

Põe-se a sociedade egípcia, a mais antiga comprovadamente, em um permanente estágio de desenvolvimento e adiantamento técnico-científico, em virtude de suas ações racionais e voltadas para uma finalidade prática, em relação aos seus concorrentes ocidentais.
É muito comum que a maior parte das colocações, quanto aos egípcios, suas manipulações de substâncias e uso da medicina per se, através das práticas médicas, oriundas de historiadores, venham a pender única e exclusivamente para o lado da “vaidade”, “da magia”, ou de uma arte “mortuária”,que, de certo modo, não dignificam integralmente as proezas desta sociedade tão revolucionária. Não estamos aqui secundarizando a importância das práticas mágicas ou de sua simbologia dentro desta sociedade, porém, chamamos a atenção para o fato deste tipo de abordagem não nos apresentar toda a realidade dada destas práticas se partirmos sempre desta perspectiva. Dito de outro modo, olhar as práticas egípcias apenas para a sua vertente mágica e simbólica é negligenciar a magnitude das possibilidades e, sobretudo, dispensar a riqueza da complexidade das evidências deixadas nestes papiros e seu processo de catalogação. Se fizermos as perguntas corretas à estas fontes, teremos, seguramente, uma outra gama de respostas que nos revelaram um outro mundo ainda não visto, ainda inexplorado, ainda, negligenciado. Ainda hoje...
  É evidente a influência tendenciosamente eurocêntrica nestas colocações de cunho pejorativo quanto à prosperidade científica e sociocultural do Egito.

E agora sim, o debate mais objetivo. O crédito da “paternidade” da medicina deve sim ser questionado partindo racionalmente destas evidências supramencionadas. Quem foi Imhotep? O que fez de relevante para abrir instigar a presente investigação?

Figura 1: Embate entre os precursores das práticas médicas.

Imhotep, como a maior parte dos destaques históricos da humanidade é lembrado pelos egípcios de uma forma realmente honrosa. Tido pelos estudiosos em geral como um homem extremamente polivalente, ele é lembrado como arquiteto, médico, matemático, entalhador, escultor, astrônomo, físico e detentor de vários outros conhecimentos e atributos necessários para a execução de maior parte das tarefas que ele se propunha a realizar. Imhotep era um incansável pesquisador, um inquieto e amante do saber. A enciclopédia Britânica relata que  a evidência obtida por textos egípcios e gregos nos mostra que a reputação de Imhotep foi muito respeitada em épocas antigas[8]. A este ícone do povo egípcio são atribuídas uma série de obras e empreendimentos arquitetônicos como a Pirâmide de Djoser (também conhecida como a pirâmide escalonada ou dos degraus) ou pirâmide de Sakkara[9] (a primeira supostamente construída no Egito) sendo que esta serviu de exemplo para a construção das outras pirâmides tidas como perfeitas, e de várias edificações daquele período que foram feitas de material similar. Neste fragmento biográfico do gênio inovador de Imhotep podemos dizer que

Imhotep es el primer arquitecto y médico conocido en la historia. También es considerado el primer genio conocido del mundo. Fue visir del faraón Djoser, y diseñó la conocida como «Pirámide de Djoser» en Saqqara alrededor de 2630-2611 a.c., durante la 3ª dinastía. Fue elegido para ser un hijo de Ptah y reverenciado como genio. Su lista completa de títulos es: Canciller del rey, primero del bajo y después del alto Egipto, administrador del Gran Palacio, Alto noble, Sumo Sacerdote de Heliopolis, Constructor, Escultor y Fabricante Jefe. Imhotep esta considerado como el fundador de la medicina egipcia, y autor del «Papiro Edwin Smith» sobre curaciones, dolencias y observaciones anatómicas. El Papiro Edwin Smith fue escrito probablemente alrededor de 1700 a.c.[10]

Imhotep é o primeiro arquiteto conhecido na história. Também é considerado o primeiro gênio conhecido do mundo. Foi vizir do faraó Djoser e desenhou a conhecida como “Pirâmide de Djoser” em Saqqara por volta de 2630-2611 a.C, durante a 3ª dinastia. Foi escolhido para ser um filho de Ptah e reverenciado como gênio. Sua lista completa de títulos é: Chanceler do rei, primeiro do baixo e depois do alto Egito, administrador do Grande Palácio, Alto nobre, Sumo Sacerdote de Heliópolis, Construtor, Escultor-mor e fabricante chefe. Imhotep está considerado como o fundador da medicina egípcia, e autor do “Papiro Edwin Smith” sobre curas, doenças, e observações anatômicas. O papiro Edwin Smith foi escrito provavelmente por volta de 1700 a.C.[11]

