História
Contemporânea: Abordagens e métodos para aulas no Ensino Médio
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Wilson Oliveira Badaró
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Resumo:
O presente texto apresenta um resumo acerca dos conteúdos relacionados com a
disciplina de Laboratório de Ensino de História Contemporânea trazendo
conjunturalmente uma proposta metodológica para as atividades docentes em
nível de Ensino Médio. Tal trabalho visa apresentar articulações pedagógicas
dos conteúdos vistos no curso de Licenciatura Plena em História e os
conteúdos cobrados como parte das matrizes curriculares do Ensino Médio e
Fundamental. O propósito da produção é também obter a aprovação na
disciplina em questão após anuência do ministrante da disciplina, professor
doutor Vinícius Rezende.
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Texto eleito: HOBSBAWM, Eric J. “A queda do liberalismo”.
In: Era dos extremos: o breve século
XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, pp. 113-143.
Introdução
O texto inicia sua apresentação com
duas citações que induzem seu leitor a perceber como as ideias de um líder
político tomaram dimensões dogmáticas e, por muitas vezes se materializaram em
seus alvos de convencimento por haver tomado proporções axiomáticas levando-nos
a pensar como o conceito de dominação se aplica aqui e se afirma.
Evidentemente, se compreendermos a dominação, do ponto de vista mais
conceitual, como a realização das vontades de alguém sobre outrem que não a
pessoa proponente desta vontade, então, vemos que na segunda citação do texto
de Hobsbawm, as vontades do Fürher
foram devidamente materializadas e cumpridas neste relato. Acredito que esta
introdução ao texto faça fronteira bastante tênue com a temática do
nacionalismo, e que as ideias propagadas dentro dos processos de construção da
identidade nacional – como no ufanismo de Afonso Celso, por exemplo – , façam,
de fato, alguma conexão com os processos de convencimento usados em conjunto
com o conceito de dominação. Contudo, esta discussão mais teórica não é o
objetivo deste trabalho e pode bem ser discutido em outro trabalho.
A discussão se inicia com exposição
de valores oriundos originalmente das ideias da ilustração (século das luzes)
onde a racionalidade era a base para todas as ações. Estes valores eram voltados
para a racionalidade que, por sua vez, colocavam o homem no centro das
discussões e pretendiam avançar, sendo este avanço entendido como uma digressão
da pretensa barbárie obtido por um cumprimento mais detido das leis e normas
sociais vigentes visando um melhoramento geral na condição do homem.
Hobsbawm demonstra como estes
valores se espraiaram rapidamente fundados em constituições que garantiam
amplamente direitos humanos, liberdades e ações mais democráticas no sentido da
democracia, sendo eles importados de país para país, pois representavam uma
síntese, no campo político, dos ditos avanços nas condições humanas. Não
obstante, tais valores não eram uma unanimidade, sobretudo, entre as
forças tradicionalistas como a Igreja Católica
Romana, que ergueu barricadas defensivas de dogmas contra as forças superiores
da modernidade; por uns poucos rebeldes intelectuais e profetas do apocalipse,
sobretudo de ‘boas famílias’ e centros estabelecidos de cultura, de certo modo
parte da civilização que contestavam; e pelas forças da democracia, no todo um
fenômeno novo e perturbador (HOBSBAWM, 1995, p. 114).
Ou seja, diante da realidade de uma
grande maioria de iletrados a falta do acesso à informação mais geral era facilmente
explorada por intelectuais e influentes personalidades do cenário político e
religioso e, segundo Hobsbawm, a disputa era menos política que econômica, contudo,
o parlamentarismo representativo se difundia com maior notoriedade entre os
países independentes e se excetuarmos os “fósseis políticos jurássicos
isolados” (HOBSBAWM, 1995, p. 114) e outros que dispunham de leves elementos
que indicavam alguma imersão nas ideias liberalistas. Contudo, conclui que “um
terço da população do mundo vivia sob domínio colonial” (HOBSBAWM, 1995, p.
114).
