terça-feira, 25 de dezembro de 2012

História Social e Econômica: poder e política em foco.


Da hegemonia da história política à expansão das abordagens históricas.


BADARÓ, Wilson Oliveira e MESQUITA , Hélia Regina de Jesus

Gostaria de iniciar minha abordagem ao tema relacionando-o com as interpretações do ponto de vista hegemônico, a priori, exercido pela história política no cenário da história ocidental que fora apresentado no curso de Teoria Seminário da História I baseado nas observações de Francisco Falcon. Mas para que tal abordagem se faça de fato inteligível, necessitaremos de um reforço teórico-conceitual da relação de poder e história, e poder e política.
A princípio o que de fato seria o poder? No caso que aqui interessa, o poder que estamos tratando seria o que está ligado também, mais intrinsecamente, ao conceito de dominação. Ou seja, entendendo o poder como forma de dominação de um indivíduo sobre outro indivíduo. O poder exercido sobre estes outros indivíduos pode se dar de várias formas que não discutirei aqui, mas, o importante é perceber como este poder está relacionado com a política e consequentemente com a história.
Seguindo a famosa frase de um professor da UFRB/CAHL, “quer destruir ou construir alguém? Conte a sua história...” Tal frase sugere que não apenas o modo como contaremos a história, mas, também quando contaremos, onde contaremos, para quem contaremos e a consonância que esta história terá com o indivíduo/objeto que se pretende destruir ou construir, fará toda a diferença para o sucesso desta construção. Com esta exposição introdutória da visão de mundo, grosso modo, da historiografia – positivista – dominante iniciaremos melhor nossa abordagem sobre o declínio da história política “tradicional” e suas implicações. Tendo dito isto...
As razões que levaram ao declínio da tradição herdada da escola metódica são um verdadeiro somatório de eventos e adventos, que se intercalam com os interesses em descontinuar uma tradição a princípio, vista como reducionista por opositores potenciais – as Revista de Síntese, posteriormente a escola de Annales.
As criticas se concentravam em pontos vistos pelos metódicos como suas fortalezas, pois, eram reféns “da visão centralizada e institucionalizada do poder” (FALCON, 1997, 62) onde daqui temos, apesar das críticas posteriores, bons frutos como: O desenvolvimento do método do reflexo, apuramento da crítica interna e externa das fontes (herança do humanismo), princípios de conduta, continuação das abordagens cientificistas, focalização de objeto e temas etc. Contudo, estes aparatos melhorados e alguns inovadores, não serviram para esta escola, para mudar o fator “história cíclica” que se detinha, tradicionalmente, é bom que se diga, em contar a história das elites. História esta que sempre esteve relacionada com o poder e consequentemente com a política e diretamente com os aparatos de legitimação do poder de uma minoria aristocrática/oligárquica sobre as massas. Historicamente, tal construção é percebida dentro da história ocidental, como um processo de continuação ad eternum, que gera o conceito de “história cíclica” reproduzindo, portanto, apenas os fenômenos do âmbito político, quer religioso dominante, ou secular. Desde a Grécia até a França da marselhesa burguesa, a história tem sido contada assim, sem sair da esfera eclesiástica ou política hegemônica. De tão raras as exceções são quase inauditas. Nem mesmo “a historiografia humanista e renascentista” (FALCON, 1997, 63) consegue modificar as tendências da politização. Nem mesmo as proposições do “pai da política” fizeram com que o rumo do objeto factual da história se desviasse da política.
Para acentuar a problemática da história dos fatos políticos, “ a promoção do estado à condição de ‘objeto por excelência da produção histórica’” cunha a sina da política em ser tomada como objeto central de produção historiográfica. Retomando o ponto central desta discussão, outra critica que leva à derrocada da história política é o fato de estar muito ligada ao particular. Aqui ela quase ou totalmente se funde com as questões biográficas, uma vez que, esta história da política acaba tendo, em sua maioria, um personagem central como um rei, um conde, um bispo enfim, tratando do particular.
Em se tratando de história econômica, o assunto tem todo um requinte. O objeto central, o desenvolvimentismo, lida com a economia brasileira de forma interna (SUDENE, BNDE, Conselho Nacional da Indústria) e externa, valorizando a sua relação com o resto da América (Cepal, Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, FMI), faz o estudante do assunto perceber a importância da economia para os vários segmentos da pesquisa histórica. Sem as percepções e noções básicas de economia para a história, o pesquisador percebe que suas formas de entender os contextos históricos onde sua prática seja aplicável tornam-se lacunares e imprecisas, pois, as dimensões de realidades alcançáveis pelo viés econômico são muito relevantes e variadas.
Apesar das expectativas quanto aos métodos quantitativistas dos economistas para a apreensão da realidade serem de uma ótica sempre reducionista, o método pode ser mais abrangente do que se espera. Depende da capacidade hermenêutica e de abstração da realidade do pesquisador tal façanha, assim como coube á Campos, Gudin e Furtado tal uso sapiente de suas fontes.
Tratando do objeto das discussões do seminário, o desenvolvimentismo brasileiro dispunha, na época, de duas diferentes correntes economicistas em partes antagônicas e em partes harmônicas – no tocante as suas visões de mundo e concepções da política econômica a ser adotada. Estas correntes são segundo Bielschowsky; “os desenvolvimentistas nacionalistas” e “os desenvolvimentistas não-nacionalistas”. Obviamente, para ambos os lados houve dissensões ideológicas entre fundamentalistas, radicais, conservadores, liberais e neoliberias. Estas dissensões, em minha interpretação, foram a principal razão da riqueza da produção para ambos os lados e consequentemente para o Brasil, porque, muito provavelmente, sem estas dissonâncias, não teríamos o nível de desenvolvimento que se deu, e no curto espaço de tempo em que se deu, dentro da política econômica brasileira. Suas principais fontes de equalização ideológicas está na crença de que a industrialização é o principal meio de desenvolver o país.
Interessante que as principais características desta política de desenvolvimento da economia de fato executada no país, é exatamente o resultado diametralmente oposto do intencionado por ambas as parte, digo isto pois, embora tenha uma parte tido mais participação direta na política tomada como base para a estruturação e efetivação cabal do planejamento de desenvolvimento econômico do Brasil, nenhuma das partes foi em definitivo hegemonicamente evidente. Partes de ambas as correntes foram aplicadas e usadas para tal empresa desenvolvimentista. Tanto Campos como Furtado – representantes maiores dos antagônicos movimentos – tiveram sua dose de participação na construção da política que de fato fora aplicada na economia brasileira.
A famigerada – no bom sentido – “técnica cepalina de programação” que dispunha de um modelo abrangente para a aplicação do plano de metas da Cepal com Celso Furtado. Sua forma e empenho no combate ao subdesenvolvimento do Brasil; sua conceitualização, pautada no estruturalismo, reveladora de “hibridismo” e como tal conceito ajuda a entender as razões pela qual o Brasil é historicamente tido como um país subdesenvolvido; e ainda a importância que o planejamento toma em sua política voltada basicamente para a proteção do estado e investimento prioritário nas políticas internas, favorecendo assim, o crescimento econômico interno e o consequente fortalecimento da economia nacional. Para Furtado, o estado deveria estar munido de uma autonomia necessária em relação ao capital e investimento estrangeiro, que era bem vindo também, contudo, apenas em setores menos vitais para a economia nacional.
Sua dedicação e preocupação com os problemas do subdesenvolvimento do nordeste, o leva a ter uma passagem significativa tanto na criação quanto na participação política das ações da SUDENE e as políticas que aí se cristalizaram. Celso Furtado, crê ainda que “uma grande concentração de renda cria, em todas as sociedades ampla camada social de ociosos ou semi ociosos, com efeitos diretos e indiretos altamente negativos nos hábitos de consumo...” Assim, “admite-se mesmo que seria impossível lograr o nível da renda per capita dos Estados Unidos, da Suécia, ou da Austrália com uma estrutura de distribuição da renda como a que prevalece no Brasil.” Sendo ele um grande defensor da reforma agrária e melhor distribuição de renda através de uma “tributação especial” para as classes mais abastadas, e com um melhor aparato para evitar a sonegação de impostos.
Já em Roberto Campos, seu posicionamento e orientação teórica lhe imprimiam uma visão e característica, voltada para a captação de recursos na política de captação de investimentos externos. Evidentemente, ele seguia as máximas de sua corrente de pensamento de prezava que o “(...) estado não deveria ocupar o espaço em que a iniciativa privada pode atuar com maior eficiência.” E Justo deste ponto, caso o capital privado nacional não tivesse (e não tinha em geral), naquele período, condições de arcar com os compromissos, ligados as necessidades desenvolvimentistas nocionais. Por isto, para Campos, fazer-se uso do capital estrangeiro era a regra e não o contrário como queria, os nacionalistas.
Também, diferenciando-se diametralmente opostos aos nacionalistas os não-nacionalistas, aqui representados por Campos, “caracterizavam-se também pela ênfase que davam à necessidade de controle da inflação, e não hesitavam em apoiar as medidas de estabilização monetária.” Aqui, mais uma vez, eles vão se apoiar no capital estrangeiro para realizar estes propósitos, em teses, benéficos para a economia nacional.
Campos é um ferrenho defensor da industrialização nacional como saída para o desenvolvimento nacional, e suas metodologias incluem conceitos como o “planejamento seccional” onde o desenvolvimento é baseado em setores prioritários da economia nacional por seu poder particular de propiciar o crescimento; “pontos de germinação” que são todos os pontos que depois de estimulados propiciem um crescimento colateral favorável à economia, ele considerava energia elétrica, transportes, agrícola perfeccionada etc., como possibilidades potenciais e por fim, os inevitáveis “pontos de estrangulamento”, que correspondem aos desequilíbrios setoriais criados pela rapidez com que a economia se industrializava, isto é, passava de economia agroexportadora para uma “economia de mercado interno em franca expansão”.
Campos, assim como furtado era um defensor da saúde da economia nacional, e como tal, combatia a inflação em seus vários segmentos e buscava sempre soluções inteligentes e explicações para seu surgimento. Por fim, Campos que era visto como um antiestruturalista, que é uma perspectiva reducionista das atribuições e atitudes de Campos, também defendia o planejamento do uso dos recursos estrangeiros com as diretrizes que deveriam ainda obedecer aos seguintes critérios e ramos para o investimento: a) Os que exigissem doses maciças de capital por unidade de produto;  b) os que exigissem investimentos de longo prazo para a sua plena maturação; c) e por fim, os que envolvessem alto índice de risco como a exploração petrolífera, ou ainda, com rentabilidade direta muito baixa como energia e transportes.
Vemos aqui, a importância de perspectiva econômica para os historiadores que no caso de lidarem com tal segmento da História, assim como Campos e Furtado deverão estar escarafunchando fontes em repartições públicas como planilhas de planejamento econômico, documentos oficiais das negociatas entre o Estado e instituições da iniciativa privada, documentos históricos de época que relatem transações econômicas como testamentos e inventários etc.  