Este é o perfil desta personalidade histórica egípcia. Imhotep é herdeiro de uma sociedade empreendedora em termos de ciência e cultura, e contemporâneo da era egípcia denominada “a era de ouro, do empreendimento e do saber”[12] sob influencia do faraó Djoser. Assim, Imhotep explora as necessidades daqueles enfermos que de seu cuidado necessitavam, embora se diga corriqueiramente que Imhotep era exclusivamente médico de Djoser, há uma lista de enfermos por ele tratados: São num total de 200 doenças, 15 doenças do abdômen, 11 da bexiga, 10 do reto, 29 dos olhos, e 18 da pele, do cabelo, e das doenças venéreas.
Tais relatos podem ser verificados através de papiros médicos que relatavam os processos, causas, efeitos e também através de vestígios arqueológicos como nos conta uma passagem de uma difundida revista brasileira que comenta sobre o assunto assim: “Ao escavar vinte tumbas de um cemitério ao sul do Cairo, o arqueólogo Zahi Hawas encontrou vestígios de que os trabalhadores das pirâmides recebiam tratamento médico. Alguns eram, inclusive, submetidos a sofisticadas cirurgias para os padrões da época.” (Veja, Eduardo Junqueira) que também confirmam que a medicina egípcia e, principalmente, a referida atuação de Imhotep não se destinavam exclusivamente ou simplesmente a membros da realeza.
Outro fator é o do uso de seus utensílios e aparatos cirúrgicos que nos remetem a crença de precisão necessária para alcançar os resultados positivos esperados. Seguramente, a maior parte destes instrumentos usados para as cirurgias eram de autoria do próprio Imhotep, pois, sendo ele conhecedor  de vários outros campos do saber, e um pesquisador constante, ele bem sabia as necessidades que estariam por vir em suas intervenções médicas, e dentre elas, as práticas conhecidas com invasivas. E, diante de tais conhecimentos e natural que se deduza que os instrumentos necessários seguramente forma elaborados sistematicamente e cuidadosamente pelo Imhotep, pois, ele, obviamente, detinha conhecimentos suficientes para elaborá-los. Os demais utensílios já eram seguramente conhecidos dos egípcios que já faziam circuncisão desde 4.500 a.C. como se pode perceber na figura 2 apresentada na próxima página aqui exposta. Por tais evidências manteremos a discussão no campo da necessidade de se revisar as atuais abordagens às práticas médicas e também, por que não, farmacológicas desenvolvidas pelos egípcios a partir de seus conhecimentos práticos e suas catalogação legadas para a posteridade já que contamos com os papiros de Ebers e Edwin Smith como provas e fontes.

Figura 2: Circuncisão de 4.500 anos:
primeiro registro pictórico de uma cirurgia egípcia.
Figura 3: Foto da reveladora inscrição em hieróglifos com o nome de Imhotep em destaque.


Temos uma retratação desta passagem que exprime uma visão sempre mágica e, consequentemente, “divinificadora” de Imhotep, como comenta o site “biografias e vidas”:

De Imhotep han llegado diferentes estatuas de diversos materiales -la mayoría de bronce; en ellas aparece representado como sacerdote (con la cabeza rapada, vestido talar y rollo de papiro) y médico divino. En algunos templos de Egipto y de Nubia subsisten representaciones murales de Imhotep como divinidad, portando el cetro was y el símbolo ankh.[13]
Do Imhotep chegaram estátuas de diversos materiais – a maioria de bronze; nelas aparece representado como (um) sacerdote (com a cabeça raspada, trajado à talar e (um) rolo de papiro) e médico divino. Em alguns templos do Egito e da Núbia subsistem representações em pedra talhada do Imhotep como (uma) divindade, portando o cetro “Was” e o símbolo da cruz egípcia.[14]

É justo este tipo de visão reducionista e simplificadora de um passado mais complexo que se quer aqui problematizar, é contra tais abordagens tradicionalistas que queremos nos levantar. Favorecendo a “história problema” e criticando proveitosamente a história tradicionalmente “pragmática”. São estes os motores desta pesquisa que quer apresentar um passado mais próximo da realidade material do que da realidade ideologicamente intencional.
Contudo, não se pensa ou, ao menos, não se quer, muito provavelmente, pensar que tal designação divinal deste sábio esteja meramente fadada à ótica popular coetânea, ou seja, assim colocada apenas por seus contemporâneos. As possibilidades são infindáveis. E se Imhotep não se sentisse um mago? E se suas atitudes, conhecimentos e capacidades fossem o estopim que levara a população egípcia antiga a lhe render tal honraria, e não exatamente fosse este o seu desejo ou objetivo?
É muito natural que pessoas até os dias de hoje chamem médicos que salvam suas vidas de “anjos”, de “santos”, e até alguns mais exaltados os tratam por “filhos abençoados de deus” como era visto o próprio Imhotep “o filho de Ptah” em seu tempo não apenas pelo povo, mas, também pela realeza. É neste ponto que queremos chamar a atenção. Na idéia de um Imhotep forçosamente divinizado. E, consequentemente, se uma personalidade com esta influência em sua sociedade é relacionada unicamente às práticas mágicas, eventualmente, toda asua sociedade seguirá o mesmo destino. Antevendo esta projeção, do micro – a biografia de Imhotep – para o macro – toda a dimensão da sociedade egípcia – é que propomos e recomendamos mais cuidado ao se tratar da história da medicina, práticas médicas e produções farmacológicas no Egito antigo.
Menciona-se que em sua descendência Imhotep legou, a partir de exemplos de práticas, condutas e empreendedorismo, uma série de grandes arquitetos cujos nomes figuram em uma inscrição do “Udai Hammamat”[15], aí figuram como arquitetos, mas não como magos. E se muitos dos documentos históricos atribuem a divindade de Imhotep como no caso da construção da pirâmide de Djoser e seus feitos em geral, por que outros nomes da história egípcia tão relevantes em práticas médicas também não o obtiveram? Creio ser apenas uma questão de percepção, pois, é ridículo que tantas evidências sejam refutadas do meio do ensino geral e acadêmico. Informações como as do arqueólogo Hawass que afirmam que “eram pessoas comuns que se curaram e voltaram ao trabalho (...) alguns corpos apresentavam marcas de fraturas consolidadas, membros amputados e até cirurgias cerebrais.” [16]que enaltece o que disse e afirma uma visão popular e real de um Imhotep como deidade.
Lembramos ainda que a chamada, discriminadamente, “África branca” preservou e legou Imhotep para a posteridade de forma muito interessante. Sua possível história biográfica conta com um nascimento simplório, em comunidade humilde de Memphis e outras proposições autorais mencionam sua origem à uma vila de Gebelein. Por fim, sua genialidade lhe garante uma ascensão através das classes sociais vigentes em seu período.