Nesta altura, o autor apresenta
elementos que nos levam a entender que apesar das ideias do liberalismo estarem
se difundindo com fluidez, a democracia não acompanhava o passo em
concomitância. Dito de outra forma, nem todos os países que dispunham de uma
inclinação liberal era também democrático, uma vez que “a lista de Estados consistentemente constitucionais e não
autoritários no hemisfério ocidental era curta” (HOBSBAWM, 1995, p. 115),
demonstrando uma grande oscilação das tendências políticas entre a esquerda e a
direita.
Hobsbawm precisa que pelo fato de boa
parte do mundo estar sob regimes coloniais e não liberais e, sobretudo, como em
outras partes do globo, o liberalismo entrou em descenso e com maior ênfase
após a assunção de Hitler ao poder e como, gradualmente, este descenso só se
acentuou até 1944 (HOBSBAWM, 1995, p. 115).
Trata o autor de frisar como a
resistência e oposição ao liberalismo emanavam basicamente da direita e como as
tensões em torno deste ideário liberal se configuraram entre estes dois polos
da política mundial e passará a partir daqui a discutir como o conceito de
fascismo é por ele visto. Dentro destas discussões, Hobsbawm inclui os limites
e alcances do conceito, assim bem como sua real relevância no tocante a sua
aplicabilidade em outras realidades que não a italiana e a teutônica.
Parece-me aí que o autor tenta
veementemente separar a ideia conceitual totalitarismo do conceito de fascismo,
pois, segundo ele, nem todos os regimes totalitaristas que buscaram derrubar
“os regimes liberal-democráticos” (HOBSBAWM, 1995, p. 116) eram necessariamente
fascistas. Contudo, apresenta uma leitura propondo que o “fascismo, primeiro em
sua forma original italiana, depois na forma alemã do nacional-socialismo,
inspirou outras forças antiliberais” (HOBSBAWM, 1995, p. 116), forças estas que
corroboram o processo de declínio do liberalismo usando como modelo algumas
formas do fascismo.
Estas forças, em todos os lugares
onde elas prevaleceram se opunham à revolução social, pois ela representava a
transformação indesejada – sobretudo para os direitistas – da “ordem social” e,
segundo Hobsbawm, as forças coercitivas, militares e policiais, por exemplo,
tinham o melhor momento para a ação – como vimos aqui no Brasil este fenômeno
suceder.
Em sequência, o autor apresenta as
tendências políticas da direita e fazendo uma taxonomia de como estes regimes
autoritários e conservadores, e seus respectivos representantes, mantinham as
afinidades com o fürher e ou, também,
suas diferenças, – caso de Churchil contrariando a expectativa Tory. No primeiro tipo ele apresenta a
falta de ideologia peculiar, mas apenas alguns elementos comuns com o fascismo.
O segundo tipo, chamado pelo autor
de “estatismo orgânico”, se diferenciava pela resistência ao liberalismo e sua
característica individualista e “a ameaça do trabalhismo e do socialismo” (HOBSBAWM,
1995, p. 117), reforçando as antigas leis mecanicistas de um funcionamento
social meramente orgânico e estratificado, onde a ordem de cunho estamental era
aceita e difusa. Contudo, ela mais se aproximava dos tipos autoritários e
burocráticos que de uma utopia a lá
Thomas Morus.
Dentro desta discussão, Hobsbawm
afirma que a Igreja não era fascista apesar de ser altamente reacionária, e que
por muitas vezes fora ela vista como opositora deste fascismo, ainda que o
fascismo tenha se utilizado em grande parte da estrutura tradicionalista da
Igreja para fundamentar e cristalizar suas premissas. Obviamente, a Igreja
enquanto instituição plural e de amplas proporções contou com outras vertentes
que se aliaram ao fascismo – integristas – que dispunham como elemento comum de
suas afinidades do ódio pelo iluminismo, contudo, tais junções, não podem ser
generalizadas ou projetadas para a Igreja como um todo. Estas rupturas
ideológicas dentro da instituição católica gerou disputas, resistências e
colaborações que modificaram em muito o perfil desta instituição desde então.
Estas mudanças se traduziram em intervenções sociais da Igreja que foram
bastante favoráveis à causa trabalhista (HOBSBAWM, 1995, p. 119).