Referências Bibliográficas

FALCON, Francisco. História e poderIn. CARDOSO, Ciro Flamarion, & VAINFAS, Ronaldo. Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
CHAUVEAU, Agnès e TÉTARD, Philippe (org.). Questões para a história do presente. Bauru, SP: EDUSC, 1999.
RIOUX, Jean-Pierre. Pode-se fazer uma história do presente? In: Questões para a história do presente. CHAUVEAU, Agnès e TÉTARD, Philippe (org.). Bauru, SP: EDUSC, 1999.

Da História para a História: Uma nova forma de ver, ler e contar os fatos próximos.


As três Histórias da atualidade: História do tempo presente, História Próxima e História Imediata, uma discussão de sua aplicabilidade, alcance e viabilidade.


BADARÓ, Wilson Oliveira e MESQUITA , Hélia Regina de Jesus



                 Os textos referidos aqui tratarão da emergência de cuidar-se da história mais próxima, da história que por vários aspectos distintos tem sido tratada de forma secundária e que por sua vez, revelam-se de difícil acesso aos seus pretensos analistas. O que leva tais autores a tratarem deste assunto é sem dúvida a problemática e também, as amplas possibilidades que ele traz consigo – como fazer, por que fazer, quando fazer, quem pode fazer, onde fazer, para quem fazer etc. Possibilidades estas que estão devidamente ligadas ao campo teórico e metodológico pois, para a história que se fundamenta basicamente em seus presumidos “recortes históricos”, temos uma idéia fixa e quase imutável da necessidade do “recuo”, já na história imediata, do presente e história próxima[1], tal recuo seria impossível, seguindo a mesma lógica do "recorte histórico", constando aqui um empecilho ao historiador a princípio. Uso tal problema – o do recuo – unicamente com o intuito de exemplificar um dos vários problemas tratados nesta obra, e exibir a dimensão do que aqui será tratado. E assim, a posteriori, introduzir as idéias centrais discutidas pelos autores e o que eles pretendem colocar em prática comum em sua consequente praxis que – mais um campo, área, especialidade e/ou abordagem possível dentro do já tão vasto campo historiográfico –  seguramente, constitui também este, um dos elementos motivadores destes autores, nesta empresa de caráter já conhecido, mas inovador.
                Usando uma crítica aberta destes tópicos abordados, farei uma apresentação não temática –  embora seja o texto temático – das idéias expostas e detidas nestas acaloradas discussões destes autores geniais.   