Conclusão

Com tais confirmações vemos agora o elevado grau de comprometimento de Imhotep com a medicina, e assim sendo, o de sua sociedade contemporânea e não somente dele em específico. Seguindo com a conclusão de nossas impressões sobre Imhotep e sua relevante contribuição para a medicina e também para a história da humanidade acreditamos  que novas pesquisas surjam e aumentem o nosso conhecimento acerca desta temática. Esperamos que nossa contribuição possa estimular não apenas o aprofundamento na história africana, egípcia e médica, mas, apoiar a inclusão de assuntos interessantes como o exposto para toda a rede do ensino médio, que carece de discussões mais polemizadas e abrangentes gerando assim, novos conhecimentos para a posteridade. Esperamos ainda que estas provocações ajudem na confecção da construção do livro didático, trazendo um livro mais crítico e muito mais próximo do meio acadêmico, e as novidades que aí surgem. Expor uma crítica tal como fizemos, requer o árduo desejo de incitar o conhecimento e globalizar as possibilidades ao seu extremo, exaltando por consequência o bom saber.



Bibliografia

OLIVER, Roland. The African Experience: From Olduvai Gorge to the 21st Century, 1991, Revised 1999;

KI-ZERBO, Joseph. História geral da África. São Paulo/Paris, Ática/UNESCO, 1980.

COSTA E SILVA, Alberto da. A enxada e a lança. A África antes dos portugueses. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2006.

Sites consultados para a pesquisa contendo os  assuntos e temas aqui tratados disponíveis em:

Acesso em: 23/11/10




[1]Citação Homérica encontrada em sua suposta obra, Odisséia, que é de fato resultado direto das correntes artísticas e filosóficas de seu tempo, como rapsodos (poesia oral ou recital de poesias).
[2]Estes três historiadores colaboraram com obras que enaltecem a evolução, e da migração cultural de sociedades orientais para o ocidente. Ver “A Experiência Africana” cap. 5; “O Homem Egípcio” cap. IX.
[3]Cf. Gordon Childe “A revolução cultural do Homem” cap. 7 A revolução urbana.
[4]Id. IBID.
[5]Ver Cardoso “O Egito Antigo” pag. 22.
[6]Ver Site da revista Superinteressante.
[7]Ver Roland Oliver em “A experiência africana” pag. 65
[8]Texto integral disponível no site da Enciclopédia Britânica Online  tratando especificamente da personalidade de Imhotep disponível em: http://www.britannica.com/EBchecked/topic/283435/Imhotep Acesso em: 23 de novembro de 2010.
[9]Famosa por ser também a primeira edificação funerária com estas características no Egito antigo. Ver Revista eletrônica disponível em: http://www.biografica.info/biografia-de-imhotep-1225, acesso em: 23 de novembro de 2010.
[10]Texto integral disponível em: http://www.arquitectuba.com.ar/arquitectos/imhotep-biografia-y-obras/, acesso em: 23 de novembro de 2010.
[11]Tradução nossa.
[13] Disponível em: www.biografiasyvidas.com, acesso em: 23 de novembro de 2010.
[14]Tradução nossa.
[15]Uadi Hammamat em árabe significa: vale dos banhos numerosos. É uma região mineira, situada no deserto oriental do Egito que vai desde o Qift na beira do Nilo à Qusayr na costa do Mar Vermelho.
[16]Assunto tratado em artigo apresentado na revista eletrônica da editora Abril por GIMENEZ, Karen apud HAWASS in: A fantástica ciência do Antigo Egito. O artigo está disponível em: http://super.abril.com.br/superarquivo/2003/conteudo_292892.shtml, acesso em: 23 de novembro de 2010. 

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