A partir deste momento, o autor
apresentará as ligações do fascismo com o nazismo e defenderá a ideia de que,
sem o fascismo, o nazismo, em seus moldes conhecidos hoje, seguramente não
seria possível, assim como, sem o nazismo, o fascismo não teria tido a projeção
que teve em virtude dos impactos causados pelo primeiro. Hobsbawm aponta como
houve uma troca intensa de práticas, ideologias e apoio entre estes dois
regimes e as especificidades que caracterizaram ambos dentro do percurso
histórico, tais como: racismo, antisemitismo, anticomunismo, antiliberalismo,
nacionalismo forte etc. (HOBSBAWM, 1995, pp. 120-121)
Hobsbawm propõe que a diferença
básica entre a direita que era adepta do fascismo e a não fascista se resumia
na forma da mobilização das massas. (HOBSBAWM, 1995, p. 121) Enquanto os
fascistas abraçavam a ideia – quase populista, senão o era – de discursos em
praças públicas, aproximação do povo através de retórica que descrevia os
anseios do povo, focando sua retórica na manutenção das tradições prezadas
pelas massas sem recorrer a bastiões das tradições como a Igreja ou a aristocracia,
os seus concorrentes não o faziam.
Como uma das bases do nazifascismo
jazia no racismo, a eugenia não tardou a surgir como fundamento da
superioridade e da base para uma população melhor e mais forte, e em boa parte,
a tecnologia disponível naquele momento, fez o resto do fomento.
Hobsbawm irá apresentar a mobilidade
demográfica como um fato extremamente pertinente daquele momento histórico para
entender os princípios básicos da xenofobia tão difundida na Alemanha e,
sobremodo, nos EUA.
Evidentemente, o próximo passo
será, para o autor, apresentar elementos que nos façam compreender as razões
históricas dos ressentimentos germânicos em relação aos judeus. A aderência dos
judeus aos ideais iluministas e sua onipresença – a questão da notoriedade e
visibilidade destes em lugares de destaque no comércio e cargos públicos, na
visão dos germânicos, expropriando-lhes de atividades e lugares que deveriam
por eles ser ocupados (além de um ideário mítico relacionado a crenças
medievais de práticas judaicas) – foram o suficiente para mover uma raça
perfeita contra uma raça indesejada historicamente em vários lugares do globo.
Partindo destas bases, os progroms se espraiaram de forma
pandêmica pelo mundo pangermânico como reforço do já instalados antisemitismo e
racismo, e obviamente, tais mecanismos de exclusão serviam, em contrapartida,
como autoafirmação do crescente nacionalismo que andava a passos largos com o
apoio dos intelectuais.
Acordando com Hobsbawm, a
participação das massas em favor do nazismo foi notória, “se estabeleceram
governos fascistas com legitimidade pública, como na Itália e Alemanha” (HOBSBAWM,
1995, p. 125). Obviamente, este apoio em massa da população a um regime
fascista como na Alemanha, segundo o autor, está relacionado com o fato da
Grande Depressão. Ou seja, diante de um grande caos econômico, quando muitos se
desesperaram, a transformação da economia veio por meio de um governo com estas
características – a fascista, pois, segundo Hobsbawm
do mesmo modo como dinamismo dos
comunistas exerceu uma atração sobre a esquerda desorientada e sem leme após
1933, também os sucessos do fascismo, sobretudo depois da tomada nacional-socialista
da Alemanha, deram a impressão de que ele era a onda do futuro. (HOBSBAWM,
1995, p. 127)
Deste ponto em diante, o autor nos apresenta
o que parece impossível, sendo para ele bastante nítido que o fascismo é um
movimento liderado por direitistas e as tendências de revolução social como um
movimento de esquerda, o autor aceita que Lênin tenha inspirado Hitler e
Mussolini, contudo, não admite teses que aproximem a inspiração do
holocausto haver partido das mazelas
também perpetradas à sociedade pela Revolução Russa. O autor apresentará as
questões militares do pós guerra (I Grande Guerra) e da intencionalidade
política velada na utilidade de contraposição do fascismo ante os movimentos de
revolução social. (HOBSBAWM, 1995, p. 128) Assim, o autor refuta todas as
desculpas teóricas e hipotéticas que tentem aproximar ambos os fenômenos
sociais dos lados opostos da política.