Do ponto de vista científico, os textos revelam uma grande tendência em mesclar uma grande gama de informações que oscilam bem e sem grandes dissonâncias entre o empírico e o teórico, apresentando uma tendência já crescente no campo historiográfico.
Digo empírico no sentido que os autores trabalham – nesta área da história – muito as experiências dadas no tempo e no espaço, pois, filosoficamente falando[2], não haveria outra forma de perceber tais experiências, contudo, é mais significativa esta aproximação com os processos empíricos, quando tratamos da (s) História (s) do presente, imediato e próxima, uma vez que, como bem disse o professor Maurício Brito, aqui “o historiador é também parte viva e atuante neste cenário”, sendo que os fatos estão agora muito mais perto, muito mais tangíveis e palatáveis que, por exemplo, uma batalha da China dinástica ou do Egito faraônico. É obvio que uma coisa não anula a outra, nada impede que se tenha mais fontes históricas disponíveis da China dinástica que do “onze de setembro” ou da “queda do muro de Berlim”, por exemplo, porém, na prática, o que se espera é o contrário. É ainda talvez, um dos principais diferenciais em relação aos outros campos e domínios da História, aqui, o historiador se não atua com as fontes em seu real alcance, – o que é muito mais comum, como as fontes orais, por exemplo – estas tampouco estarão distantes a ponto de tornar a labuta da pesquisa, coleta de dados, recortes e outros procedimentos, algo sofrível, porquanto as Histórias do presente e próxima são frutos das transformações latentes a partir de 1945, enquanto a história imediata é um produto oriundo destas duas primeiras.
Digo teórico porque, para fundamentar seus argumentos, os autores fizeram uso de vários instrumentos teórico-metodológico que caracterizam uma produção realmente voltada para o sentido normativo dos requisitos acadêmicos da construção do conhecimento histórico. Valendo-se da premissa de que a teoria é a linguagem usada para descrever um ou mais processos empíricos, que incluem a visão de mundo, e compreender ativamente como se dão os seus intrínsecos fenômenos de forma a facilitar em definitivo a compreensão da realidade. Assim, fica mais óbvio que a obra é um misto dos dois, portanto, a empiria é perceptível na questão metodológica e teoria visível na forma de argumentação para obter o máximo de sua concretude. Nesta obra em questão, a teoria – muito rica por sinal – reza por provocar na prática profissional do historiador a gana de atuar também neste segmento da história, motivar-lhes a embrenhar-se nesta empreitada que é uma seara frutuosa e promissora, não obstante seja tão traiçoeira como qualquer outra dentro dos domínios da História. E o fazem, através de debates historiográficos sugestivos e instigantes, abrindo a partir destes debates, um leque muito extenso de possibilidades de abordagens de fontes diversas, e até aqui pouco exploradas, e envolvem doravante, quais os conceitos do ponto de vista filológico destas três formas de ver a história mais aproximada com uma cristalina exposição do panorama geral social coetâneo. Chauveau e Tétard recomendam que, “para ser completo, seria, pois necessário determinar um projeto mais vasto que aproximasse e confrontasse testemunhos e análises muito numerosos de historiadores – um corpo temático e arquivístico representativo.”[3]
Ao permear os mais variados assuntos concernentes às dimensões da História, os autores defendem com brilhantismo a viabilidade da inserção da História imediata que está inserida dentro das abordagens relacionadas ao campo de observação e, muito eventualmente, pode dialogar com os outros componentes desta mesma grade como a História local, História regional, Micro-história etc., e enriquecê-las de modo incomparável e daqui, seguir para as corroborações mais ampliadas, tais quais, História política, das mentalidades, demográfica, econômica,  geo-história etc.
Neste ponto da resenha, é muito válido considerar que Tétard e Chauveau estão, em minha forma de perceber, ligados as correntes dos Annales, pois explora bem seus potenciais e suas debilidades, criticando o pouco investimento feito pela então “escola histórica dominante, além de que, durante os anos 70, o domínio da história do presente era, sem dúvida, muito novo, ou muito pouco cristalizado no plano editorial, por exemplo, para ir de contra esse estado de fato”[4], mas, compreendendo também a dificuldade que envolvia tal engajamento mais pormenorizado em prol da instituição de uma História do presente mais ossificada.  Contudo, apóiam também o movimento da escola metódica partindo dos pressupostos de uma História política, da qual a própria escola de Annales é tributária, claro, não a História positivista em si, mas uma história política mais crítica, mais multidisciplinar, e intimamente ligada às iniciativas dos Annales. Esta tendência de harmonização das partes outrora rivais fica evidente quando os autores frisam que “(...) os pais dos Annales tinham dado um lugar particular ao imediato, ao presente e mesmo ao político. Marc Bloch escrevia: ‘A incompreensão do passado nasce afinal da ignorância do presente. ’”[5] Aqui o autor reforça a idéia principal de ambas as partes, usar o acontecimento político tendendo ao imediatismo, e os propósitos inovadores da “História total” da revista de síntese, trazendo nesta fusão – de escolas, metodologias e linhas de pensamento – a essência da História Imediata, Presente e Próxima,  todavia, se estas duas correntes em sua essência não podem ser tomados como possíveis para estes autores, creio então que esta mescla de tendência deva levar-lhes  a outro patamar, devem estes seguir ás tendências chamadas modernistas que visam justamente assim fazê-lo, misturar várias correntes e expor o que há de melhor nestas. Por fim, no que chamo de conjunto de “História das Atualidades”[6], estes autores tendem a pender para o lado das discussões mais politizadas e conectar primordialmente as “Histórias Atuais” com as ideologias políticas por eles focadas, ficando minhas afirmativas supramencionadas notórias em passagens diversas do texto, em vários recortes temporais extraídos da visão de mundo de outros historiadores e de outras correntes historiográficas que sirvam bem a este propósito.
Já no caso do Rioux, ele inicia sua análise com a proposta do Instituto de História do Tempo Presente (Istitut d'Histoire du Temps Présent) e as típicas indagações do ponto de vista epistemológico em busca de responder se o presente pode ser objeto de estudo da ciência histórica. A partir desta problemática, ele elucubra diálogos acerca dos vaivens característicos da teoria histórica em busca de uma reafirmação do que fora inicialmente defendido. Segue Rioux uma linha mais teórica que empírica, com poucos recortes e citações historiográficos de outrem, contudo, se utiliza de uma poderosa retórica quase que sofística para realçar suas afirmações. Dentro de meus parcos conhecimentos, posso dizer que seu método beira o da linha da História feita para servir de exemplo para linha discursiva e da filosofia da História, se me atento aos seus recursos lingüísticos. Como os autores organizadores desta obra, a sua forma de apresentação temática é muito sugestiva também e facilita a leitura, dando boas pistas de como proceder para se obter um melhor rendimento do tema tratado e ainda indicando como se propõe ainda a fazer indicações de como fugir dos famosos “recuos” ou resolver o problema da “proximidade”, as criptonitas dos historiadores para trabalharem a “História das atualidades”.  Rioux, assim como Tétard e Chauveau fazem em partes, segue por este viés realçando ainda a necessidade da formação da identidade dos historiadores que lidarão com esta linha de pesquisa, onde buscar as motivações e fazer deste segmento da História uma linha independente, sólida e original, opondo-se e quase que ao mesmo tempo concorrendo com a mídia que de forma sempre generalizante explora e esgota a história imediata, mas sem a preciosidade do recurso histórico.
Quando disse que seus recursos eram filosóficos e literários, me referia a algumas raras, mas existentes passagens de parafraseados explícitos, raras são as citações, pois os recursos literários e filosóficos abundam, como quando ele usa Michelet:

Eles precisam de um Édipo que lhes explique seu próprio enigma, cujo sentido não perceberam que lhes ensine o que queiram dizer suas palavras, seus atos, que não compreenderam. Eles precisam de um prometeu, e que no fogo que ele roubou, as vozes que flutuavam geladas no ar se revoltem, transformem-se num som, ponham-se a falar. (...) Só então os mortos se resignarão à sepultura.[7]

Assim, seguindo esta exposição enigmática, ele recomenda um decifrador de charadas – no caso Édipo[8] – para dar norte aos capitalistas que transformaram tudo em mercadoria, inclusive a informação, os meios de comunicação em massa e de certa forma, parte da história, para o nosso interesse aqui, a “História das Atualidades” que é tratado indiscriminadamente por jornalistas e curiosos de plantão. Para Rioux, esta banalização da “História das Atualidades” conduz os profissionais preparados cientificamente para tratarem deste assunto, neste caso os historiadores, a uma certa recusa dos fatos de curtíssima duração ou seja, do efêmero, não que os outros profissionais não estejam também habilitados a fazerem tal empresa, no entanto, a crítica vai para o quesito metodológico do tratar das fontes e de como a apresentação destes fatos, tratados por outros profissionais,  influenciará a posteriori a aceitação da opinião pública em relação às possíveis novas possibilidades estabelecidas pelos historiadores, pois, como se é sabido, os historiadores, assim bem como a ciência em si, trabalham com um acúmulo de verdades possíveis e nunca temos de fato uma versão axiomática de fato algum, uma vez que fazê-lo, seria tido como condenar a história ao campo minado das generalizações que é mais convencionalmente encontrado na Sociologia e nas informações de cunho midiático imediatista[9]. No mais, os autores de ambos os capítulos aqui apresentados, tratam de lidar com fontes secundárias. Eles basicamente trabalham com o que já foi trabalhado antes e não com fontes primárias direto dos arquivos, ou seja, mais fazem uma revisão bibliográfica que uma inovação neste campo, a inovação fica por conta da abordagem do tema, das proposições teórico-metodológicas e das provocações aqui propostas, os desafios e as garantidas recompensas nesta semeadura produtiva que é a “História das Atualidades”.
Traz ainda consigo esta História, a visualização expositiva para outros historiadores, os não familiarizados, do quão importante é a funcionalidade desta “História das Atualidades”, tão relevante quanto qualquer outro segmento da macroárea da História per se. Diríamos que, como sugerido pelos autores franceses, e como sua utilização evidente no âmbito da política e esta intimamente, conectada aos diversos tipos de relações humanas e científicas, devem ser modelo não apenas causal, mas sim, uma referência constante para historiadores de todas as vertentes, pois, sua aplicabilidade é garantidamente real no campo historiográfico, que o digam as fontes orais! Parafraseando Bloch, é verdade que "toda História é filha de seu tempo" e podemos naturalmente prever que a visão do presente inevitavelmente é inferida sobre o passado, então eis que hes exponho a "Eureca da História das Atualidades!" Quão mais simples seria para os historiadores da atualidade conter suas prenoções, uma vez que seu presente lhe é devidamente apresentado não é verdade?! Quantos historiadores se formam pensando em estudar o presente ou a história recente?! Quantos historiadores estariam dispostos a disputarem espaço laboral e campal de seus objetos de estudo e pesquisa com profissionais que se utilizam de métodos pouco legíveis ao seus costumeiros procedimentos?! Enfim, aqui, a provocação destes autores, defendem exatamente isto a meu ver. Dão todas as pistas das probabilidades destes estudos serem sim ossificados, porque a colheita é grande, e naturalmente, a jornada aqui é longa e as vias ainda muito agrestes, virginais, no entanto, o pontapé de partida precisa ser dado.
Finalmente, pode-se dizer que a investida do Rioux, Chauveau e Tétard são deveras frutíferas. Da forma que colocam e como orientam as idéias, conduzem o leitor a ter uma perspectiva histórica da "História das Atualidades" não apenas por fazerem uma abordagem temática que desde o título propõem uma reflexão mais crítica, não apenas por serem incisivos em seus argumentos referendados em uma revisão bibliográfica de peso, não apenas por isto e por todo o resto que já fora mencionado, mas, por terem eles atingido o âmago da questão de todos os escritores. Sensibilizar, prender e cativar o seu leitor, pelo simples fato da clareza das idéias e de sua fluência verbal, pela pertinência de suas colocações. O valor de sua tese central vai desde o poder de destruição da perspectiva niilista do historiador das "atualidades" que fora de alguma forma afetado pela influência coercitiva do tradicionalismo, ao reforço de toda a importância dos fatos recentes como uma cadeia indissolúvel para a análise do próprio passado, não do ponto de vista cíclico do assunto por eles tratados, porém, para outro parâmetro; o da não sujeição do trabalho realmente compromissado com a ciência, com a verdade, aos caprichos da mercantilização da informação, e de também saber dizer não aos quantitativismos e particularismos coroados nesta atualidade mercantilizada. Rioux, tratando da correntes de Annales Braudelianas, que estavam neste ponto focada nas generalizações econômicas e suas implicações de seu contexto histórico, no entanto, deixa perceber o quanto hoje sabemos das limitações desta afirmativa pouco provável e talvez determinista para nossa realidade histórica, e é justamente aqui que eu gostaria de invocar as deixas de Tetard e Chauveau no tocante a prestar-se às novas tendências: "Se nos ativermos à ordem que adotamos nesta apresentação, o historiador e sua disciplina constituem um primeiro eixo de pesquisa, e a história do presente deve ser estudada por meio de três temas: os novos problemas, os novos campos e as novas apresentações."[10] Aqui a proposta é a seguinte: hoje, como sempre, temos mais um caminho a seguir, além de um caminho a manter, ou um inovação a fazer, obviamente podemos fazer ambos, nada nos impede disto, mas, é importante frisar: primeiro podemos manter o idolatrado "recuo" e sermos o que sempre fomos, ou, fazer a"História das Atualidades" e abdicarmos do recuo, dedicando-nos à história de nosso tempo, ou, simplesmente inovar em todos os sentidos e aspectos. Podemos juntar ambas as partes e fazer disto um processo dicotômico que por fim findará em um processo dialético "ad infinitum" em busca de uma enriquecedora "história do presente visando/explicando/pensando/refletindo o passado" ou quiçá possamos seguir a "história do passado para entender/atuar/gerir/explicar/relativizar o presente, é evidente que estes itens constitutivos são apenas ilustrações e podem ser exatamente o que se quer para o determinado fim. Claro que nossas visões de mundo estarão presentes em nossas produções do presente como as famosas ideologias estiveram e estão presentes na construção da história desde o princípio, contudo, é aqui que está a mais faustosa e tenaz significação para prosseguir, e mais um motivo para fazê-lo! Por que fazer nossos futuros colegas penarem com dificuldades de entender nosso contexto histórico se podemos tecê-lo aqui e agora! Esta é mais uma das brilhantes mensagens deste formidável texto que abre os horizontes dos novos marinheiros desbravadores do oceano que é a história. Surge aqui não apenas um farol, mas, um GPS já que as tendências são novas, já que o ambiente é de inovação, "que venha a modernização para a história!" seria assim que diriam os autores livremente se o pudessem, creio eu.
Para mim, em definitivo, esta obra me faz perceber que o caminho da história e dos seus adeptos – que deveriam ser todos os historiadores – é mais promissor do que a princípio esperava. Deveríamos todos nós, historiadores, nos indagar porque não? Posso ser um Historiador-jornalista, por que não? Posso ser um comentarista, um historiador ator de meu próprio relato histórico! e por que não? O que de fato fazemos por toda nossa vida em arquivos públicos como os famigerados "ratos de arquivo" também podemos fazer com a história imediata, do presente ou próxima. Se não uso os arquivos como meu laboratório particular para criar um vínculo controlado de intimidade com o meu objeto de pesquisa por não ter o recuo suficiente requerido para tanto, melhor ainda! Tenho a oralidade ao meu favor! Tenho as ruas e os fatos cotidianos a minha espera, os fenômenos políticos e suas implicações para me servirem um banquete factual aqui, bem em cima de Gaia sem necessidade de preocupar-me com luvas, máscaras ou aventais. O que de fato aqui, com estes autores aprendi é que, não posso me limitar às regras que foram ditadas e estabelecidas num processo de exclusão e repulsa oriunda de uma ideologia tradicionalista que nos quer escravizar à média e a longa e curta duração, abrindo mão da "curtíssima" duração dos fatos mais recentes. Por mim não, não é esta visão da História enquanto ciência que eu desejo seguir. Tenho outros planos para a história que irei fazer e segundo Chauveau e Tetard, Ciência, somada à História, somada a uma crítica salutar, somada à sociedade é igual à atualidade[11]. É esta a equação que nos deixa a par das necessárias inovações a serem de fato feitas no interior da estrutura histórica. É o ato científico mais central da crítica histórica enquanto um instrumento para a investigação da realidade temporal. Esta atitude de manter sempre a dúvida à cartesiana para que se possa enfim "propor novos dados que aumentarão sua capacidade de explicitação e de sugestão"[12]. Por isto considerarei os fatos políticos que são uma constante no acontecimento diário. É fato que não vou tampouco deixar de lado ou menosprezar a importância do legado metodológico e teórico passados para a posteridade por estes tradicionalistas outrora hegemônicos, contudo, ao lançar mão destes instrumentos tradicionalistas, deve-se antes saber que o filtro para sublimação das tendências falaciosas devem ser imediatamente ligados, bem como quando tratamos de lidar com teorias positivistas, pois, seus argumentos muito retóricos muito das vezes se fazem sedutores, e podem influir numa pesquisa digamos, menos parcial. Hoje sei que além de toda a história que já dispomos desde Heródoto, também estas menos antigas mas tão ricas e desejáveis quanto às primeiras me aguardam. Serei mais livre se não olhar para estas sanções do tradicional. Junto a estes autores – Rioux, Tétard, Chauveau – adicionarei Foucault e não deixarei que a vigília e a punição da mesmice acadêmica me alcancem. É isto, é assim que sinto agora. A "História das Atualidades" é uma válvula de escape, mas não deve ser vista como a salvadora da lavoura, há muito que ser feito, e muito a se cuidar em qualquer segmento que se tome ou qualquer lugar aonde se vá.