Hobsbawm se preocupa ainda em
demonstrar, para efeito de consolidar a ideia de como o fascismo deu certo, que
a anterioridade das bases fascistas na população, mesmo sem o domínio ou o
controle, exerceram influência sobre a população como que preparando-a
antecipadamente para os modelos que tendiam a serem implantados posteriormente.
Aliado a isto, a queda de antigos líderes e poderes abre caminho ao fascismo (HOBSBAWM,
1995, p. 129).
Dessa forma, Hobsbawm propõe que
Hitler não tenha tomado o poder, mas apenas tenha chegado até ele por
“conveniência” porque todo o cenário era favorável à isto: população descrente,
economia fraca, Estado abalado etc. Seguindo esta discussão, ele desconstrói
mais duas teses sobre uma pretensa Revolução fascista e um capitalismo
monopolista (HOBSBAWM, 1995, pp. 129-130).
Mais adiante o autor irá discutir
as especificidades do fascismo italiano e também do alemão, apresentando
detalhes dos bons resultados econômicos do fascismo em virtude de sua postura
patronal diante do capital eliminando “os sindicatos e outras limitações aos
direitos dos empresários de administrar sua força de trabalho” (HOBSBAWM, 1995,
p. 132). Conjuntamente, Hobsbawm nos dá algumas informações sobre as condições
favoráveis do Estado alemão para prosperar como: seu tamanho, sua localização geográfica,
e os potenciais econômico e militar (HOBSBAWM, 1995, p. 133).
Após tais apresentações o autor faz
uma analogia entre Rússia e Alemanha que, seguramente, ele achou cabível. Que
ambas, em seus propósitos e propostas foram bem sucedidas historicamente. Logo
em seguida apresenta o que esboçou no início da discussão. Como o fascismo teve
repercussão e teve alguns de seus elementos constitutivos em todo o mundo,
salvando-se as devidas proporções e especificidades. Apresenta como alguns
elementos estavam presentes no Japão, mas, sem que esse país fosse
necessariamente fascista (HOBSBAWM, 1995, pp. 134-135), e fazendo interessantes
colocações e provocações sobre as Américas, mas insuficientes para que as
tomemos como discussões profundas (HOBSBAWM, 1995, pp. 136-137).
Por fim, Hobsbawm dá ênfase a ideia
de separação objetiva entre nacionalismo e fascismo, tratando de expor
características de um e de outro, de como no fascismo alemão, por exemplo, o
arianismo era algo importante na constituição de uma identidade fascista da
política social e de como o nacionalismo, em alguns países, poderia entravar o
fascismo.
Após estas discussões, ele fará um
resumo de tudo o que fora discutido e reafirmará o papel central que a Grande
Depressão teve para o sucesso do fascismo e como a fragilidade do liberalismo
também colaborou para este desfecho, apresentando quatro condições que
apresentavam estas fragilidades: a questão da legitimidade; compatibilidade da
composição étnica popular; da burocratização (parlamentos) que deveria
facilitar, mas acabou entravando a máquina estatal democrática; e, finalmente,
a questão da riqueza e da prosperidade. O autor acredita que a democracia se
demonstrou ineficaz e apenas serviu de aparelho de conciliação de grupos
antagônicos, e por assim ser, sua credibilidade e fiabilidade já não eram tão
claras na segunda metade do século XX.
No geral, o resumo do texto foi
satisfatório, mas alguns parágrafos não foram bem elaborados, conforme
destaquei acima.
Proposta metodológica para a aula de Ensino Médio
A proposta para trabalhar os
conteúdos traz novas ferramentas para as aulas, fazendo uso de novas
linguagens, mas que tanto pode trazer métodos inovadores quanto preservar os
métodos tradicionais com o fim de se obter bons resultados com estas
ferramentas, desde que criativamente utilizado. Por sinal, para aqueles que
acreditam ser uma perda de tempo o uso de jogos eletrônicos, MMORPG (Multiple
Massive Online Roling Playing Game ou Massive
Multiplayer Online Role-Playing Game: Jogos Online para
Múltiplos Jogadores de Representação) e RPG (Role Playing Game: Jogo de
Representação de Personagens) para a educação, fora veiculado no sábado do ano de
2013 em 19 de Outubro, uma matéria especial na emissora de televisão Globo
entre as 06:00 e 08:00 da manhã dedicando este período para discutir os usos,
limites e alcances desta linguagem/produto da indústria cultural como
ferramenta de auxílio aos professores em diversas escolas e na educação como um
todo. Assim sendo, proponho esta inovação como ferramenta de auxílio para
fixação e compreensão de conteúdos no ensino de História.