Referência Bibliográfica:
CHAUVEAU, Agnès e TÉTARD, Philippe (org.). Questões para a história do presente. Bauru, SP: EDUSC, 1999.
RIOUX, Jean-Pierre.  Pode-se fazer uma história do presente? In: Questões para a história do presente. CHAUVEAU, Agnès e TÉTARD, Philippe (org.). Bauru, SP: EDUSC, 1999.




[1] Com o intuito de sintetizar a referência a este conjunto de três seguimentos da história, em determinado momento estarei aplicando uma nova categoria pessoal para designar-lhes.
[2] Aproximação aos conceitos kantianos de percepção dos fenômenos, que só podem ser percebidos nas condições humanas, de forma aparente, pois tudo o que de fato vemos, são representações destes fenômenos dados no tempo e no espaço e com o uso da razão. O conhecimento definitivo destes fenômenos, em sua essência, tem suas causas a priori alijadas da compreensão humana.
[3] CHAUVEAU, Agnès e TÉTARD, Philippe (org.). Questões para a história do presente. pp. 8.
[4] Id. Ibidem. pp. 10.
[5] Id. Ibidem.
[6] Conceito “Badaroniano” de história que engloba os três segmentos de Historia mais próxima temporalmente do historiador: História do Presente, Próxima e Imediata. Evitando a repetição cansativa e poluente, Badaró compila esta composição tripartite com esta designação.
[7] CHAUVEAU, Agnès e TÉTARD, Philippe (org.). Questões para a história do presente. pp. 45.
[8] Édipo foi o desafiante da Esfinge que conseguiu decifrar o enigma do monstro e livrar Tebas deste monstro que devorava todos os que pelo deserto passavam e não decifravam seu enigma. Fato passado no limiar da mitologia egípcia antiga.  
[9] Para além destes textos do Rioux, Tétard e Chauveau, recomendo para maior esmiuçar deste assunto, ver Boaventura de Souza Santos em seu ensaio, Para uma Sociologia das ausências e uma Sociologia da emergências. Onde fica nítido o valor da História como a base da análise social.
[10] CHAUVEAU, Agnès e TÉTARD, Philippe (org.). Questões para a história do presente. pp. 34.
[11] CHAUVEAU, Agnès e TÉTARD, Philippe (org.). Questões para a história do presente. pp. 35-36.
[12] CHAUVEAU, Agnès e TÉTARD, Philippe (org.). Questões para a história do presente. pp. 36.

As duas escravidões na América do Norte: causas da revolução americana.


A revolução norte americana no contexto da escravidão.



BADARÓ, Wilson Oliveira.