Diante desta nova possibilidade
dentro do ensino, que se apresenta como uma forma de atrair e prender a atenção
dos alunos, pois, estes já estão bastante “conectados” e atentos a estas
ferramentas, os jogos aparecem como uma forma real de possibilitar a
horizontalização das relações entre aluno e professor. Considerando as
problemáticas do tempo real, da hiperconectividade e, sobretudo, diante deste
contexto de imediatismo, pode-se ainda, enquanto professor, argumentar junto
aos alunos que tal escolha visa evitar a previsibilidade da elaboração de
nossas aulas, pois, com um elemento livre de representação como o RPG/MMORPG
nunca se pode prever o andamento e os rumos da exposição dos fatos nele
contidos, ou, quais aspectos dos fatos nos ateremos para problematizar
historicamente.
É ainda interessante, obviamente, que
os professores possam fazer um resgate dos jogos eletrônicos e transformar a
representação dos personagens históricos dos games numa avaliação bastante rica
usando jogos que partem objetivamente de acontecimentos históricos tidos como dados
em jogos como: Age of Empire I, Age of Empire II, Age of Empire III,
Civilizations I, Civilizations II, Civilizations III, Civilizations IV, Civilizations
V, ou ainda Age of Mithology I, Age of Mithology II dentre tantos outros possíveis.
O melhor disso tudo é o fator imprevisibilidade pois, uma mínima ideia de qual
caminho a aula pode tomar diante de um jogo eletrônico de múltipla
possibilidade e representação acaba tornando-se impossível, ao menos para os
alunos, mantendo a atenção e interesse constantes de todos eles.
O que é um RPG e um MMORPG? Como posso usá-los em minhas aulas?
Como pudemos ver na discussão
anterior, os MMORPG são jogos onde os jogadores além de escolherem “livremente”
as características mais aprazíveis de seu personagem optara ainda como gostará
de representar seu personagem dentro de um jogo proposto. A diferença básica
entre o MMORPG e o RPG enquanto jogos eletrônicos é simples: um possibilita a
conexão com uma infinidade de outros jogadores previstos ou não e o outro já
dispõe de um número previsto de personagens que irão interagir sendo tal
previsão imutável. Mas, repito, observe-se que tal limitação se aplica ao jogo
de representação de personagens eletrônicos pois, no jogo de tablado ou de
mesa, coordenado por um mestre de jogo humano como mediador dos acontecimentos,
as possibilidades, obviamente, são muito maiores.
Dentro desta possibilidade gostaria
de apresentar um trabalho que venho acompanhando e tenho percebido resultados
espetaculares. Existe uma página de um grupo de estudantes de História do IFBA
de Catu voltado para a interpretação de aspectos históricos dentro dos jogos
eletrônicos coordenado pelo professor Marcelo
Souza Oliveira denominada History Games.
Nesta página o professor propõe atividades extraclasse, deveres, faz
orientações e percebo que os alunos têm interesse muito maior nas aulas do que
vemos entre os colegas acadêmicos… O melhor nisto tudo é a relação que eles
estabeleceram com seu professor. Chama-no/tratam-no de “painho”, “fessor”,
“mestre” (fazendo alusão ao mestre de jogos do RPG convencional de mesa). O
mais interessante é que a coisa tem dado tão certo que acadêmicos como eu,
Sandro Augusto Cerqueira Junior e o Professor Doutor Leandro Almeida somos parte
atuante e executiva neste grupo onde os debates são ansiados, esperados e
realmente requeridos por parte dos alunos. É pensando nesta experiência que eu
penso em desenvolver minha aula de contemporânea com tal ferramenta/linguagem
para discutir os tópicos da História Contemporânea.