            No capítulo um do livro aqui tratado – Retrospecto da revolução norte-americana – o autor M. J. Heale inicia sua abordagem ao tema propondo as diferentes perspectivas sobre o que foi a revolução para diferentes estudiosos e, ainda, se houve, de fato, uma revolução. A princípio, o autor expõe que há na Grã-Bretanha uma aproximação causal da Guerra de Independência norte-americana com a Revolução norte-americana que seria calcada, por sua vez, em premissas militaristas. Naturalmente, como se faz em uma revisão bibliográfica que justifica a produção intelectual de sua temática, o autor defende que esta visão britânica esteja desfocada, e que outras propostas podem complementar esta inadequação inicialmente exposta, passando por uma visão mais interna da própria revolução, digo, a partir da perspectiva americana também.
            Seguindo por uma perspectiva que se propõe mais abrangente que a primariamente debatida pelos britânicos, Heale fará uma série de exposições hipotéticas e conjecturais de “como se deve – ou ao menos deveria – escrever a história da revolução norte-americana”[1], notada em várias passagens onde ele faz um verdadeiro exercício de alteridade e distanciamento de seu objeto. Ao propor que se fosse esperado respostas de um americano acerca de suas impressões da revolução, ele apresentar-nos-ia várias vertentes não percorridas pela visão britânica da revolução. Tais vertentes seriam, evidentemente, se isoladas, incompletas ainda, contudo, mais próximas de uma realidade, de fato, que a visão militarista anterior. Tais visões internas propostas, a partir deste exercício de alteridade do autor incluem: o reconhecer dos norte-americanos livres do julgo britânico e as “mudanças políticas e sociais importantes” (HEALE, 1991, pp. 5-6), ou ainda, que houve uma substituição de formas de governo como “o domínio britânico, arbitrário e despótico, por um sistema de governo baseado na divisão de poderes e uma constituição escrita” (HEALE, 1991, p. 6).
            Apontando as incompletudes destas visões internas propostas acima, Heale retira delas partes que conferem sentido de oposição à visão britânica, diferenciando conceitualmente revolução de guerra de independência. Assim, o autor reforça que uma revolução requer uma drástica mudança, que se faça notória dentro do espaço que está sendo abordado e trata, também, de apresentar uma breve análise doxográfica – da produção de outros autores – do que fora dito acerca da contingência da existência, ou não, da revolução norte-americana e em caso afirmativo, suas consequentes características.
            Como se faz em uma abordagem introdutória, neste capítulo o autor apresenta-nos as principais problemáticas onde ele procurará responder-nos, expondo suas inquietações e questionamentos, findando em dar-nos uma visão mais ampla do complexo processo de revolução na América do Norte. As perguntas surgidas de suas inquietações irão guiar e permear seu trabalho de reconhecimento da revolução norte-americana para além de uma mera luta de independência, perguntas como, qual a duração desta revolução? Quando acabou? Qual a relação entre a formulação e institucionalização da constituição e o fim da revolução? Qual a característica desta constituição? Favorável ou desfavorável aos propósitos revolucionários em sua aparente ambiguidade historicamente proposta pela historiografia? Com a ascensão do Presidente G. Washington, como considerar o desfecho da revolução, vitorioso ou vencido? Estas são algumas questões que permeiam o trabalho deste autor que encerra este capítulo com uma interpretação do auge da revolução a partir da resistência apresentada tanto interna – das mudanças e instabilidades políticas – como externamente – guerra contra a Grã-Bretanha e afirma que a revolução, lato sensu, prol igualdade de direitos para todos os homens ainda não terminou.
            Já no capítulo dois, intitulado “A perspectiva britânica”, Heale observa a condição, outrora de submissão do colonato americano, opondo-se aos “soldados de seu rei” (HEALE, 1991, p. 9) em razão de uma revolta que visava impedir a sua escravização por parte dos britânicos. Novamente, o autor propõe uma digressão que trabalhará no campo da mentalidade, partindo de uma sensibilidade que requer uma forte presença da alteridade por parte do historiador para compreender o temor da escravização, sentido pelos americanos. Tendo este temor sua fundação após a Guerra dos Sete Anos que marca uma mudança no comportamento dos líderes governamentais que, por sua vez, tomam medidas em forma de impostos, consideradas pelos norte-americanos avassaladoras, e suaves pelos britânicos, se comparadas aos impostos cobrados na metrópole, gerando assim, toda esta celeuma entre norte-americanos[2] e britânicos. Vemos assim, numa interpretação britânica que acusa os norte-americanos de recusar o pagamento de impostos que seriam, por sua vez, revertidos para a sua própria administração e defesa e ainda, criam que, viviam os norte-americanos com “um padrão de vida relativamente alto” exatamente pelo fator de sonegarem este imposto através da Guerra de Independência (HEALE, 1991, p. 11).
            Para além da questão dos impostos, inclui-se o fator Navigation Laws[3] que agravavam a já contestada situação dos impostos cobrados. Retomando a política de mudanças por parte do império britânico após a Guerra dos Sete Anos, fato que deflagra a insatisfação norte-americana e a sensação de iminente escravidão, é preciso lembrar que nas possessões coloniais inglesas da América do Norte “o povo britânico não era, porém, a única nação a penetrar no continente americano” (HEALE, 1991, p. 12). Além da Grã-Bretanha, contava-se ainda com a presença francesa e espanhola na América do Norte – Canadá e Flórida respectivamente – o que ocasionou desavenças entre estas potências, notadamente, com prejuízo de largas dimensões para a França, que por sua vez, abdica de seu território em favor da Espanha.
            Com o término da Guerra dos Sete Anos, a Grã-Bretanha se vê amplamente fortificada, contudo, estes reforço e ampliação incidem também em aumento territorial que complicam em muito a gerência política do novo império que, oriundo de outras tradições, políticas e culturas – espanholas e francesas –, dificultam o trabalho governamental do primeiro ministro George Grenville. Então, perceberemos o que Cláudia Wasserman vai chamar de “forças centrífugas[4], também atua aqui na América do Norte. Os poderes locais tentando se comportar como “equivalentes locais do parlamento, [que] pretendiam exercer poderes antes da alçada dos governadores régios” (HEALE, 1991, p. 13). Guardadas as devidas proporções e percebendo que o espaço é, de fato, outro, não se pode negar a tendência analógica que inspira tal comportamento social por parte do colonato e seus representantes locais, tanto na América Latina, como na América do Norte a se oporem aos representantes europeus e, conseguintemente, defendendo seus interesses políticos e econômicos. Tal comportamento faz-se perceptível na necessidade da realização de tratados para o acesso a terra, e organização efetiva dos funcionários imperiais no tocante ao comércio exterior e interno na América do Norte.
            No entanto, apesar de todos estes esforços do governo britânico no sentido legislativo, a execução funcional destas leis e tratados se tornava uma atividade hercúlea. O advento da conjuração de Pontiac só vem a confirmar as suspeitas dos britânicos de que, sozinha, sua colônia não poderia se defender, forçando assim, a proclamação de 1763, visando conjunturalmente administrar novas aquisições territoriais e resolver a problemática com os nativos. Esta nova postura britânica de 1763 impedia o avanço territorial dos colonizadores que, contrariados e cientes do posicionamento estratégico militar guardando a fronteira oeste, estariam constantemente ameaçados pela possibilidade deste mesmo exército se lançar sobre eles. Porém, o custo elevado desta operação, e o já evidente desgaste financeiro causado pela Guerra dos Sete Anos forçavam a metrópole a repensar o custeio da defesa, e considerar a divisão deste custeio com a colônia que se encontrava em notório status de privilégio.
O aumento da rigidez e rigor na cobrança de impostos sobre os colonos americanos e a criação de novas taxações visou melhorar a arrecadação dos britânicos – Lei do Açúcar, Lei das Fazendas, Lei do Selo – e melhorou, mas, em contrapartida, gerou uma reação contrária. A reação era no sentido da representação política, pois, criam os colonos serem tributados por um “organismo no qual não eram diretamente representados” (HEALE, 1991, p. 16) do ponto de vista político, uma vez que os membros não eram seus pares. A Lei do Selo fora tida como o estopim que deflagrou a insatisfação geral, pois, esta atingiu todos os segmentos da sociedade norte-americana. A linha de raciocínio muito bem descrita pelo autor, e que vai povoar de um modo geral a mentalidade dos colonos, após a fixação de todas estas medidas, é sintetizada na frase “talvez não possam ter propriedade alguma... mas estão na verdade reduzidas à mais abjeta escravidão” (HEALE, 1991, p. 16). Em outras palavras, “nem tudo o que produzirmos será inteiramente nosso, teremos sempre que pagar por tudo que desenvolvermos e criarmos e assim por diante” (Id, ibidem).
Fundados neste pressuposto, os colonos tentam impedir a importação para evitar tais impostos, enviar representantes que reivindicassem a igualdade de direitos políticos para os colonos, ou seja, que apenas fossem taxados pelos seus pares. Tais iniciativas foram negadas, mas, causaram um impacto positivo no sentido de fazer repensar as medidas britânicas, findando assim com o término da Lei do Selo em 1766. Apesar disto, a Lei de Declaração garantia aos parlamentares britânicos o direito de legislar para a colônia em caráter permanente. Com a continuidade da sonegação das colônias, Townshend estabelece a Lei da Receita, que por sua vez, também será fortemente combatida, mas esta desvia o antigo foco primaz da taxação da produção em prol da defesa da colônia em detrimento do pagamento do funcionalismo e corpo burocrático do império na América. Permitiu também uma maior autonomia e participação dos colonos nas operações administrativas e fiscais como no caso do Conselho Norte-Americano de Comissários Alfandegário, diminuindo assim sensivelmente a insubordinação do colonato contra estes procedimentos, mas, não a cessando em definitivo.
            Gradualmente, os colonos retomam suas reivindicações no sentido da representatividade legal de suas assembléias, no tocante a cobrança de taxas gerando novas manifestações e boicotes, desta feita, de maiores proporções chegando ao extremo do Massacre de Boston e após tal episódio, sob novo governo – Lord North – todas as taxas foram encerradas restando “apenas a que recaía sobre o chá, ‘como um sinal de supremacia do parlamento’” (HEALE, 1991, p. 19). Mesmo esta não era devidamente paga, pois ainda assim, os colonos contrabandeavam chá de outras origens que não a britânica, o que dificultou a atuação da alfândega e da lei per se e acumulou um sem número de pilhas de chá não absorvido pela colônia. Temendo a arbitrariedade britânica após o incidente da escuna Gaspée, os radicais norte-americanos começam uma campanha de propagação do sentimento antibritânico, como no Brasil tivemos o antilusitanismo no período regencial. Faço a analogia mais uma vez, pois, existem algumas como: 1) as intenções de evitar as arbitrariedades políticas por parte das respectivas metrópoles, 2) a predileção por altos cargos burocráticos aos não natos na terra colonizada por parte dos colonizadores et cetera.
            Para resolver o problema do chá, a medida fora a simples redução das taxas de alfândega para resultar em um preço final mais acessível e desestimular o contrabando do mesmo. Em adição a isto, permitiu-se, por parte dos britânicos, que os colonos americanos realizassem seu pleito antigo de ter sua representatividade garantida com o direito de “nomear seus próprios representantes para vender o chá nas colônias”, (HEALE, 1991, p. 20) mas, ainda assim, houve forte oposição local. Naturalmente, tal oposição fora movida pelas forças centrífugas[5] que, visando seus interesses, motivaram o movimento de rebelião que tomou conta da Filadélfia, Nova York, Boston (Boston Tea Party) e Charleston por exemplo. Temeroso por seu cargo, North então irá aplicar medidas coercitivas e exemplificadoras usando Boston como foco por ser o ponto de emanação das desordens (Coercitive Acts e Intolerable Acts, e também Quebec Act fora dos limites de Boston), e mais uma analogia com a América Latina, a lei contra ajuntamentos no Brasil Império, muito parecida com o impedimento de “reuniões públicas nas cidades” (HEALE, 1991, p. 21) citada por Heale.
            Tais medidas ao invés de surtirem um efeito organizador como esperado em Quebec, por exemplo, faz justamente o contrário. Deflagra-se uma resistência sem precedentes, levando à união global de todos os segmentos da sociedade  norte-americana: “Assembléias coloniais, reuniões públicas nas cidades e nos condados, jornais, clérigos e outros homens influentes denunciavam os atos do governo britânico” (HEALE, 1991, p. 21). Diante de tal impasse, a saída apenas parecia possível diante do diálogo aberto e democrático, o que foi feito em 1774 no congresso com representantes das doze colônias e, obviamente, representantes da metrópole. Exposto por parte dos norte-americanos o desejo de ampliação de seus direitos e acesso à própria administração, fica claro para os britânicos que não poderiam “ceder quanto à questão da autoridade soberana do Parlamento” (HEALE, 1991, p. 22), pois, se assim o fosse, fatalmente perderiam o controle das ações políticas e administrativas das colônias, e assim sendo, ambos os lados prepararam-se para o embate que parecia inevitável.
Já no capítulo três, partindo de “A perspectiva norte-americana”, o autor afirma que o que causou em definitivo os conflitos foi a persistente tentativa dos “ministérios britânicos em promover a administração do Império” (HEALE, 1991, p. 23). Contudo Heale vai neste início de capítulo enfatizar a tolerância britânica diante dos impasses políticos, econômicos e administrativos encarados nas colônias e a contingência hermenêutica de suas práticas e atitudes diante destes impasses em relação à interpretação dos americanos. Digo contingência hermenêutica pois, cada um tinha – como ainda o é hoje em relação a interpretação jurídica das leis estabelecidas – uma forma de ler e interpretar a Constituição. Assim sendo, o autor se debruçará, de novo, num exercício de alteridade propondo as leituras controversas que cada lado acabou fazendo das disposições legais da Constituição, e da certeza de cada uma das partes envolvidas, da legitimidade de sua interpretação. Estas visões assim se dispunham: 1) os britânicos de que faziam o melhor para protegê-los dos índios e vice-versa e garantir-lhes os direitos de súditos do rei de acordo com a Constituição vigente; e os americanos de que todos os magistrados eram corruptos e aptos a privar-lhes de sua liberdade constitucional. Desta forma, Heale faz ainda uma abordagem filológica da terminologia “liberdade”, no contexto histórico das animosidades, que seria a leitura americana para esta palavra, e, portanto, poder decidir administrativa, política e economicamente, seguramente fazia parte deste bojo, que por sua vez, era negado aos norte-americanos em sua ótica[6]. Baseado nesta contextualização, o autor propõe que criam os americanos que “se os colonos se submetessem às exigências absolutas do Parlamento (...) tornar-se-iam dependentes, ‘não na condição de homens livres, mas na de escravos’” (HEALE, 1991, p. 24).
Neste ponto, o conceito aproximado – forças centrífugas – que utilizo desde o princípio desta resenha toma corpo quando o autor revela um processo interno de hierarquização nas elites sociais das colônias que, com uma maior identificação com a terra de seu nascimento, –  a colônia – se propunham líderes naturais destas terras em questão, no caso, as suas respectivas colônias. Mais claro ainda fica na passagem: “Estes ricos fazendeiros, proprietários de terras e grandes negociantes não eram aristocratas, no sentido britânico, mas constituíam uma classe de fidalgos que exercia considerável influência social e política” (HEALE, 1991, p. 25). Esta elite manobra os autos da Constituição excluindo o que lhe era exógeno e pouco interessante e realçando os seus próprios interesses usando a própria Constituição como base e assim, usando-a para também limitar os poderes da representação régia em terras americanas. Detendo-se às questões da liberdade como ideal e escravidão como monstro a se evitar a todo custo, fundando se nos parâmetros da escravidão negra como exemplificadora da possibilidade da perda de liberdade, a vertente mais libertária da Constituição inglesa vai aparecer nos discursos desta elite política e intelectual que buscou sempre “exercer influência nas instituições políticas que se haviam estabelecido em cada colônia” (HEALE, 1991, p. 26). Com este discurso idealizado e difundido, as assembléias começam a angariar poder e influência política para aumentar sua autonomia, que era seu principal interesse, sempre seguindo o modelo e o formato organizacional da tradição parlamentar inglesa.
Um dado interessante apresentado pelo autor é o fato de que os colonos invocavam a origem inglesa como forma de reforçar suas reivindicações e aproximar os tratamentos legados a eles a partir desta evocação hereditária e consuetudinária do direito inglês estendido aos seus descendentes, os norte-americanos. Tal fato constitui para o autor um paradoxo, ou seja, o uso da “afirmação dos direitos de ingleses natos” (HEALE, 1991, p. 27). Também consta como curiosidade, como os norte-americanos esperavam “beneficiar-se das vitórias dos parlamentaristas e dos Whigs” (HEALE, 1991, p. 27), por uma questão de proximidade ideológica libertária e coincidiam seus pontos com as denúncias dos radicais John Trenchhard e Thomas Gordon no sentido de acusar os representantes do rei corruptos e causadores sensação da falta de liberdade iminente. Também, a partir destas denúncias de caráter panfletário das cartas dos radicais, boa parte das suspeitas, outrora infundadas dos norte-americanos, foram confirmadas. Corrupção, clientelismo, diminuição das liberdades dos populares e dos políticos (Câmara dos Comuns), são alguns pontos apontados que incentivaram os “colonos norte-americanos de proteger seus próprios privilégios” (HEALE, 1991, p. 27) e ainda a acreditar que eram os herdeiros do antigo direito constituído dos ingleses.  E foi exatamente esta visão radical acerca da política britânica que serviu como leitura americana das ações da metrópole que o autor chamou de “intenção sinistra” (HEALE, 1991, p. 29). Naturalmente, propõe ele, que esta descrição “sinistra” das atitudes da Grã-Bretanha, se refira a cada passo dado pelos britânicos no sentido de resolver o impasse entre a metrópole e sua colônia. Todavia, também, serve como justificativa para a manutenção da resistência das colônias e, sobretudo, como ardil álibi para inquietação das massas e não somente da aristocracia local, pois suas atitudes afetavam os interesses, atos e crenças dos homens e mulheres comuns.
O autor propõe ainda, dentro desta temática e perspectiva que, o que motivou definitivamente as reações nas colônias, foi o fato das ameaças e perdas econômicas parecerem inevitáveis para as elites locais “que se tornaram mais sensíveis quanto a seus direitos e liberdades constitucionais” (HEALE, 1991, p. 29), mas, ele tem o cuidado de esclarecer que não está reduzindo toda a causa das tensões, rebeliões, guerras e resistências ao fator econômico, mas, que este serviu de elemento aglutinador das idéias no tocante ao seu locus dentro da política imperial inglesa.
Assim, o autor retoma o momento após a Guerra dos Sete Anos, que ele aponta como momento inoportuno para a taxação em virtude da situação deficitária em que se encontravam os grandes comerciantes norte-americanos. A recessão econômica se abatera sobre os comerciantes que acuados financeiramente, sem êxodo para seus produtos, ainda tiveram que encarar a Lei do Selo. Como agravantes, a dependência norte-americana do crédito britânico, aponta para a fragilidade do poder decisório dos primeiros sobre sua economia e, consequentemente, das flutuações dos mercados externo e interno que ditava as regras de sua acumulação de riqueza. Por isto, a insatisfação com a centralização do poder nas mãos de um parlamento constituído por britânicos e não por pares norte-americanos. Diante de todo este quadro, as massas começam a aproximar-se dos ideais das elites por estarem “convencidos de que sua liberdade também estava ameaçada”  (HEALE, 1991, p. 31), levando alguns destes representantes das categorias mais humildes desta sociedade, a localizada na região norte-americana, a “posições de liderança [e] ideologia política popular própria ” (HEALE, 1991, p. 31).  Com as classes mais humildes neste movimento de resistência, o igualitarismo reforçou-se como uma palavra-chave pois, qualquer forma de hierarquização era vista como ameaçadora.
Heale vê ainda uma forte motivação econômica nas classes mais humildes da América do Norte. Segundo ele, em virtude da recessão econômica muitos oriundos das classes humildes perderam seus pequenos negócios e atividades mantenedoras, sendo alvo fácil para toda e qualquer oferta de atividade que lhes auxiliasse em sua sobrevivência. No caso dos pequenos comerciantes e artesãos arruinados, se viram muito bem aproveitados nas manufaturas locais e assim, apoiar os boicotes aos produtos ingleses e o combate a Lei do Selo, era uma questão central de sua própria sobrevivência e garantia de alguma atividade mantenedora. Como evitar a pobreza vindoura e a possível escravidão imposta pelos britânicos era a tônica dos apelos das elites locais, que por sua vez passou a incorporar, também, os discursos das massas; a questão econômica aparece como conditio sine qua non para alarmar de vez e mobilizar toda a população da colônia britânica na América do Norte. Naturalmente, o autor neste ponto faz mais uma ponderação quanto às dimensões e alcances da participação popular no movimento que, somente após algum tempo relativamente espaçado, aderiram ao movimento que possibilitou a Guerra de Independência. Aderiram mais pela “causa patriótica [e] pela convincente defesa que dela faziam seus superiores” (HEALE, 1991, p. 33), do que pela causa econômica em si.
 Heale ainda faz uma projeção de outros detalhes e particularidades deste movimento de resistência dentro das massas, tratando de expor aproveitadores de plantão (senhores locais) que receberam benefícios para favorecerem a metrópole, ou ainda, da influência religiosa que impulsiona lavradores e pequenos produtores a resistirem a toda forma de hierarquização eclesiástica primando pelo igualitarismo protestante (HEALE, 1991, p. 33). Diante da onda crescente do antibritanismo, aqueles que ainda não haviam se decidido ou optado por apoiar o movimento por razões econômicas ou patrióticas, resolveu por precaução aderir, pois, cada vez mais, ficava evidente quem sairia vencedor deste embate. Por fim, o autor conclui que o que de fato uniu elite e povo na colônia “foi o fato de concordarem que a política britânica, qualquer que fosse seu resultado, além disso, constituía uma ameaça às liberdades norte-americanas” (HEALE, 1991, p. 34). O fato de a metrópole tentar arrecadar algo para a defesa da colônia e obter um maior controle administrativo da América do Norte constituiu-se como atestado de extorsão de suas liberdades, e o fator agravante da presença marcante da escravidão negra povoou aterradoramente as mentalidades da época, fundindo/aproximando escravidão política com escravidão humana. E o exemplo mais próximo da realidade da escravidão humana que eles puderam imaginar – a escravidão negra –, era, por sua vez, muito cruel e temerosa neste contexto, por isto, partindo deste exemplo, faz sentido que a proteção à liberdade americana tenha se tornado um elemento aglutinador e motivador de grande parte de suas lutas. Assim, a escravidão negra serviu silenciosamente como item constitutivo e inconsciente do processo revolucionário norte-americano e, sobretudo, de objeto de exemplificação do que seria o terror da perda dos direitos básicos da vida humana...