O Plano de aula com metodologia
Objetivos gerais:
Desenvolver nos alunos uma visão
crítica sobre as limitações do liberalismo e suas potencialidades e também,
sobre as diversas influências do nazifascismo entre os europeus e no mundo,
dando ênfase aos continentes americano e africano (Lei 10.639) por serem aqueles
que sofreram algumas influências destas correntes ideológicas e políticas. Mas,
fazendo alusão à ideia da pureza e singularidade destes fenômenos
sócio-políticos em seus lugares de origem: Alemanha e Itália – caso do nazifascismo
e suas resistências às ideias liberais.
Justificativa:
Os conteúdos são importantes para
se compreender o atual contexto histórico, porque as leis de mercado hoje
seguem a uma normatização vista como neoliberal. Ou seja, para compreender o neoliberalismo,
é preciso compreender o liberalismo e sua gênese, o países que resistiram a sua
implementação e quais as suas razões.
·
Conteúdos:
O fascismo de Mussolini e de Hitler.
- Aproximações
e digressões.
- Como
o nazismo surgiu do fascismo?
- Por
que o fascismo não seria tão visto sem o Nazismo?
- Comerciantes
judeus e sua contribuição para na radicalização do racismo e nacionalismo
nazista
·
Número de aulas: 08
·
Metodologia:
Para tanto, pretendemos lançar mão
do jogo eletrônico de autoria do programador e designer canadense Sid
Meier – Civilizations I – que, entre alguns círculos de historiadores é considerado
como um par. O jogo apresenta todas as condições para se discutir o
materialismo histórico marxista, iniciando o jogo com uma comunidade
devidamente sedentarizada, em geral localizada próxima a recursos naturais que
serão as bases da sustentação (ou não) da sociedade em questão utilizada pelo
aluno jogador. Partindo destes recursos, a sociedade se desenvolve à medida que
suas técnicas e tecnologias de extração e processamento destes recursos se desenvolvem
forçando assim ao aluno jogador se indagar como em diferentes fases da
humanidade os mesmos recursos foram diferentemente trabalhados e utilizados
efetivamente. Obviamente, o jogo, com a participação de mais jogadores humanos
ou não, chega a um ponto de expansão das sociedades envolvidas forçando-as a
entrarem em acordos ou desacordos políticos e convencer a sua sociedade de que as
escolhas feitas pelos seus líderes são as mais interessantes e proveitosas
possíveis sendo que isto engendrará a felicidade ou a infelicidade da sociedade
gerindo e esta é fundamental para o bom andamento do todo social. É justamente
neste ponto que podemos trabalhar as relações econômicas do liberalismo, suas
premissas e teorias, assim bem como a influência do nazifascismo e sua inter-relação
com a queda do liberalismo e destas bases apresentar o desenvolvimento humano
no campo político, econômico, cultural e social auxiliado por uma linguagem
figurativa como um jogo eletrônico.
·
Problematização:
Como os sistemas políticos das
sociedades envolvidas na corrida de dominação, que é no que o jogo se funda
para dispor de um nível de competitividade interessante para os jogadores, as
analogias entre as diferentes sociedades podem ser feitas, como são diferentes
antes de serem dominadas politicamente, culturalmente, ou militarmente por
outra nação. Partindo destas observações primárias podemos forçar uma abstração
dos processos de influências que Hitler e Mussolini imprimiram em suas
sociedades e em outras, assim bem como demonstrar como as ideias do liberalismo
foram, em certa medida percebidas em outros lugares que não no seu próprio
lugar de origem.
·
Recursos utilizados:
O quadro de lousa, filmes e textos
pré-estabelecidos, assim como os trazidos pelos alunos (caso haja pesquisa),
computador e projetor.
·
Atividades/avaliações:
Transposição didática dos RPG em
peças teatrais retratando personagens históricos com polarização dos desfechos
(o que fez o personagem histórico e o que faria o ator representante do papel,
no caso um aluno). As avaliações serão processuais e continuadas observando-se
a aderência e capacidade interpretativa do(s) aluno(s) sobre os elementos
históricos nos jogos propostos e suas analogias com a história formal além das
apropriações e projeções que os desenvolvedores fazem no jogo.
Bibliografia
HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: O breve século
XX: 1914-1991 – São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
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