[1] Fazendo aqui uma analogia à dissertação proposta e submetida por Von Martius à RIHGB para a descrição e escrita da história do Brasil.
[2] Aqui considerados do ponto de vista de sua ocupação geográfica.
[3] Espécie de “pacto colonial”, para uma analogia no caso Brasil e Portugal, ou Asientos no caso Espanha e América espanhola, que rezava pela exclusividade de comércio com as suas respectivas metrópoles.
[4] Basicamente entendo aqui como uma aproximação conceitual dos poderes locais das colônias propostos pela autora Cláudia Wasserman. Para maiores informações acerca desta discussão ver WASSERMAN, Cláudia (Org.) História da América Latina: Cinco Séculos. 2ª edição, Porto Alegre, Editora da Universidade/UFRGS, 2000. pp. 118-143, 177-214.

[5] Aqui expomos como forças centrífugas, mercadores, negociantes e investidores em diversos segmentos do comércio e política locais que se sentiram prejudicados com esta medida de redução das taxas, pois, se beneficiavam enormemente do contrabando estabelecido.
[6] Quanto à política governamental que precede o ano de 1763.

Bibliografia

HEALE, M. J. A revolução norte-americana. São Paulo: Ática, 1991, pp. 5-36.
WASSERMAN, Cláudia (Org.) História da América Latina: Cinco Séculos. 2ª edição, Porto Alegre, Editora da Universidade/UFRGS, 2000. pp. 118-143, 177-214.